Se alguém acreditou que havia uma trégua em seu confronto com o Governo da Espanha, o presidente argentino, Javier Milei, se ocupou de desmentir. O mandatário espanhol, Pedro Sánchez, é “um incompetente, um mentiroso e um covarde”, disse Milei em uma entrevista televisiva. Sobre a carta da Embaixada argentina em Madrid que consignou que sua visita de uma semana atrás à Espanha teve caráter “privado”, o que alimenta os questionamentos contra ele pelo uso de fundos estatais para financiar viagens sem interesse público, Milei se justificou: “O que tento fazer é encaixar atividades, para economizar recursos”, argumentou, em alusão à sua participação na cúpula do partido ultra Vox e à reunião com empresários espanhóis.

As declarações do presidente ultradireitista na noite de quinta-feira aprofundaram o confronto iniciado no último fim de semana, quando Milei chamou de “calhorda” o presidente do Governo espanhol e “corrupta” sua esposa, Begoña Gómez. A Espanha exigiu um pedido de desculpas que nunca chegou e abriu uma crise diplomática sem precedentes, que deixou o país europeu com a embaixada em Buenos Aires descabeçada.

O novo capítulo da controvérsia ocorreu em uma entrevista que Milei concedeu ao canal televisivo conservador La Nación+. Consultado sobre Pedro Sánchez, Milei o chamou de “um incompetente, um mentiroso, um covarde que mandou seus ministros me agredirem, nem teve a coragem de fazer isso”. Também disse que “interferiu na política argentina desempenhando um papel na campanha eleitoral”, em referência ao apoio do espanhol a Sergio Massa, o candidato peronista derrotado nas eleições do ano passado.

Mais tarde, o presidente argentino acrescentou: “Sánchez covardemente enviou mulheres para me agredirem, para enquadrá-lo em um tema de misoginia e, como não deu certo, ele e (José Luis Rodríguez) Zapatero me agrediram diretamente. Ele me agrediu de todas as formas possíveis, e quando respondi de forma abstrata, ele se sentiu aludido e usou o aparato do Estado para me responder, prejudicando uma relação bonita entre os povos da Espanha e da Argentina”. Para Milei, o presidente espanhol “hoje é o hazmerreír da Europa em matéria diplomática”.

Críticas da oposição

As explicações oficiais não foram suficientes para a oposição, que demandou o presidente argentino nos tribunais. “Apresentamos denúncia contra o presidente Milei e Francisco Sanchez (secretário de Culto) para que sejam investigados por peculato e defraudação ao Estado”, informou na sexta-feira o deputado radical Fernando Carbajal, signatário da acusação juntamente com seus colegas Pedro Galimberti e Manuel Aguirre.

“O presidente viajou para a Espanha por questões estritamente pessoais. Participou de uma atividade partidária e foi apresentar um livro de sua aparente autoria. O caráter privado da viagem resulta da natureza de ambos os eventos, nenhum dos quais tem qualquer relação com a gestão dos interesses nacionais. Mas também é legalmente referendado pelo próprio Estado argentino, que, por meio de seu embaixador, assim informou oficialmente o Reino da Espanha, conforme foi recentemente publicado pelo jornal El País da Espanha”, diz a acusação.

Os principais meios de comunicação da Argentina citaram a carta diplomática na qual foi avisado do caráter “privado” da visita de Milei a Madrid. A comunicação incomoda o Governo argentino pelo debate gerado em torno de quem deve arcar com os custos de uma viagem centrada na promoção da figura do líder ultradireitista. O Executivo ainda não oficializou o custo da viagem, mas segundo o jornal La Nación, apenas o uso do avião presidencial rondou os 200.000 dólares.

Milei chegou ao poder com a promessa de reduzir os gastos da política e eliminar os privilégios da casta, mas os meios de comunicação questionam se não começa a se assemelhar àqueles que criticava durante a campanha eleitoral. “Não, não somos kirchneristas”, respondeu na semana passada o porta-voz presidencial, Manuel Adorni, quando um jornalista comparou sua atuação com a que tinha o Governo anterior.

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