O escândalo dos cinco milhões de quilos de alimentos não entregues obriga o Governo de Milei a retificar.

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Em sua quarta viagem aos Estados Unidos em seis meses, o presidente argentino se reuniu esta semana com os líderes das empresas de Silicon Valley para fomentar a criação de um polo de inovação tecnológica no país sul-americano. Desde lá, recebeu uma notícia que esperava há semanas: o novo chefe de Gabinete, Guillermo Francos, logrou que o projeto de lei de desguace do Estado desse um passo adiante e ficasse pronto para ser submetido à votação do Senado argentino em junho. Mas também soube que o escândalo pela recusa do governo em distribuir mais de cinco milhões de quilos de alimentos armazenados em depósitos estatais tinha crescido até atingir uma de suas ministras estrela, Sandra Pettovello, titular da pasta de Capital Humano.

Pettovello deu marcha atrás na quinta-feira na posição inicial do governo e anunciou que implementará um protocolo “para a entrega imediata dos alimentos de próximo vencimento” por meio do Exército argentino. Além disso, demitiu um alto cargo e abriu uma investigação interna por mau desempenho. As decisões mostram uma mudança de discurso: nos dias anteriores, o governo afirmou que esses alimentos comprados pela gestão anterior estavam guardados “para futuras catástrofes”, questionou sua qualidade e apelou da decisão de um juiz que obrigava sua distribuição.

Entre os alimentos retidos, há quase 340.000 quilos de leite em pó que vencem no final do próximo mês, segundo o dirigente social Juan Grabois, autor da denúncia que resultou na intimação judicial ao governo para apresentar um plano urgente de distribuição dos alimentos. A lista inclui também óleo, farinha e erva-mate. “Distribuam a comida, canalhas”, disparou Grabois através de suas redes sociais.

A polêmica atingiu o governo em uma área sensível, a assistência à população mais vulnerável em um país onde uma em cada duas pessoas é pobre. Argentina arrasta há anos uma emergência alimentar que se agravou desde a chegada do presidente ao poder. Os lares com renda insuficiente para comprar alimentos se multiplicaram e pelo menos cinco milhões de pessoas, na maioria crianças, dependem de ajuda para não passar fome. Um indicador claro da magnitude da crise é a queda de quase 20% no consumo de leite, um bem básico que na Argentina é vendido a preços europeus.

As autoridades acabaram de aumentar a quantia mensal que as famílias mais pobres receberão para comprar alimentos – até um máximo de 108.000 pesos (cerca de cem dólares) para aquelas com três filhos ou mais – mas se recusam a distribuir sacolas de alimentos para os refeitórios gratuitos que funcionam nos bairros pobres da Argentina. O argumento oficial é que foram detectadas irregularidades no sistema de distribuição administrado pelas organizações sociais, às quais acusam de ser “gerentes da pobreza”. Várias dessas organizações fizeram parte do governo anterior liderado pelo peronista Alberto Fernández.

Em sua resolução, o juiz Sebastián Casanello destacou que as supostas vítimas não são os que administram os refeitórios, mas as pessoas que “fazem parte dos grupos socialmente vulneráveis” e vão até eles em busca de uma refeição. “Os refeitórios, em todo caso, são parte de uma rede de contenção, são um meio, não um fim em si mesmos”, enfatizou Casanello.

Alex Barsa

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