Como introdução a uma nova visita a Madrid, e enquanto o recente conflito diplomático entre a Argentina e Espanha ainda não está apaziguado, o Presidente Javier Milei retomou seus ataques ao governo de Pedro Sánchez nesta segunda-feira, aproveitando para criticar jornalistas locais. Para transmitir essa mensagem dupla, ele expressou solidariedade a um comunicador ultraconservador espanhol que trabalha como chefe de imprensa de Alvise Pérez, presidente da associação Se Acabó La Fiesta e recém-eleito para o Parlamento Europeu.

“Quero expressar minha solidariedade ao jornalista espanhol Vito Quiles, que está sendo perseguido pelo governo de Pedro Sánchez depois de reportar que um de seus ministros usou um carro oficial para ir a um show de Taylor Swift”, declarou Milei em suas redes sociais. O presidente de extrema-direita então criticou jornalistas argentinos dizendo: “Se um funcionário do nosso governo tentasse prender um jornalista por dar uma notícia, toda a elite local, de Tenembaum e Longobardi a Novaresio e Lanata, estaria chorando ditadura. Mas como é um governo de esquerda, todos fazem de conta que não veem. No final, são todos cúmplices do socialismo autoritário”.

O tweet de Milei fez referência ao ministro dos Transportes espanhol, Óscar Puente, que havia sugerido um possível consumo de substâncias pelo mandatário ultra antes do recente conflito diplomático entre a Argentina e a Espanha. O comunicador mencionado por Milei foi candidato da Se Acabó la Fiesta nas últimas eleições europeias e é chefe de imprensa de seu líder.

Posteriormente, Milei voltou a atacar Sánchez. Na rede X (anteriormente Twitter), ele replicou declarações do presidente espanhol sobre a proposta de trazer para a Espanha a lei votada pelo Parlamento Europeu para proteger o pluralismo e a independência dos meios de comunicação. “E aí, boluprogres, têm algo a dizer sobre isso ou acham que está tudo bem só porque é um esquerdista?”, comentou Milei, que considera “comunismo” ou “autoritarismo” qualquer regulação que limite o mercado.

As declarações de Milei foram reforçadas pelo subsecretário de Imprensa de sua presidência, Javier Lanari. “O governo de Pedro Sánchez ameaça e persegue jornalistas enquanto propõe anistias para terroristas. Também propõe uma lei para intervir em meios digitais. O socialismo é um atentado à liberdade de expressão”, afirmou o funcionário.

A suposta defesa da independência jornalística feita por Milei incluiu um ataque a jornalistas locais que o criticaram. Nos seus primeiros seis meses no poder, completados em 10 de junho, Milei “atacou mais de 20 jornalistas e personalidades culturais. Ou seja, pelo menos um ataque a cada 10 dias”, detalhou um relatório da Amnistia Internacional. Além dos ataques pessoais, o governo de extrema-direita também apresentou queixas-crime contra jornalistas que questionaram suas medidas.

As novas declarações de Milei aumentam a tensão na relação entre os governos da Argentina e Espanha. Após as acusações e ataques de Milei a Sánchez e sua esposa, Begoña Gómez, em maio passado, o governo espanhol acabou retirando sua embaixadora em Buenos Aires. Agora, o presidente argentino planeja retornar a Madrid nesta sexta-feira. Será, assim como em sua última passagem pela Espanha, quando participou de um encontro do partido Vox, uma visita não oficial: desta vez, para ser homenageado pelo Instituto Juan de Mariana “por sua defesa das ideias de liberdade”.

“Desconhecemos a agenda do presidente argentino, mas se a viagem se concretizar, esperamos que durante suas declarações ele mantenha respeito pelo povo espanhol e suas instituições”, disse horas mais tarde a porta-voz do governo, Pilar Alegría, na coletiva após o Conselho de Ministros. As viagens de Milei ao redor do mundo com fundos públicos para cumprir compromissos privados foram amplamente criticadas pela oposição e até renderam denúncias ao presidente por desvio de recursos.