Atentado à AMIA: uma trama de corrupção, opacidade, incompetência e cumplicidade

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Há trinta anos, a rua Pasteur continua emocionante. O que estava, já não está, mas ainda está lá, junto com a lembrança do pior atentado contra a comunidade judaica registrado no mundo. O mais horrível desde a Segunda Guerra Mundial. Mas reduzir isso a um ataque “contra os judeus” seria um erro. Foi um ataque contra a Argentina e, hoje fica claro, contra o Ocidente.

85 mortos e dezenas de feridos foram o saldo de sangue, mas o atentado também refletiu as fraquezas do Estado argentino, cujas fronteiras eram um buraco, mesmo vindo de sofrer o atentado à embaixada de Israel, apenas dois anos antes. E refletiu a corrupção das forças de segurança, a obscuridade dos serviços de inteligência, o amadorismo – no mínimo – do Poder Judiciário e as cúmplices – no mínimo, também – do poder político, Presidente da Nação incluído.

Hoje, a trama do atentado contra a sede da AMIA (Associação Mutual Israelita Argentina) ainda está sendo escrita, como destacou o jornalista Javier Sinay em um ensaio extraordinário publicado na revista The Jewish Quarterly e ampliado no livro Depois das 09:53. A investigação judicial continua aberta, os familiares das vítimas ainda lutam com um Estado que boicotou a busca pela verdade e os acusados continuam livres e seus principais responsáveis, impunes.

“O atentado contra a AMIA tem muitas facetas, e a judicial é a menos brilhante de todas”, afirma o fiscal federal Sebastián Basso. Ele está há seis anos lidando com a investigação, que primeiro precisou ser revisada, depois sistematizada e, em seguida, dar sentido, antes de definir como avançar. Não foi fácil.

São 490.000 páginas, além de áudios e vídeos, divididos em processos, arquivos e pastas, que começaram a ser redigidos em máquinas de escrever, em tempos analógicos de telefones celulares escassos, sem câmeras de vigilância e internet incipiente, mas com muitos interesses cruzados e versões de todos os tipos.

Hoje, a Justiça mantém o pedido de prisão internacional contra 11 suspeitos; nove deles têm alertas vermelhos da Interpol. Em outras palavras, se tentarem sair dos três países para onde se refugiaram (Irã, Líbano e Brasil), serão presos e poderão ser extraditados para a Argentina.

No entanto, o Estado argentino não reverteu muitas das deficiências que sofria há três décadas. As fronteiras, por exemplo, continuam sendo um buraco, a ponto da Justiça não descartar que Loan Peña, uma criança de cinco anos desaparecida em 13 de junho na província de Corrientes, esteja hoje em um país vizinho.

Nesse contexto de frustração e impunidade, os políticos oferecem paliativos para amenizar a dor ou conter a perplexidade nos atos comemorativos. Por um lado, o Governo de Javier Milei anunciou outra reconfiguração dos serviços de inteligência e impulsionou um projeto para estabelecer julgamentos à revelia; por outro lado, o Congresso aprovou uma lei que estabelece que todo dia 18 de julho seja um dia de luto nacional. Agora, podemos dormir tranquilos.

Para a Suprema Corte, a investigação sobre o atentado à AMIA é “a mais complexa da história judicial argentina”, algo que o promotor Basso reavalia com uma visão mais ampla. “O caso AMIA atravessa a história dos últimos trinta anos do país”, diz ele. “Quando você começa a investigar, todos têm mais manchas que o tigre.”

Alex Barsa

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