O centro das reformas que estão sendo implementadas na Argentina está focado na desregulamentação da economia e no desmantelamento do Estado. Ao mesmo tempo, o governo também está promovendo transformações profundas em outras áreas da vida social, que não recebem tanta atenção. Um exemplo dessas mudanças foi a visita inédita que deputados do partido La Libertad Avanza fizeram a repressores presos por crimes contra a humanidade durante a ditadura militar. Essa visita, que ocorreu em 11 de julho na prisão de Ezeiza, nos arredores de Buenos Aires, faz parte de um conjunto de medidas e discursos dos líderes do governo que, segundo defensores dos direitos humanos, negam o terrorismo de Estado, enaltecem as forças armadas e minimizam as políticas de memória, verdade e justiça.
Dois dias depois de participarem de um desfile militar, onde foram vistos em cima de um tanque de guerra, os deputados “libertários” foram até a prisão de Ezeiza. A visita gerou críticas e pedidos de sanções, tanto de organizações de direitos humanos quanto de líderes da oposição. O governo, embora não tenha condenado a visita, alegou que foi uma decisão pessoal de cada deputado. No entanto, a Justiça Federal solicitou explicações sobre o procedimento administrativo por trás da visita dos deputados à prisão.
Essa visita provocou uma onda de repúdio e pedidos de sanciones. Defensores dos direitos humanos destacam a gravidade institucional do encontro dos deputados com os repressores, ressaltando que são representantes do Congresso Nacional e que se reuniram com pessoas envolvidas em golpes de Estado e violações dos direitos humanos. Esses atos mostram a intenção do governo atual de desmantelar as políticas públicas de memória, verdade e justiça, além de minar os consensos políticos e sociais construídos em torno da experiência da ditadura. Esse cenário interfere na legitimação de intervenções autoritárias no presente.
As políticas de direitos humanos estão entre as áreas mais afetadas pelo encolhimento do Estado promovido pelo atual governo. Setores como violência institucional e reparação para vítimas do terrorismo estatal estão paralisados. Além disso, os sites de memória, que denunciam os crimes da ditadura, estão sofrendo cortes de verbas, demissões e suspensões de obras. A Comissão Nacional por el Derecho a la Identidad também está sendo afetada, dificultando a busca pelos netos desaparecidos durante a ditadura. Ainda existem cerca de 300 filhos de desaparecidos na Argentina que desconhecem sua verdadeira identidade.