A maior investimento privado da história recente da Argentina avança envolta em um impasse político entre o presidente, Javier Milei, e o governador da província de Buenos Aires, o opositor Axel Kicillof. A petrolífera nacional YPF e a malaia Petronas anunciaram nesta quarta-feira que construirão sua planta de gás liquefeito na província de Río Negro e não na de Buenos Aires, a primeira opção que tinham considerado, por ser “a localização mais vantajosa”. A decisão representa um duro golpe para Kicillof e, ao contrário, uma vitória para Milei na primeira batalha travada pelo presidente contra o seu principal rival político.
Kicillof fez de tudo para apresentar a decisão como um “capricho ideológico” de Milei, a quem acusou de “não suportar ter perdido as eleições na província” de Buenos Aires e de “punir quem não concorda com ele”. Ao contrário de Buenos Aires, as autoridades de Río Negro são afins ao líder de extrema-direita. “Mesmo que a YPF seja uma empresa de ordem privada, os diretores são funcionários de Milei e o que observamos é que tomaram decisões ditadas pelo presidente”, disse Kicillof em uma coletiva de imprensa após saber que a planta de gás liquefeito será instalada na região de Sierra Grande, em Río Negro, em vez de em Bahía Blanca, em Buenos Aires. O Estado argentino possui 51% das ações da YPF após a expropriação realizada em 2012 à empresa espanhola Repsol, sob a presidência de Cristina Fernández de Kirchner.
As empresas envolvidas optaram por se expressar através de um comunicado conjunto. Nele, garantiram que a decisão não foi tomada por afinidade política, mas após avaliar “todas as variáveis técnicas, econômicas, ambientais, geográficas, fiscais e regulatórias” oferecidas por ambos os destinos.
O projeto Argentina LNG representa um investimento próximo de 30 bilhões de dólares para a liquefação de gás destinado à exportação para os mercados internacionais. Abrange desde a produção de gás na formação de hidrocarbonetos não convencionais de Vaca Muerta, seu transporte até a planta de processamento e sua industrialização. A capacidade de produção final prevista é de 30 milhões de toneladas por ano, o que colocaria a Argentina entre os principais produtores do mundo.
“A região de Sierra Grande surge como a melhor opção devido à menor extensão dos gasodutos necessários para transportar o gás de Vaca Muerta”, foi um dos argumentos citados pela YPF e Petronas. As petrolíferas também destacaram que possui uma maior profundidade marinha, o que reduziria a necessidade de dragagem para obter a profundidade suficiente para os navios transportadores de gás e as baixas interferências deste projeto com outras atividades sociais e econômicas.
O último ponto mencionado pelas empresas foi “as condições regulatórias e fiscais necessárias para o desenvolvimento do projeto”. Este é o principal motivo de disputa entre as províncias de Río Negro e Buenos Aires nas últimas semanas, pois faz referência, sem explicitar, ao generoso Regime de Incentivos às Grandes Investimentos (RIGI) aprovado pelo Congresso argentino. Enquanto a província patagônica foi a primeira a aderir a este regime, Buenos Aires o rejeitou e tentou impulsionar um alternativo. Ao recusar abraçar o símbolo do modelo econômico libertário, Kicillof ajudou a inclinar a moeda para Río Negro. O RIGI garante à YPF e à Petronas enormes benefícios fiscais, jurídicos e cambiais por 30 anos.
A oposição atacou o governador de Buenos Aires por considerar que foi culpa dele a mudança de local do projeto. “Arruinou os habitantes de Bahía Blanca com suas decisões estúpidas”, criticou o deputado macrista Cristian Ritondo. O libertário José Luis Espert acusa Kicillof de governar a província “com viseiras ideológicas” e de “causar desastres, como perder um mega investimento ao não aderir ao RIGI”. Além da briga política, o projeto tem um grande potencial de desenvolvimento econômico para o país latino-americano.