A cada vez que Monika Andrioulo Rottmar sente o aroma do pão recém-assado, sua mente a teleporta diretamente para sua casa em Wangen im Allgäu, sul da Alemanha, perto da fronteira com Suíça e Áustria, onde vivia com seus sete irmãos e pais. Todas as semanas, a família dedicava um dia inteiro para amassar e cozinhar em um grande forno à lenha entre 15 e 20 pães para consumo próprio. “Cresci sentindo esses gostos, o sabor único do feito em casa, era algo muito bonito”, diz hoje, de Saladillo, onde tem sua própria padaria (Brotlädele) e enquanto desfruta de um feito inédito: a obtenção de uma medalha de ouro e duas de prata em uma das competições mais rigorosas de panificação no continente europeu.
O processo de avaliação do Centro de Alimentação da DLG, uma das organizações agrárias mais prestigiosas da Alemanha, é conhecido por ser exaustivo e abranger tanto aspectos técnicos como sensoriais. Os resultados das amostras enviadas por Monika foram surpreendentes: 98 pontos de 100 para o pão de sementes, 96 pontos para o de centeio e 100/100 perfeito para o Salapan, que presta homenagem à cidade que Monika fez de sua casa.
Mas além disso, esta distinção obtida na Europa também é um marco para os saladillenses: mais uma vez, a cidade de Buenos Aires se destaca no mercado europeu como uma referência em panificação artesanal, 116 anos depois da histórica conquista dos irmãos Onis, que enviaram seus biscoitos de piso de Saladillo para Milão e também receberam reconhecimento internacional.
Agora, como essa imigrante alemã, enfermeira pediátrica de profissão, chegou a se estabelecer e empreender no interior profundo da província de Buenos Aires? “Eu nunca imaginei isso para minha vida, mas a vida te reserva surpresas”, diz, com um sorriso de orelha a orelha. Monika conheceu Eber – argentino, natural de Saladillo – em Munique, enquanto trabalhava em um hospital. Eles se apaixonaram, se casaram e se mudaram para a Itália. Há 10 anos, Eber sentiu a necessidade de voltar ao país para cuidar de seu pai. Ele também tinha o projeto de abrir uma cervejaria. Monika embarcou na aventura.
Enquanto isso, quase sem intenção, ela encontrou nos pães – especialmente nas receitas alemãs – uma forma de se manter conectada às suas raízes. Ela havia começado a fazer sua própria massa mãe e a experimentar com baguetes. Ela fez um pão de centeio que saiu terrível (“parecia uma pedra”, jura) e que a frustrou a ponto de se afastar da cozinha por meio ano. Quando chegaram à Argentina, ela sentia tanta falta do pão integral, com sementes e centeio, que se envolveu completamente na cozinha para tentar uma e outra vez.
Seus amigos vinham e diziam ‘que pão gostoso, se você vendê-los, nós compraríamos’, conta sobre os primórdios de seu empreendimento.
“Me parece muito importante, desde meus inícios, me certificar de que todos os produtos sejam de boa qualidade. Por exemplo, as farinhas são integrais orgânicas, certificadas e agroecológicas”, explica. E acrescenta: “Os pães de massa mãe têm muitas vantagens, a fermentação natural reduz o conteúdo de glúten, é mais digerível e as vitaminas e minerais são melhor absorvidas no intestino. E o sabor é muito especial, mais rico, com mais aromas”.
Monika está longe de sua cidade natal (11.500 quilômetros, para ser exato), embora leve consigo o aroma da casa de sua infância, de sua cidade natal. E encontrou na Argentina um lugar – inesperado para alguns observadores externos – onde poder formar uma família (tem 4 filhos) e levar uma vida tranquila.
“Sempre vem a pergunta, por que você veio da Alemanha para cá? Eu nunca imaginei. Na Alemanha nem tudo é ouro, aqui se pode viver… sim, com crises… mas na Alemanha também há muitos problemas, bastante graves. Aqui se pode viver bem, também. Estamos felizes”, assegura.
Para Monika, “as pessoas aqui são muito calorosas e abertas”. “Também acontece algo com as crianças, que lá não são muito bem-vindas na sociedade”, comenta. “Outro ponto muito grande, e muito importante, é que as pessoas na Argentina são muito mais flexíveis. Para encontrar alguém, você pergunta se está disponível e logo estamos juntos. Lá é preciso planejar tudo com semanas de antecedência. Me acostumei muito a essa vida”, acrescenta.
Enquanto desfruta do prêmio recebido, Monika continua a assar todos os dias em sua pequena, mas frutífera padaria de Saladillo. Um dos fatores-chave no sucesso do Brotlädele é sua combinação de tradição e inovação. A sala de produção está equipada com três fornos digitais e uma câmara de fermentação com controle de umidade e temperatura, garantindo um produto homogêneo de altíssima qualidade durante todo o ano. No entanto, o coração desse processo continua sendo a massa mãe, essa técnica ancestral que Monika aplica rigorosamente.
Para ela, fazer pães é algo realmente especial. “É um produto que nasce das mãos”, diz, maravilhada. Ela desfruta de todo o processo: o amassar, a fermentação e o assar. “Fico olhando como cresce dentro do forno, enquanto a crosta se forma, é lindo”, continua. “É algo muito bonito conseguir um produto que possui esse sabor, que agrada à família, aos amigos e clientes”, acrescenta.
Monika não deixa de hornear todos os dias em sua pequena, mas frutífera padaria de Saladillo.
Enquanto desfruta de seu prêmio, Monika não deixa de assar todos os dias em sua pequena, mas frutífera padaria de Saladillo. Um dos fatores chaves para o sucesso do Brotlädele é sua combinação de tradição e inovação. A sala de produção está equipada com três fornos digitais e uma câmara de fermentação com controle de umidade e temperatura, garantindo um produto homogêneo de altíssima qualidade durante todo o ano. No entanto, o coração desse processo continua sendo a massa mãe, essa técnica ancestral que Monika aplica rigorosamente.