Encontrar um lugar para abrir um restaurante em Buenos Aires não é tarefa fácil. Para realizar a ideia, uma equipe começou a visitar várias propriedades na cidade. As visitas foram decepcionantes. Primeiro viram uma casa tradicional, mas a negociação logo foi cancelada. Depois, “um PH horrível em Villa Crespo”, lembra um gerente. Um funcionário da imobiliária disse: “Recentemente entrei em uma propriedade em Chacarita, que ainda não divulguei”.
O restaurante possui sua própria charcutaria e uma adega de embutidos. Quando entraram em uma casa de bairro que, vista de fora, não parecia muito, os planetas se alinharam. O grande achado foi quando descobriram, no fundo e coberto por uma velha trepadeira, um belíssimo pátio andaluz. Agora, este lugar é a grande joia do Abreboca, o restaurante de Chacarita que tem o espírito de uma mercearia de campo, com foco em conservas, porções frias e quentes.
Com o tempo e paciência, começaram a restaurar o pátio e a reconstruir sua história, a partir dos relatos dos moradores do bairro. A família que construiu o pátio tinha influências espanholas e italianas. Em homenagem à Espanha, criaram o pátio e colocaram alguns azulejos com frases memoráveis do Martín Fierro, que ainda hoje podem ser encontrados no restaurante.
A casa centenária preserva um mural feito pela Cattaneo e cia, a icônica fábrica de azulejos. A casa, de cerca de 100 anos, também possui um mural feito pela Cattaneo e cia, a fábrica de azulejos responsável por alguns trabalhos que ainda são vistos nas estações de metrô da cidade. Uma parede frontal de azulejos possui um padrão de flores, que escolheram para o design estético do restaurante. Também se destaca um belo vitral feito à mão, com imagens detalhadas da terra natal dos proprietários originais da casa. No pátio, a grande protagonista é a parreira que dá uvas e folhas que serão utilizadas em seus pratos.
Leonardo “El Tucu” Govetto Sosa, chef do Abreboca, passou por Don Julio, Chila, Chui e restaurantes nos Emirados Árabes e Dinamarca, entre outros países. “Este lugar foi uma grande descoberta. Apareceu quase como um milagre”, diz Leonardo “El Tucu” Govetto Sosa, chef do Abreboca. A história da casa – e suas raízes migrantes – está relacionada com os pratos do restaurante. “Repare que nas mercearias era necessário conservar os alimentos porque o fornecedor chegava, com sorte, uma vez por semana. A carne tinha que ser curada e aí começavam os processos de conservação, com técnicas que vieram da Europa”, diz o chef.
O mundo dos embutidos é o grande destaque do Abreboca. Govetto Sosa é um especialista no assunto e usa tripas naturais para produzi-los. “Tenho uma paixão muito especial pelo salame. A tripa natural é irregular, vem marcada e pode se romper. Há algo de difícil na charcutaria: você vê o resultado no final do processo. Não pode ficar modificando as coisas. Se começou mal com algo, o resultado não será bom”, diz.
No pátio, a grande protagonista é a parreira que dá uvas e folhas que começarão a ser usadas em seus pratos. O pátio andaluz e a parreira são um cenário ideal para um jantar de verão. O chef já está pensando em como usar esses cachos que em alguns meses estarão maduros. “Certamente faremos vinagre ou outra coisa. Vamos esperar até que a uva fique mais doce. Queremos que as pessoas nos conheçam e saiam da massificação e do ruído de Palermo. Aqui encontrarão um lindo pátio, uma joia escondida no meio de Chacarita”.