Se o Rio da Prata geralmente é chamado de “poça”, a cordilheira dos Andes nos inspira mais respeito. Talvez por isso, para os argentinos, Montevidéu seja considerado uma “escapada” e Santiago tenha a importância de uma “viagem” completa. Ao cruzarmos a barreira orográfica, estamos do outro lado, com tudo o que isso implica: outro sotaque, outra cultura, outra forma de ser.
Santiago do Chile é cortada por um rio, cercada por uma cordilheira e envolta pela neblina do esfumaçado, como um véu, um cristal coberto de vapor que às vezes revela, ao longe, os mesmos picos nevados que vemos do avião. Santiago do Chile é um vale, uma daquelas cidades onde a arquitetura natural e a criada pela imaginação convivem harmoniosamente entre vegetação, colinas, edifícios e shoppings. Existem três características particulares de sua identidade: a natureza dominante entre o rio Mapocho, a cordilheira dos Andes e os 26 morros da área urbana; os edifícios históricos e as ruas emblemáticas, como a Alameda, oficialmente chamada de Avenida Libertador Bernardo O’Higgins; os mais de 30 shoppings, conhecidos como “malls”, que por vezes nos lembram certas áreas de Miami. Neste artigo, propomos três passeios para descobrir Santiago do Chile a pé.
**PERCURSO 1**
Uma linha invisível vai do bairro Yungay ao bairro Lastarria, conectando dois dos prédios mais impressionantes de Santiago. Começamos o percurso no Museu da Memória e dos Direitos Humanos, fundado em 11 de janeiro de 2010, durante a presidência de Michelle Bachelet. O projeto foi concedido a uma equipe de arquitetos de São Paulo, composta por Mário Figueroa, Lucas Fehr e Carlos Dias, que conceberam o museu como “um grande volume suspenso sobre a praça, construído como um cubo de vidro que parece pairar sobre duas fontes de água”. O que esta imensa estrutura gera visualmente, por dentro e por fora, é impressionante.
Existem alguns padrões que se repetem: as ruas são limpas, os quarteirões são maiores do que os 100 metros típicos das calçadas de Buenos Aires, os carros dão preferência ao pedestre e os santiaguinos insistem para que se tenha cuidado com objetos de valor, por isso, se a área não parece movimentada e está escura, é melhor pegar um táxi, mesmo que seja por um curto trecho.
A próxima parada é a Peluquería Francesa Boulevard Lavaud, localizada em um edifício de 1900 que foi renovado e remodelado pelo engenheiro Cristian Lavaud. Hoje, o local conta com restaurante, venda de antiguidades e serviço de cabeleireiro que oferece uma experiência quase de viagem no tempo.
Depois do almoço, um passeio pelo histórico centro da cidade, duas horas para observar edifícios e passeios. A Torre Entel, construída no início dos anos 70, com 127 metros de altura, é um dos marcos da cidade. Pouco depois está o Palácio de La Moneda, também conhecido como “Palácio Presidencial” porque abrigava a cunhagem das moedas chilenas. Foi palco de acontecimentos históricos, incluindo o bombardeio ordenado por Augusto Pinochet.
Pouco adiante está o Paseo Bandera, rua colorida onde há artesanato local e cafés para fazer uma pausa e tomar um café. Mais adiante, a Plaza de Armas e, a sete quadras de distância, a Biblioteca Nacional do Chile. O edifício atual começou a ser construído em 1913 e é a quinta sede, projetada pelo arquiteto Gustavo García del Postigo. Por dentro, é possível admirar seus salões, a bela Sala José Toribio Medina e a fina arte dos vitrais, bronzes, mármores e mobília.
De lá, seguimos para o icônico Cerro Santa Lucía, local onde Pedro de Valdivia fundou Santiago em 1541. Com 69 metros de altura, é uma ótima opção para descansar e apreciar a vista da metrópole.
A próxima parada é a famosa sorveteria Emporio La Rosa, fundada em 2001 por Teresa Undurraga. Neste ponto, terminamos o primeiro percurso.
(A tradução é uma breve introdução ao texto original da Revista Lugares. Todas as informações e detalhes originais do texto foram mantidos, porém adaptados ao novo contexto.)