Chamado. É isso que falta para que o retorno de Enzo Pérez ao River se concretize. Após conquistar o Troféu dos Campeões com uma vitória por 3-0 sobre o Vélez, o volante anunciou que disputou sua última partida com a camisa do Estudiantes: a decisão foi não renovar o contrato com a instituição de La Plata.
O caminho está livre. A partir de agora, o jogador espera o contato do técnico Marcelo Gallardo para definir seu futuro, que parece estar em Núñez: embora não tenha manifestado publicamente, seu desejo é jogar mais um ano com a banda vermelha e encerrar de forma diferente sua história com o clube do coração. Mas, o que um ídolo que decide retornar próximo dos 39 anos tem a ganhar e a perder?
O momento presente de Enzo mostra uma realidade: ele está em forma física e técnica. Ao longo da temporada com o Estudiantes, ele disputou 48 jogos (43 como titular), acumulando 3741 minutos em todas as competições e conquistando dois títulos: a Copa da Liga e o Troféu dos Campeões. Este ano de 2024 foi o que mais jogou desde que se tornou profissional: no Godoy Cruz foram 32 jogos na temporada 2006/2007; no Benfica, seu recorde foram 47 jogos nas temporadas 2011/2012 e 2012/2013; no Valencia foram 30 na temporada 2015/2016; e no River foram 41 jogos em 2019. Um claro sinal de seu momento atual.
Além disso, em termos de minutos jogados, ele superou todas as suas temporadas no River e teve uma média de 78 por jogo no Estudiantes, mais do que em 2022 (76′) e 2023 (75′). Em parceria com Santiago Ascacibar, o volante se tornou peça fundamental no meio-campo, com uma companhia constante que permitiu que ele se destacasse em campo – como na final contra o Vélez – com desarmes, passes e movimentação.
Isso também deve ser considerado por Gallardo: seu jogo mudou e a estrutura do time deve protegê-lo para que não seja sobrecarregado como único volante central de um time como o River, que sempre busca impor condições, avançar as linhas e pode ficar vulnerável.
Além da análise técnica, o técnico sabe que, ao concretizar o retorno de Enzo, ganhará uma voz de comando fundamental para um vestiário que passou por muitas mudanças recentemente. Mentalidade competitiva, liderança em todos os aspectos, espírito riverplatense, apoio aos jovens e espírito vencedor… Pérez preenche todos os requisitos para ser um jogador desejado por Gallardo para trabalhar por dentro. Daí a intenção de tê-lo no elenco, mesmo que em fevereiro complete 39 anos.
Após escolher não continuar em 2023, no meio do conflito com o ex-treinador Martín Demichelis, Enzo encerrou sua passagem de seis anos e meio pelo River com 241 jogos (197 com Gallardo), seis gols e 10 títulos. Ele se despediu quase em silêncio, sem explicar os motivos de sua saída (embora dando a entender as diferenças com Demichelis), erguendo o Troféu dos Campeões e sem abrir ou fechar a porta para um possível retorno. E agora a grande incógnita é: Enzo Pérez conseguirá se reinventar e se adaptar ao exigente ano de 2025 que o River terá pela frente?
Este é o desafio que o ídolo terá. O ano de 2024 foi ruim para o River, com apenas o título da Supercopa Argentina (justamente contra o Estudiantes), que não conseguiu encobrir uma série de decepções e resultados negativos que resultaram em uma temporada atípica: mais de 35 milhões de dólares gastos em contratações, mudança de treinador no meio da competição, derrotas para o Boca na Copa da Liga e para o Atlético Mineiro na Copa Libertadores, eliminação para o Temperley na Copa Argentina, um mau desempenho na Liga Profissional e uma derrota final para o Racing que quase custou a classificação para a fase de grupos da Libertadores 2025. Essa sequência de acontecimentos gerou uma onda negativa e uma cobrança maior por parte da torcida do River.
O River precisa evoluir. Gallardo sabe que tem material – que também será reforçado no mercado – para que a equipe apresente um desempenho superior. No próximo ano, o clube terá dois objetivos claros: a Copa Libertadores e o Mundial de Clubes, sem negligenciar os torneios locais, que não conseguiu disputar até o final nesta temporada.
E talvez o setor mais carente do time seja o meio-campo, onde o volante não conseguiu se firmar: Rodrigo Villagra (22 jogos como titular), Nicolás Fonseca (17 jogos como titular) e Matías Kranevitter (17 jogos como titular) não conseguiram se destacar pela falta de regularidade. Nenhum deles se firmou como o volante central e todos oscilaram entre momentos bons e ruins. Villagra foi o escolhido nos últimos jogos e continuará no clube, mas tanto Fonseca quanto Kranevitter serão avaliados pelo treinador durante a pré-temporada e podem deixar o time.
Neste contexto, Enzo Pérez terá que se encaixar, ele que fez uma grande dupla com Rodrigo Aliendro em 2023 e poderá reeditá-la em breve. Mas o ídolo sabe que todas as atenções estarão voltadas para a sua posição e a expectativa de mudar o cenário atual só aumenta. Ele sabe que está arriscando muito. Mas tudo isso é deixado de lado pelo seu desejo de retornar, jogar mais uma temporada e tentar encerrar sua história no clube de coração com um sorriso que seja diferente das lágrimas da última despedida.