Um professor restaurou 130 bicicletas para que os meninos de uma escola rural não tenham que caminhar até 8 quilômetros para ir estudar

  • Tempo de leitura:6 minutos de leitura

Nas Tolderías, um local rural localizado em Charata, província de Chaco, as aulas já terminaram. No entanto, um grupo de quase 130 crianças que caminham vários quilômetros para chegar à escola todos os dias já estão planejando seu retorno. Eles sabem que o próximo ano será diferente e aguardam ansiosos a chegada de fevereiro, quando as aulas serão retomadas. Ainda não decidiram a que horas sairão de suas casas, a quais vizinhos visitarão ou qual caminho tomarão. Mas têm uma certeza: farão o percurso pedalando.

A 700 quilômetros dali, na cidade de Villa Carlos Paz, em Córdoba, há mais de 130 bicicletas doadas por moradores que serão entregues a esses alunos, todos da Escola Primária Zenón Mateos e do jardim de infância anexo. Esses estudantes, com idades entre 3 e 12 anos, moram longe da escola: chegam a percorrer até 8 quilômetros por estradas rurais. Não há transporte escolar ou público. Muitos fazem todo o trajeto a pé, sozinhos, já que seus pais nem sempre podem levá-los (geralmente de moto) ou acompanhá-los.

“Para nós é apenas uma bicicleta, mas para as crianças é um sonho”, diz Marcelo Filippo, professor em Carlos Paz, que foi o rosto da campanha “100 bicicletas para Chaco”, divulgada em suas redes sociais por meio de vídeos.

Marcelo já havia se tornado viral em agosto passado, quando gravou um vídeo pedindo uma bicicleta para Matías Manno, um de seus alunos do ensino médio noturno. Matías trabalha como pedreiro e, após um dia de trabalho, precisava caminhar 8 quilômetros para ir à escola. A campanha de Marcelo deu resultado: em setembro, ele conseguiu uma bicicleta para Matías.

Vendo essa história, da Escola García Ferré, também de Carlos Paz, pediram a Marcelo que convocasse os moradores a doar bicicletas que não usavam mais. Essa escola cordobesa apadrinha a Zenón Mateos, de Chaco. Assim começou essa nova empreitada solidária.

No colégio Zenón Mateos, as crianças recebem café da manhã, almoço e lanche. “Para muitos, a comida que recebem aqui é a única que têm durante o dia. Depois, à noite, talvez tomem um mate cozido com alguma rosca frita e alguns até não jantam. Por isso, é importante que possam vir à escola e ter esse reforço”, explica Liliana Torres, diretora da instituição. O colégio tem 94 alunos no ensino fundamental e 33 no ensino inicial. Geralmente, eles vivem em lares de baixa renda, localizados a uma média de 5 quilômetros da escola.

“As bicicletas serão uma ferramenta muito importante para reduzir a ausência. Os estudantes e suas famílias estão muito animados”, diz Liliana. Devido às dificuldades para chegar à escola, as crianças costumam faltar uma ou duas vezes por semana. Aqueles que moram mais perto vão a pé. “Embora seja uma área rural, as estradas para chegar lá estão em boas condições, mas os menores chegam muito cansados”, relata a diretora.

Na escola Zenón Mateos, a maioria dos alunos falta à escola pelo menos uma vez por semana devido às dificuldades de transporteEm reuniões, os professores explicam aos pais, que geralmente não completaram seus estudos, a importância de os alunos irem à escola todos os dias para não ficarem para trás nos conteúdos e evitar prejudicar sua formação. Na última reunião, anunciaram que em fevereiro o caminhão com as – até agora – 130 bicicletas chegaria de Villa Carlos Paz. Para os adultos, a notícia foi “um grande alívio”.

“Para a maioria será sua primeira bicicleta. E para os menores, já comunicamos aos pais que daremos a eles, para que possam dar aos filhos quando crescerem e puderem vir sozinhos”, esclarece Liliana. Embora inicialmente buscassem alcançar 100 bicicletas, os moradores de Córdoba continuam doando. Assim, entregarão o restante aos alunos do ensino médio, que funciona no mesmo prédio. Ao receber alunos que frequentavam escolas primárias até 25 quilômetros ao redor, os alunos do ensino médio vivem ainda mais longe.

Invista em Forex e Criptomoedas com FBS. Vá para FBS

“Esta bicicleta era da minha mãe” Ao lançar a campanha, Marcelo temia que fracassasse e decepcionasse tantas crianças que já estavam sonhando. “Sinceramente, achava que a meta que tínhamos estabelecido era uma utopia”. Por isso, ele ficou extremamente feliz quando, nas primeiras 24 horas, receberam 24 bicicletas: “É uma obra de coração. Cada bicicleta que recebemos é mais um coração que se junta à causa”.

Apesar de Marcelo ser o rosto visível, também estão por trás do projeto Leticia López, diretora do Instituto García Ferré; Pablo Oitana, que edita o conteúdo publicado nas redes sociais; e Roberto Pérez, natural de Chaco, que facilita a conexão entre as duas instituições. Além disso, Hernán Baima, um caminhoneiro de Santa Fé, se ofereceu para levar as doações até Chaco. Marcelo publicou o primeiro vídeo em 21 de novembro e, em 18 de dezembro, alcançaram a bicicleta número 100. Até o momento, já são 130 e contando.

“Temos tantas que ainda precisamos buscar algumas”, conta Marcelo. Contrataram um frete duas vezes que, no total, recolheu cerca de 30 bicicletas. Pagaram entre os quatro. “Nos últimos dias ficamos sem recursos e tivemos que esperar para receber e sair com nossos próprios carros para buscar as bicicletas. É um esforço considerável, pois entram umas duas bicicletas de cada vez”, explica Marcelo, que tem bicicletas agendadas para retirada durante todo janeiro.

Cada vez que recebem uma nova bicicleta, garantem que ela esteja em condições excelentes, a rotulam com o nome da pessoa que a doou e a guardam em duas salas de aula na escola de Villa Carlos Paz. Marcelo e sua equipe receberam doações “desde a área mais cara até o bairro mais humilde”. O que mais o emocionou foram as histórias das pessoas por trás de cada bicicleta: “Eu ia a pé para a escola e sei o que é, por isso quero ajudar” ou “Esta bicicleta era da minha mãe, que era professora e faleceu recentemente”. Essas são algumas frases que ficaram gravadas e o emocionaram.

Quando viu as imagens das bicicletas arrecadadas pela primeira vez, Liliana chorou ao pensar “na felicidade de suas crianças”. Ao contrário de Marcelo, ela acreditava que alcançariam a meta que haviam estabelecido. E é que em sua experiência como diretora de uma escola rural, a comunidade está sempre disposta a ajudar: “As pessoas se mobilizam muito quando pensam no direito à educação das crianças. Há um consenso de que devemos apostar na educação, pois é o único sustento de uma cidade. E é isso que motiva as pessoas a ajudar uma escola”.

Alex Barsa

Apaixonado por tecnologia, inovações e viagens. Compartilho minhas experiências, dicas e roteiros para ajudar na sua viagem. Junte-se a mim e prepare-se para se encantar com paisagens deslumbrantes, cultura vibrante e culinária deliciosa!