Corre e celebra como um torcedor, mas é o técnico, o condutor. Sanguíneo e passional, desfruta de um momento que será eterno, pelo qual esperou durante anos enquanto percorria as ligas peruanas, paraguaia ou a seleção da Bolívia. Seu rosto se desfigura de emoção, de alegria. Tem motivos para tanta demonstração de felicidade. Construiu uma equipe, uma verdadeira equipe, na qual cada peça é valorizada para seu plano, aquele que alguma vez foi ajustado e aprimorado por alguma derrota. Gustavo Costas é o homem que desfruta de seu momento, o momento do Racing. A Academia se reinventou em questão de meses em uma estrutura competitiva, internacional: quebrou um jejum de 36 anos sem títulos nos torneios da Conmebol e agora conquistou duas estrelas, entre novembro e fevereiro. Primeiro, com a conquista da Copa Sul-Americana e na terça com a Recopa Sul-Americana, humilhando o Botafogo com uma vitória global de 4 a 0.
Passional, Gustavo Costas comemora a conquista da Recopa Sul-Americana com os torcedores do Racing; o técnico campeão teve o melhor presente em seu aniversário 62. “Nos reconhecem mais fora do que dentro de nós. Os garotos mereciam isso. Esses jogos foram vencidos pelo grupo. Nas adversidades também tive que falar isso. Jogaram como uma final, porque eu não queria sair campeão perdendo por 1 a 0. Para sermos verdadeiros campeões, tínhamos que ganhar as duas finais e os garotos me mostraram isso”, afirmou Costas na coletiva de imprensa. “Eles dominaram nos últimos minutos do primeiro tempo, mas nós já tínhamos tornado o goleiro do Botafogo em figura. No segundo tempo, a equipe mostrou sua busca: sabíamos como atacá-los, como defender… Eu disse aos garotos e a vocês: esta equipe, estes jogadores, são para se tirar o chapéu. É um grupo humilde, unido e determinado. Pela camisa e pelo futebol, este grupo se lança de cabeça”, acrescentou o técnico que não se detém nessas duas consagrações e antecipou que quer mais.
Gustavo Costas, campeão como jogador do Racing na Supercopa em 1988, agora conquistou duas estrelas internacionais com a Academia como treinador: a Copa Sul-Americana e a Recopa Sul-Americana. Jogar finais internacionais se tornou um objetivo e Costas destaca isso nas conversas com o grupo e não para de repetir nas entrevistas. “A Libertadores é o grande sonho da minha vida. Mas temos mais uma final e precisamos vencê-la de qualquer jeito e depois sonharemos com a Libertadores”, disse Costas, que misturou esse objetivo que se tornou uma obsessão para os clubes argentinos com o clássico contra o Independiente, que será jogado em meados de março no campo do Rojo. “E temos que ir em busca disso. Uma coisa é falar e outra é depois demonstrar que você quer vencer: nós demonstramos. Se queremos levar o Racing ao topo, temos que ir pela Libertadores. Ganhamos duas copas internacionais, importantes, mas elevamos a régua e precisamos de mais. E mais é a Libertadores”, repetiu, assim como fazia com a Recopa sempre que era questionado sobre as prioridades da Academia.
Essa mensagem, essa repetição, foi também para os jogadores: “Nós incutimos o que é o Racing e às vezes exagero. As partidas que perdemos no torneio argentino foram culpa minha, porque dizia que tínhamos que vencer a Recopa. Era uma doença, os deixava loucos e assumo que queríamos algo internacional”, disse sincero, sem rodeios, um treinador que no meio da coletiva foi surpreendido por seus jogadores que o encharcaram com bebidas estendendo a comemoração.
Costas tem abraços para todos: para os membros da comissão técnica, desde seu auxiliar Gustavo Pepi Berscé ao fisioterapeuta Enzo Musitelli. Há sorrisos e tapinhas nas costas com Diego Milito, o presidente da Academia que o confirmou no cargo ao vencer as eleições sobre Víctor Blanco, que o escolheu inicialmente para este ciclo de sucesso. Há sessão de fotos com o troféu ao lado de sua parceira, Zully Ayala, e… com seus filhos Gonzalo – auxiliar e analista de desempenho – e Federico, preparador físico. Também para Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol, e Claudio Chiqui Tapia, presidente da AFA, na cerimônia de premiação.
Uma relação e identificação plena com a torcida, com o povo do Racing, que o ovaciona e o adora como fez com o lendário Juan José Pizzuti, o campeão eterno, o que abriu o caminho internacional com a Copa Libertadores e a Copa Intercontinental de 1967. Costas era a Mascote daquela formação inesquecível e agora recebe o amor, carinho e reconhecimento do público que não quer deixar o estádio Nilton Santos, palco da nova estrela. Ele os incentiva e, em troca, tem fãs enlouquecidos que lhe oferecem camisetas para que ele vá vestindo uma sobre a outra: a primeira, regata da Gurdia Imperial, o setor mais radicalizado da arquibancada; mais tarde, uma com sua imagem e a frase todos juntos.
As comemorações pela nova conquista se estenderam a um dia especial: o do aniversário, o número 62 de Costas. “Este é o melhor presente da minha vida, o mais bonito. Pena que não tenho meu pai aqui, porque é o presente mais lindo que poderiam me dar”, confessou a ponto de se emocionar o homem que na despedida mostrou seu amor incondicional pelo clube com o grito “Vamos Racing, caramba”.