A 30 anos do retorno de Diego Maradona ao Boca: “Segurola y Habana” e a rebeldia da mecha amarela

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Tu-tún, tu-tún. Tu-tún, tu-tún. A Bombonera late forte. Talvez, como nunca. Depois de anos esperando, chegou o grande dia. É sábado, 7 de outubro de 1995 e o que acontecerá em instantes será marcado para sempre na história do futebol mundial. A efervescência no ar é incontrolável. Dezenas de milhares de torcedores do Boca cantam e pulam na prévia de um jogo único. Com olhares voltados para um único lugar: a boca do túnel local. Por ali sairá, minutos antes das 18h, Diego Armando Maradona. Pela primeira vez em 13 anos e meio, vestido com a camisa azul e ouro e o número 10 nas costas, vai jogar novamente com as cores que mais ama. Primeiro entram em campo os 11 do Colón, o rival da vez, que, no tempo dos mandantes e visitantes, saúdam os torcedores que lotaram a terceira bandeira do lado do Riachuelo.

No time se destaca um lateral direito de Formosa, que alguns anos depois se tornará um dos mais destacados na sua posição na história do Boca: Hugo Benjamín Ibarra. E o atacante pela direita é um personagem muito querido: Claudio García. No meio-campo se destaca a presença de um volante aguerrido com nome de imperador, com marcação e chegada que horas mais tarde será um grande protagonista da jornada: Julio César Toresani. Então sim, há movimento nas escadas do túnel local. Os torcedores cantam e dançam. Os pedacinhos de papel também dançam, ao ritmo da brisa suave do dia. Há um balão gigante sobre o campo com a frase “Bem-vindo Diego”. Também há fumaça e balões azuis e amarelos, que na época não eram comuns nessas recepções, que dão mais cor e calor a tudo. E aí entra Diego, com a bola apertada na sua mão esquerda contra seu ventre, em direção ao círculo central. Ele para antes de entrar em campo, se benze e avança. Carlos Mac Allister, Christian Kily González, Diego Soñora, Fabián Carrizo, Néstor Fabbri e todos os outros o seguem: Carlos Navarro Montoya, Fernando Gamboa, Julio Saldaña, Sergio Martínez e outro craque de escala mundial: Claudio Caniggia.

O estádio vibra ao som de uma música icônica, com início: “Vale 10 milhões em dólares, se chama Maradona …”. E o eterno “Maradooooooooooo”, “Maradooooooooooo” também retorna. No camarote oficial, o presidente Antonio Alegre e o vice, Carlos Heller, sorriem, buscando revitalizar o clube no esportivo e no simbólico, enquanto um jovem empresário pretende vencê-los nas eleições no final do ano. Seu nome? Mauricio Macri. A partida é parte da 9ª rodada do Torneio de Abertura. O Boca está em oitavo na tabela e o líder é o Lanús. Após a festa prévia, quando a bola começa a rolar, as expressões dos rostos mudam. Colón não veio à Bombonera para testemunhar o retorno de Maradona. E então, o desenvolvimento se torna acirrado. As chegadas fortes e a perna pesada se tornam frequentes. É um jogo quente. A partida é de alta tensão. A vitória é essencial para o Boca, para o time, o clube, a diretoria, os torcedores e Maradona.

Marzolini sabe que algo precisa mudar na equipe e toma riscos. Aos 17 minutos do segundo tempo, decide tirar Manteca Martínez e colocar Darío Scotto, homem de área. Essa jogada do querido técnico será determinante. Com um jogador a mais desde a expulsão de Toresani, o Boca tenta várias vezes, mas esbarra em uma defesa firme do Sabalero, liderada por Enzo Trossero. E então, faltando um minuto, chega o alívio. Um centro da direita de Soñora é desviado. A bola chega a Diego, que com um toque suave joga para Fabbri, que perde a cabeçada com Ameli. O rebote chega a Gamboa, que de frente para o gol, chuta da meia-lua da área; outro rebote. Desta vez, a bola é dominada por Christian González pela esquerda. O centro de Kily parece preciso, com boa curva para o segundo poste, onde Scotto entra sozinho e cabeceia para o gol.

A maioria corre atrás do autor do 1 a 0. Maradona, por sua vez, caminha em direção aos bancos, abre os braços e parece querer abraçar sua esposa, suas filhas e seus pais, lá no alto dos antigos camarotes. O êxtase na Bombonera é total. A festa é perfeita. Apenas um instante mais tarde, Lamolina apita o final do jogo.

“Houve um acompanhamento imenso de todos os meios de comunicação, nacionais e internacionais, e realmente Diego viveu um momento muito agradável porque não esperava a recepção com suas filhas no campo”, recorda Navarro Montoya, ex-goleiro do Boca. O jogo é parte de um torneio em que o Boca tinha uma boa equipe, mas no final perde o campeonato. O resultado é de um triunfo por 2 a 1 sobre o River Plate no Monumental. E muito depois, Toresani decide tirar a própria vida, e Maradona o despede lembrando do desentendimento entre os dois.

Mas tudo isso faz parte de outra história.

Alex Barsa

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