O tratamento de choque aplicado contra a inflação na Argentina teve um tropicel em junho. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) aumentou 4,6% mensalmente, um aumento superior aos 4,2% registrados em maio. Isso quebra a sequência de queda desde dezembro, quando a desvalorização repentina do peso oficial decretada pelo novo governo fez os preços dispararem. No primeiro semestre do ano, a inflação acumulada é de 79,8%, mantendo níveis exorbitantes mesmo para um país como a Argentina, que há anos está no topo mundial.
O setor que teve o aumento mais significativo foi o de habitação e tarifas de luz, água e gás (14,3%), mais que o dobro do próximo setor, restaurantes e hotéis (6,3%). Esse aumento é resultado da eliminação gradual dos subsídios energéticos que beneficiaram os lares argentinos durante o governo anterior. Com a justificativa de “não há dinheiro”, o governo reduziu os subsídios e liberalizou os preços, porém o impacto dessa medida na inflação foi tão alto que tem retardado o ritmo: os aumentos previstos para julho foram adiados pelo menos até agosto.
Por outro lado, os preços que menos aumentaram em junho foram os alimentos (2,1%) e equipamentos e manutenção de residências (2,3%), em grande parte devido ao declínio na demanda.
O leve aumento da inflação em junho mostra a dificuldade que o governo terá para manter o limite de 4% mensal, principalmente considerando que a Argentina enfrenta sua pior recessão desde a pandemia. O pequeno rebote também ocorreu devido às subidas nos transportes, comunicações e tarifas de luz e gás.
A pressão dos mercados para uma desvalorização do peso cresce, mas até o momento o governo se recusa a mudar o rumo.