A poeta Liliana Ancalao, representante da comunidade mapuche-tehuelche, um dos povos originários da Argentina, expressa sua escrita com indignação, impotência e tristeza. Em suas palavras, ela lembra as atrocidades cometidas, o genocídio fundador do território, os campos de concentração onde seus parentes estiveram, o despojo e os arreios humanos por longas distâncias. Sua voz foi ouvida na Feria Internacional del Libro de Buenos Aires, que pela primeira vez deu lugar aos autores indígenas institucionalmente.

Quase cinco décadas se passaram para que este ano, em sua 48ª edição, a Feira do Livro local dedicasse um ciclo à literatura das comunidades originárias do país. Mais de quinze línguas ainda ativas compõem essa rica tradição literária. Reconhecendo essa dívida histórica, a iniciativa busca preservar e valorizar as línguas e culturas dos povos originários.

No relato de Ancalao, a historia da conquista da Patagônia pelos Estados argentino e chileno no século XIX, as consequências daquelas campanhas militares para os mapuches e a continuidade dessa opressão nos dias atuais com o avanço de indústrias extrativistas e imobiliárias são abordadas. A poeta reivindica com sua escrita a cultura e a memória de seu povo, mesclando ternura e dor em seus versos.

O ciclo de diálogo com escritores originários na Feira do Livro foi um marco importante para integrar essas vozes nos principais fóruns da literatura argentina. Autores de diversas etnias compartilharam suas experiências e escritos, promovendo um espaço de valorização e reconhecimento da diversidade cultural e linguística do país. Em meio a trocas e leituras, a poesia de Liliana Ancalao ecoa a dor e a resistência dos povos indígenas, mantendo viva a memória daqueles que foram silenciados ao longo da história.