A primeira vez dos escritores indígenas na Feira do Livro de Buenos Aires

  • Tempo de leitura:2 minutos de leitura

A poeta Liliana Ancalao, da comunidade mapuche-tehuelche, expressa sua indignação, impotência e tristeza ao escrever. Ela relembra as atrocidades cometidas, o genocídio fundador do território argentino, os campos de concentração onde seus parentes estiveram, o despojo, os deslocamentos humanos por centenas de quilômetros, a distribuição planejada dos sobreviventes. Sua voz foi ouvida na Feria Internacional del Libro de Buenos Aires, que pela primeira vez deu espaço aos autores indígenas.

Quase cinco décadas se passaram para que, na sua 48ª edição, a Feria del Libro dedicasse um ciclo à literatura das comunidades originárias do país, enriquecida por mais de quinze línguas ainda ativas. “Era uma dívida pendente, um débito que esta feira tinha”, reconhece Ezequiel Martínez, diretor da Fundación El Libro. “Se não falamos, se não escrevemos, editamos e lemos essas línguas, corremos o risco de perdê-las.”

O mito da Argentina branca e europeia está enraizado na nação construída a partir da conquista de seu território atual e persiste até hoje no relato repetido de que os argentinos “descendem dos navios” vindos do Norte, na silenciosa exclusão dos povos originários.

A infância de Ancalao transcorreu sem saber quem era, dividida entre jefes e administradores de uma empresa petrolífera e os operários. O contato inicial com suas raízes veio através de uma viagem ao território ancestral mapuche, onde ouviu pela primeira vez a língua de seus antepassados. A vergonha e o ocultamento de um povo oprimido coexistiam com práticas que mantinham viva essa identidade nas memórias familiares e em elementos cotidianos.

A literatura de Ancalao narra o sofrimento do povo mapuche e reivindica sua cultura de forma única, marcada pela tragédia da história. Ela escreve com indignação, impotência, nostalgia e tristeza pela língua perdida. Sua escrita se concentra no coração, onde estão sua gente e seu povo mapuche. A ternura se mistura ao sofrimento, e é a partir desse sentimento que ela escreve.

Alex Barsa

Apaixonado por tecnologia, inovações e viagens. Compartilho minhas experiências, dicas e roteiros para ajudar na sua viagem. Junte-se a mim e prepare-se para se encantar com paisagens deslumbrantes, cultura vibrante e culinária deliciosa!