A reconstrução do Boca: purificação do elenco, compromisso e reforços ofensivos, os focos de Russo

  • Tempo de leitura:6 minutos de leitura

MIAMI.- (Enviado especial). A eliminação do Boca no Mundial de Clubes foi um golpe que acabou com qualquer ilusão. Não apenas pelo resultado final, mas pela forma. Apesar de mostrar sinais positivos contra o Benfica e, pelo menos pelo resultado, também contra o poderoso Bayern de Munique, o empate de 1 a 1 contra o Auckland City – uma equipe amadora da Nova Zelândia – deixou uma sensação devastadora. O torneio que prometia ser uma oportunidade para enfrentar os grandes do mundo acabou deixando um gosto amargo. Miguel Ángel Russo chegou com o desafio de preparar uma equipe competitiva em tempo recorde. Agora, com mais tempo e 18 dias até a estreia contra o Argentinos Juniors na La Paternal, o treinador finalmente terá tempo real para começar seu trabalho. Embora o Boca permaneça em Miami até quinta-feira por questões logísticas, Russo já tem trabalho a fazer. O treinador reconheceu que houve aspectos que ele gostou e outros que não. Valorizou o esforço da equipe e elogiou a atuação contra o Benfica, mas o que aconteceu contra o Auckland City foi, em suas palavras, “tudo o que não pretende”. O Boca parecia previsível, lento, sem opções, com uma alarmante falta de ritmo. E, acima de tudo, com uma repetição excessiva de cruzamentos: 82 bolas na área, quase uma por minuto. A ideia original era buscar um jogo interior e jogadas individuais, mas a equipe se tornou monótona, sem criatividade ou desequilíbrio. Deveria ter goleado, mas não apenas não venceu: protagonizou um dos papelões internacionais mais grosseiros de sua história. O golpe, então, não apenas deixou uma imagem ruim: também acendeu sinais de alerta que obrigam o treinador a tomar decisões importantes. O primeiro passo de Russo será enxugar o elenco. O Boca levou 35 jogadores para os Estados Unidos, mas usou apenas 20, e apenas 16 como titulares. Muitos viajaram sabendo que não iam jogar, e outros já têm um pé fora. Com a ausência da Copa Libertadores ou da Sul-Americana até 2026, a ideia é trabalhar com um grupo menor para enfrentar a Liga Profissional e a Copa da Argentina. Jogadores como Frank Fabra, Marcos Rojo, Sergio Romero e Marcelo Saracchi podem procurar novos destinos. Mesmo Exequiel Zeballos, apesar de sua fraca atuação contra o Auckland, é um dos jogadores apontados para uma possível venda. E embora tenha sido titular no Mundial de Clubes, Luis Advíncula também pode sair se surgir uma oferta que seja interessante para o clube e para o jogador. Somando-se a isso, uma possível superpopulação no meio-campo se a chegada de Leandro Paredes se concretizar: junto com Ander Herrera, Tomás Belmonte, Williams Alarcón e Milton Delgado, alguém terá que sair. Outro ponto importante é o vestiário. Russo sabe que, além do aspecto técnico, há questões internas a resolver. O caso de Marcos Rojo é emblemático: com contrato até dezembro e sem renovação à vista, foi convocado para o Mundial, em parte porque Ayrton Costa não tinha visto e Marco Pellegrino chegou lesionado. Mas uma vez resolvida a situação de Costa, Rojo ficou como terceira opção e sua frustração era evidente. Ficou relegado e nunca foi prioridade. Ao retornar a Buenos Aires, o Boca e o jogador terão que definir uma saída que parece inevitável. Não foi por acaso que Miguel Merentiel foi o capitão na ausência de Edinson Cavani. A Besta personifica o jogador ideal para Russo: profissional, comprometido, criterioso, torcedor do clube e com boa imagem na imprensa. É o tipo de jogador que o treinador quer por perto, sempre disponível, que contribui dentro e fora de campo. Por isso, seu desejo é retê-lo a qualquer custo, embora seja difícil após a grande atuação no Mundial, com gols contra o Benfica e o Bayern. Embora Russo geralmente conte com os líderes, também sabe que ter muitos caciques pode gerar atritos desnecessários. Por isso, ele acredita que chegou a hora de abrir espaço. No entanto, cada decisão será tomada em conjunto com Juan Román Riquelme, que costuma ter a última palavra. Nas primeiras conversas após assumir, Russo pediu pelo menos um meio-campista ofensivo e um atacante. Por enquanto, chegaram um zagueiro (Pellegrino) e um meio-campista (Malcom Braida). Mas o foco do treinador está em renovar o ataque. O Boca conta com jogadores criativos como Kevin Zenón, Carlos Palacios e Alan Velasco, mas o treinador quer um jogador mais vertical, que rompa as linhas na terceira parte do campo e se destaque no um contra um. Russo deseja um reforço como Marcelino Moreno ou com esse estilo. Um nome forte que se está falando é o de Marcelino Moreno, o meia do Lanús. Talvez ele não seja o escolhido no final, mas representa o tipo de jogador desequilibrante e com gol que Russo busca para melhorar a equipe. Com esse diagnóstico em mãos, o treinador agora buscará definir sua ideia de jogo. Ele já avaliou os jogadores e sabe com quem pode contar e quais reforços poderiam chegar. Quando fala de formas, ele se refere a isso: uma equipe que saiba o que está jogando, que tenha um plano claro e o respeite. Ele conta com o apoio de Riquelme para montar uma equipe competitiva, com o objetivo de se consagrar novamente no âmbito local e retornar à Copa Libertadores. Uma das mudanças visíveis foi na preparação física, a cargo de Adrián Gerónimo, que acompanhou o treinador em sua passagem pelo San Lorenzo. Apesar do ritmo e das exigências do torneio, o Boca mostrou estar fisicamente mais inteiro do que em ciclos anteriores, mesmo sob o calor sufocante do verão nos Estados Unidos. No entanto, Russo ainda está preocupado com a quantidade de lesões musculares. Não apenas em jogadores experientes como Herrera ou Cavani, mas também em jogadores jovens, o que indica que há aspectos físicos a melhorar. Para Russo, tudo começa na mente. Quando voltou em seu segundo ciclo, o Boca começou com um empate pobre contra o Independiente, marcado por uma expulsão no primeiro tempo, mas convenceu os jogadores de que poderiam se consagrar campeões. E assim foi, em uma emocionante definição contra o River. Por isso, ele quer que seus jogadores entendam o que significa jogar no Boca e que cada partida seja uma final. Essa atitude, vista contra o Benfica e o Bayern, faltou no jogo decisivo. Embora tenha havido fatores externos como o calor, a falta de motivação e a tempestade elétrica, Russo sustenta que a atitude é inegociável e que o temperamento não pode faltar. Seu objetivo, em última análise, é ter um grupo alinhado. Fisicamente, emocionalmente e taticamente. Que as mensagens não dependam de sua presença à beira do campo, mas fluam de dentro, com líderes positivos e comprometidos. Neste momento, Russo não precisa mais gritar o tempo todo: prefere trabalhar com calma, convencer e construir. Não há tempo a perder se o Boca quiser recuperar o protagonismo e garantir que o ótimo início no Mundial de Clubes, jogado fora, não tenha sido apenas um engodo. E que nunca mais se repita uma atuação como contra o Auckland City.

Alex Barsa

Apaixonado por tecnologia, inovações e viagens. Compartilho minhas experiências, dicas e roteiros para ajudar na sua viagem. Junte-se a mim e prepare-se para se encantar com paisagens deslumbrantes, cultura vibrante e culinária deliciosa!