Adrián Martínez desafia algumas máximas do futebol e da vida. Para chegar à Primeira Divisão e – ainda mais difícil – manter-se, o caminho percorrido nas divisões de base é fundamental, pois nesses anos formativos os jogadores aprendem, corrigem erros e estimulam virtudes. Maravilla Martínez nunca passou pelas categorias da base de nenhum clube. Sua gênese como jogador de futebol estava nos campos e nos torneios de Campana e arredores, onde não imaginava que faria seu nome e apelido ecoar pelos quatro cantos do Cilindro de Avellaneda.
Há muitos que afirmam, como se fosse uma verdade absoluta, que o trem passa apenas uma vez na vida. E que passar pela prisão é, talvez, sinônimo de ficar excluído do sistema. De não poder imaginar uma mudança de vida. Maravilla Martínez, o jogador que faz seu apelido e sobrenome ecoarem na noite do estádio do Racing, para o qual marcou novamente um gol importante para ganhar e se classificar para as oitavas de final da Copa Libertadores, ficou privado de sua liberdade por sete meses. Dormiu em celas fechadas e geladas, enquanto a justiça esperava, burocraticamente, determinar que o agora artilheiro e ídolo acadêmico não era culpado pelo delito do qual era acusado (incendiar uma casa).
Martínez disputa a bola com Emiliano Amor; o atacante ampliou seu romance com o gol.
Maravilla, que passou dos espaços reduzidos da cela onde orava por uma nova chance em sua vida, e que essa mudança radical se concretizasse através da bola, agora se move como peixe na água nos metros dentro da área. Martínez é, após o golpe que o Racing sofreu ao ser surpreendentemente eliminado do Apertura, o melhor exemplo de que a vida (e também o esporte) dá a chance de se levantar após uma queda. E por isso, em uma noite que até a metade do primeiro tempo se apresentava complicada para a equipe de Gustavo Costas, Adrián foi fundamental para iniciar o caminho da vitória, da reviravolta, goleada e classificação para a fase de grupos da América.
Ele, o 9 mais decisivo do continente, se encarregou de desbloquear um jogo em que o jogo da equipe não fluía diante da disposição tática do Colo Colo de Jorge Almirón, que desmoronou após o primeiro revés. O centroavante campeão da última Sul-Americana e da Recopa pensa e escolhe bem onde se posicionar e quando se mover, como se também pressentisse o destino da bola, à qual empurrou com um cabeceamento – aos 36 minutos do primeiro tempo – para quebrar o empate. O gol inicial do Racing, que até aquele momento só havia chutado uma vez ao gol de Brayan Cortés (um minuto antes, precisamente por intermédio de Martínez), teve um arquiteto que joga como lateral-médio pela esquerda, mas que parece um velho camisa 10: Gabriel Rojas.
Recuperado de uma lesão que fez falta ao time na derrota e eliminação do torneio doméstico contra o Platense, o ex-San Lorenzo recebeu pela esquerda, fora da área, fingiu cruzar e cortou com um drible curto para entrar na área, onde rolou a bola para habilitar Santiago Solari, cujo chute fraco foi corrigido pela cabeça de Maravilla. Assim, o goleador abriu o placar de um jogo do time de Gustavo Costas pela décima sexta vez. O número, mais um reflexo da qualidade dos gols deste jogador insaciável, acalmou a equipe e expôs as deficiências do Cacique. Com o ânimo renovado pelo gol, o Racing encontrou em um passe profundo de Juan Ignacio Nardoni, o meio-campista que dá outro impulso àquela área, Solari, que colocou a bola dentro da pequena área para que Maravilla fizesse o que mais sabe e desfruta: marcar gols.
Adrián Martínez, o dono dos abraços em Avellaneda
O 5-2-3 que se transformava em 5-4-1 da equipe visitante desmoronou completamente naqueles 10 minutos finais do primeiro tempo, nos quais a Academia encaminhou uma vitória que lhe permitiu garantir a vaga na próxima fase e, além disso, saber que com um empate na última rodada (contra o Fortaleza, em Avellaneda), fechará a rodada como líder. Solari, que havia sido muito ativo na primeira metade, também teve sua recompensa: Maravilla, além de balançar as redes, serviu o ex-Defensa y Justicia para o terceiro gol. Arturo Vidal, que no primeiro tempo havia estado perto de marcar após uma defesa de Gabriel Arias contra Javier Correa, depois se dedicou a brigar e foi expulso.
Com o placar de 3-0 e um adversário ainda mais enfraquecido por ficar com 10 jogadores, o Racing apostou nas substituições, cuidou de alguns jogadores (prejudicado anteriormente pela lesão de Maximiliano Salas) e ainda teve um gostinho extra: Adrián Balboa, que estava em jejum de gols adversários, conseguiu marcar o quarto gol da noite e reencontrar-se com as redes. Sem ser uma maravilha em termos de funcionamento, Racing se apoia em Maravilla Martínez para sonhar em conquistar a América e realizar mais sonhos.