O Boca aprovou por unanimidade o melhor exercício contábil de sua história em abril deste ano, com um superávit superior a US$ 14.000.000 e um patrimônio líquido superior a 139 milhões de dólares. No entanto, a notícia passou despercebida por grande parte dos torcedores e não foi replicada no site ou nas redes sociais do clube. O contexto não ajudou: apenas 48 horas antes, a equipe de Diego Martínez havia perdido por 4 a 2 para o Fortaleza do Brasil e comprometeu seriamente suas chances de classificação na Copa Sul-Americana. Como disse Daniel Angelici após perder três finais consecutivas para o River, “ninguém vai ao Obelisco para comemorar um balanço”, por mais que a ordem institucional seja a base de quase todo sucesso esportivo.
Até o momento, na gestão de Juan Román Riquelme, Boca faturou cifras astronômicas graças à venda de seus melhores talentos das categorias de base (Ezequiel Fernández, Aaron Anselmino e Valentín Barco, entre outros), mas não conseguiu traduzir esse poder em títulos, especialmente no âmbito internacional, o grande desafio na era do último 10. Riquelme também foi importante para convencer jogadores com longa trajetória internacional. Apesar dos altos e baixos, Sergio Romero, Marcos Rojo e Edinson Cavani foram os grandes acertos do ídolo em termos de contratações, assim como Miguel Merentiel e o peruano Luis Advíncula.
Com exceções, o restante das contratações do Boca passou com mais fracassos do que sucessos. Mais de 40% vieram do mercado local (15 de 36), enquanto cinco desses jogadores vieram das principais ligas europeias: Rojo (Manchester United), Darío Benedetto (Elche), Romero (Venezia), Cavani (Valencia) e Ignacio Miramón (Lille). Os mercados mais explorados pelo Boca foram a Liga MX (Edwin Cardona, Pol Fernández – em duas oportunidades – e Tomás Belmonte) e a segunda divisão da Espanha (Advíncula, Marcelo Saracchi e Lautaro Blanco).
Quase não houve apostas para o futuro, já que 50% das contratações tinham pelo menos 28 anos no momento da assinatura; e apenas 11% tinham menos de 23 anos: Ezequiel Bullaude (22), Kevin Zenón (22), Brian Aguirre (21) e Miramón (21). Nenhuma contratação do Boca foi revendida para outro clube.
Riquelme optou principalmente por jogadores experientes que chegaram ao Boca por empréstimo ou com o passe na mão. Somente em junho de 2021, após a eliminação nas semifinais da Libertadores 2020, o Boca abriu a carteira para comprar um jogador: pagou 1.750.000 dólares por 50% de Nicolás Orsini, que marcou três gols em 36 jogos e foi emprestado para o Unión de Santa Fe em agosto de 2023.
O melhor reforço foi Cavani, mas o melhor mercado foi o de janeiro deste ano, no qual chegaram Cristian Lema (US$ 400.000), Lautaro Blanco (Boca chegou a um acordo com Christian Bragarnik para adquirir 50% do lateral em troca da metade da ficha de Aaron Molinas, que foi para o Defensa y Justicia) e Kevin Zenón, que custou US$ 3.400.000 e cuja cláusula de rescisão é de US$ 20.000.000.
Entre dezembro de 2019 e agosto de 2024, o Boca investiu quase US$ 55.000.000 em reforços e conquistou seis títulos, todos a nível nacional: Superliga 2019/2020 (a nova diretoria assumiu a sete rodadas do final), Copa Maradona 2020, Copa Argentina 2019/2020, Liga Profesional e Copa da Liga de 2022 e Supercopa de 2023. Nesse período, o Xeneize foi eliminado nas semifinais da Libertadores 2020, nas oitavas em 2021 e 2022 e foi vice-campeão em 2023; não conseguiu se classificar para a edição de 2024, teve que enfrentar a Copa Sul-Americana (após 10 anos de ausência) e foi eliminado pelo Cruzeiro, nas oitavas de final.
O último título do Boca foi a Supercopa de 2022, em março de 2023, com uma vitória por 3 a 0 sobre o Patronato, com um hat-trick de Darío Benedetto.
Brian Aguirre e Tomás Belmonte foram as principais apostas do Boca no mercado de transferências atual. Suas contratações envolveram um investimento de mais de US$ 8.000.000 brutos: US$ 5.000.000 por 80% do atacante e US$ 3.000.000 por 50% do ex-jogador do Lanús. No último mercado de transferências desse porte foi no meio de 2023, com a contratação de Lucas Janson, que havia perdido espaço no Vélez, por US$ 4.000.000 de dólares.
Embora nem sempre tenham jogado, as Categorias de Base foram a grande salvadora econômica e esportiva da era Riquelme. Desde sua ascensão em 2019, o Boca transferiu 24 jogadores (14 da Base do Boca) e arrecadou mais de US$ 120.000.000, a uma média de cinco milhões por jogador.
As transferências mais caras? Ezequiel Fernández para o Al Qadsiah da Arábia (US$ 20.000.000), Aaron Anselmino para o Chelsea (US$ 18.000.000), Alan Varela para o Porto (US$ 13.000.000) e Valentín Barco para o Brighton (US$ 10.000.000), embora o Boca também tenha lucrado com as saídas de Mateo Retegui para o Genoa (US$ 7.500.000 por 50%), Luis Vázquez para Anderlecht (US$ 7.000.000), Luca Langoni para o New England da MLS (US$ 6.800.000), Esteban Andrada para Monterrey (US$ 6.000.000) e Emmanuel Reynoso para o Minessota (US$ 5.500.000). No caso de Anselmino, o Boca também conseguiu a transferência gratuita do zagueiro até 30 de junho de 2025 e receberá mais um milhão de dólares caso o Chelsea exerça a opção de recompra em dezembro deste ano. Um negócio redondo por um jogador com apenas 13 jogos na Primeira Divisão.
No fechamento do mercado de transferências, Cristian Medina pressionou para ir para a Europa. O Fenerbahce melhorou a oferta inicial e enviou uma proposta de US$ 15.000.000 líquidos mais uma mais-valia de 20% em caso de futura venda. O Boca informou que só transferirá o jogador caso a cláusula seja executada, que também é de US$ 20.000.000, a menos que o clube comprador concorde em emprestá-lo até dezembro. Parecia que essa opção também se concretizaria na Turquia, mas a operação travou nos e-mails.
Foi curioso, porque -na primeira projeção-, Medina era o jogador que o Conselho de Futebol mirava para vender na última janela de transferências. No entanto, Medina ficou e o Boca acabou se desfazendo de Equi Fernández, Anselmino e Langoni, e continuou obrigado a conquistar um título no restante da temporada: muito distante na Liga Profesional, parece que todas as fichas estão apostadas na Copa Argentina.
Na última janela de transferências, o Boca buscou jogadores que elevassem a competição interna e servissem como opção de reserva. Entre lesões, suspensões e convocações para a seleção (além dos jogadores que não eram considerados pelo técnico, como Frank Fabra, Ezequiel Bullaude ou Darío Benedetto), o Boca enfrentou o encerramento do semestre passado com uma mistura de profissionais e jovens.
No intervalo, o Boca buscou substituições para as saídas de Nicolás Valentini (Gary Medel), Jorman Campuzano (Belmonte), Langoni (Aguirre), Equi Fernández (Miramón), Benedetto (Milton Giménez) e Lucas Blondel (Juan Barinaga) e fracassou na tentativa de contratar Alan Velasco, Giuliano Galoppo, Matías Galarza (que assinou com o Talleres) e o chileno Carlos Palacios. Para piorar, por um erro administrativo insólito, os reforços foram excluídos do duelo contra o Independiente del Valle e o Boca se classificou por pouco para a fase de oitavas de final. Mesmo assim, com o passar do tempo, eles quase não foram utilizados: no clássico contra o River, apenas Ignacio Miramón começou a partida.