Até $1.306.297: pela primeira vez, estimam quanto custa manter um filho na cidade de acordo com a idade e o gênero

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O número assusta. Mas qualquer pessoa que esteja envolvida na criação de filhos na cidade de Buenos Aires poderá constatar o quão real é essa estimativa. O governo da cidade apresentou, através do seu Instituto de Estatística e Censos da Cidade Autônoma de Buenos Aires (Idecba) um índice chamado “cesta de criação”, desenvolvido em conjunto com a Unicef, que busca calcular todos os gastos que estão fora da cesta básica ou alimentar e incluem não apenas o custo da vida social, das atividades, da conectividade das crianças, mas também estima a investimento feito no cuidado. Assim, de acordo com os números preliminares, criar um filho de 1 ano na cidade de Buenos Aires, sendo proprietário da casa, demanda $1.293.239, enquanto que para uma filha da mesma idade e do mesmo tipo de casa a cesta custará $1.282.564. As cifras chegam a $1.306.297 e $1.297.645, respectivamente, para os 2 anos. Para gerar esse indicador, foram desenvolvidas metodologias de cálculo diferenciadas, de acordo com a idade, o gênero e a posse ou não da casa própria. O resultado da medição gerou um complexo quadro que unifica todos os gastos relativos à criação, de acordo com a idade, desde os primeiros meses de vida até os 17 anos. O indicador foi construído com três grandes categorias. A primeira mede a cesta alimentar, para a qual não foram considerados os valores tradicionais, mas sim, especialistas do Ministério da Saúde determinaram as necessidades nutricionais e calóricas para cada idade e gênero. A segunda categoria foi a cesta não alimentar, que incluiu categorias como vestuário e calçados, transporte, equipamentos e manutenção da casa, comunicações (como por exemplo, a necessidade de conexão com a internet e o fato de que a partir dos 12 anos, em média, se tem um celular), produtos de limpeza, recreação e cultura, eletricidade, serviços da casa, saúde, educação, e em alguns casos, despesas de condomínio e aluguel da casa, entre outros. Construir um índice segmentado por idade e gênero permitiu incluir, por exemplo, no caso das meninas, o uso de produtos de higiene e gestão menstrual a partir dos 10 anos de idade. Em geral, a diferença entre a cesta de criação de meninas e meninos é mínima, e se explica pelo fato de que eles têm maior demanda calórica durante os anos de crescimento. Nas duas primeiras categorias, evidencia-se um aumento significativo de acordo com a idade do filho ou filha. Na cesta alimentar e não alimentar, para criar um recém-nascido serão destinados cerca de 305.300 pesos por mês para ambos os gêneros, enquanto que para um menino de 4 anos serão destinados cerca de 436.200 pesos e cerca de 425.400 pesos para uma menina. Esse gasto se elevará para 537.500 pesos para um filho de 11 anos e 531.400 pesos para uma filha dessa idade; se esse filho tiver 17 anos, o número sobe para 678.300 pesos e 611.600 pesos para uma filha. A terceira categoria que foi considerada para elaborar essa cesta marca a diferença, já que representa metade do gasto total de criação: o cuidado. No caso de um recém-nascido, o custo do cuidado adiciona cerca de $905.858, totalizando $1.211.122 a cesta de criação. Assim, como os filhos mais novos são os que necessitam de mais horas de cuidado, o custo total de criação de um recém-nascido ou de um filho de um ano será maior do que o de uma adolescente de 17 anos, que terá um custo de $331.313 na categoria cuidado. Para a construção do indicador, foi utilizada a Pesquisa Nacional de Despesa dos Lares (Engho) 2017 e 2018, enquanto que a atualização dos dados é feita com base no Índice de Preços ao Consumidor da Cidade (Ipcba). O lançamento desse indicador foi feito a partir da Legislatura da cidade, pois ele foi desenvolvido em resposta a um pedido feito pelo corpo legislativo portenho para que a Capital tivesse números próprios sobre o custo de criação. Também houve um pedido da Justiça de Família, pois esse número é um elemento fundamental na hora de estabelecer uma pensão alimentícia, explicou-se. Durante a apresentação, foi destacado que hoje três em cada dez meninos e meninas não recebem a pensão alimentícia por parte de seu pai ou mãe em caso de separação. “Este era um pedido que a Legislatura e a Justiça nos faziam, e conseguimos desenvolver uma cesta de criação que contempla todos os aspectos envolvidos em ter filhos. Muitos desses custos parecem mais evidentes, e outros, como o cuidado, muitas vezes estão invisíveis. Principalmente quando um dos pais ou outro membro da família o fornece, mas não deixa de ser um investimento que uma das partes faz nessa criação”, comentou José María Donati, diretor executivo do Idecba. “Devemos esclarecer que esse número que apresentamos é uma estimativa preliminar e que, a partir de março, teremos o número definitivo. A partir dessa data, ele será medido trimestralmente”, acrescentou. Aqueles que trabalharam no desenvolvimento desse indicador esclarecem que ainda não foi desenvolvido um método para calcular o investimento na criação quando no lar há mais de um filho. Isso será definido em março, para que uma família com dois ou mais filhos possa chegar a um cálculo preciso. Atualmente, apenas há crianças e adolescentes em 30,9% dos lares portenhos, de acordo com as estatísticas da cidade para 2024. Em termos da população em geral, menores de 17 anos representam 22,5%. Além disso, em média, o número de pessoas por lar é de 2,3: 37% são formados por uma única pessoa e 26,3% por duas pessoas; enquanto que os lares com 5 ou mais pessoas representam 6%. Atualmente, 36% das mulheres portenhas não são mães, percentagem que sobe para 87% entre as menores de 29 anos. Das mulheres que são mães, 72% têm um ou dois filhos; entre as menores de 29 anos, 66% das que são mães têm apenas um filho. Isso significa que o tipo de lar com menores de 17 anos na cidade é aquele em que vive apenas um filho ou uma filha é o mais frequente. Durante a apresentação, a queda na natalidade esteve presente, e foi inevitável muitos relacionarem com os custos da criação: “Com esses números, ninguém vai querer ter filhos”. María Eugenia Lago, diretora geral do Idecba, também abordou o tema. “A queda na natalidade não se explica apenas pelo custo de um filho, mas por uma mudança cultural, por uma mudança nas expectativas de vida. Ter um filho faz parte da sua concepção e realização, ou não? Ter um filho é compartilhar tudo, é compartilhar seu dinheiro, seu tempo, sua energia, sua vida. É um gasto também e porque é custoso criá-lo adequadamente. Isso é real. A ideia desse indicador não é fornecer fundamentos para dizer ‘Uma criança é cara’, mas sim para pensar quais são os elementos para que aqueles que têm filhos possam criá-los com plenos direitos”, disse. Este é o primeiro indicador de cesta de criação utilizado na cidade de Buenos Aires. Desde o final de 2023, o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec) também gera um número semelhante a nível nacional. Guillermo Luis Manzano, diretor de Estatísticas Aplicadas do Idecba, também trabalhou no desenvolvimento do índice no âmbito nacional. “A medição portenha aponta mais para o observado, para o real, do que para o estimado, e leva em conta as necessidades das crianças e adolescentes, não em função da estimativa de um adulto. Por outro lado, o componente de bens e serviços da cesta que o Indec usa surge diretamente da cesta básica alimentar, que é usada para medir a pobreza. É uma cesta básica de subsistência no âmbito do Grande Buenos Aires. E essa é uma cesta no âmbito da cidade de Buenos Aires, o que implica um nível bastante mais alto do que o de subsistência, e inclui o custo diferencial de residir na Capital”, explicou. Em outubro de 2025, a cesta de criação na Argentina teve os seguintes valores segundo o Indec: $441.173 para menores de 1 ano, $524.597 para crianças de 1 a 3 anos, $443.020 para os de 4 e 5 anos, e $557.173 para os de 6 a 12 anos. “Este indicador que foi lançado na cidade de Buenos Aires é muito útil, primeiro, para o desenho de políticas públicas, e também como ferramenta para a Justiça, ao fornecer um número e dimensionar o que significa a criação”, comentou Natalia Gherardi, diretora executiva da Equipe Latino-Americana de Justiça e Gênero (ELA). “Serve para estabelecer um piso de negociação, de conversa, nas discussões sobre quanto custa, quanto cada progenitor deve contribuir quando não existe mais um lar conjugal para definir quanto custa a criação desse filho ou dessa filha em comum. Quanto custa em termos econômicos e de tempo? E como esse tempo é valorizado? Quando não há acordo sobre isso, você acaba em um litígio nos tribunais de família. Nesse caso, o Poder Judiciário terá um parâmetro metodologicamente muito sólido e objetivo”, acrescentou.

Alex Barsa

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