Após milhares de argentinos se reunirem em Buenos Aires para protestar contra o presidente da Espanha, Pedro Sánchez, a presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, defende o líder do país sul-americano, Javier Milei, no conflito diplomático aberto entre Argentina e Espanha. A cena se passa na Assembleia de Madrid. O momento, na manhã desta quinta-feira. O principal argumento é uma advertência: se a esquerda ataca Milei, segundo Ayuso, não é porque ele se referiu à esposa de Sánchez como uma “corrupta” ou o definiu como um “socialista arrogante”, é porque o PSOE, Sumar e Podemos pretendem trazer para a Espanha a mesma “deriva peronista” que houve na Argentina. Depois de quatro dias de silêncio forçado, a baronesa lembra que o ministro dos Transportes, Óscar Puente, foi quem iniciou as críticas cruzadas, sugirindo que Milei poderia ter consumido “substâncias”, e então explode: “Ele difamou e não respeitou a democracia!”.
Tudo acontece como nos melhores thrillers, com um lento in crescendo. Primeiro, Ayuso reprova Rocío Monasterio, do Vox, por ter contado com Marine Le Pen e representantes de Donald Trump em um evento no fim de semana passado, no qual Milei também participou. Naquele momento, no entanto, a líder do PP não fez qualquer menção ao presidente argentino.
Depois, Juan Lobato, do PSOE, traz o assunto à tona – “o problema é que ele é do mesmo tipo de direita que Milei e Trump. Não acha que se parece um pouco com Macron, Merkel, Von der Leyen?”, pergunta –, mas Ayuso mal entra na discussão. Ela responde: “Vai dizer alguma coisa ao senhor Puente quando nos chama de loucos, bêbados ou insulta o presidente da Argentina? Claro que não”.
É preciso esperar a vez de Manuela Bergerot, porta-voz do Más Madrid, para que a presidente da Comunidade de Madrid comece a revelar suas cartas. Porque a intervenção da líder da oposição é como um pano vermelho na frente de um touro. Ayuso ouve e responde com a mesma dureza.
Os minutos seguintes, que Ayuso dedica a responder a Bergerot e também ao porta-voz do PP, Carlos Díaz-Pache, são quase um monólogo sobre Milei.
Ayuso aproveita também o plenário para acusar a esquerda de premiar o terrorismo do Hamas com o reconhecimento do estado da Palestina, anunciado pelo presidente Sánchez na terça-feira. “Pretendem que as democracias ajam com o Hamas da mesma forma que agiram com a ETA”, diz a presidente regional. “Tu mata, que eu te darei uma comunidade autônoma. Tu mata, que eu te darei um Estado”, acrescenta. Depois, Ayuso se retira. Falou-se da Argentina. Da Palestina. De Israel. Do Governo da Espanha. De Madrid, durante a sessão de controle à sua presidente, nada.