Começa o julgamento dos acusados de tentar assassinar Kirchner: “Eu queria matar Cristina”

  • Tempo de leitura:4 minutos de leitura

Em 1º de setembro de 2022, Fernando Sabag Montiel disparou uma arma Bersa a poucos centímetros da cabeça da ex-presidente argentina Cristina Kirchner. A bala não saiu porque o agressor, de origem brasileira e na época com 35 anos, esqueceu de colocá-la na câmara. Nesta quarta-feira, Sabag Montiel, sua ex-namorada, Brenda Uliarte, e o chefe de ambos, Nicolás Carrizo, compareceram diante do tribunal federal que os julgará em Buenos Aires.

“Eu queria matar Cristina. Eu queria matá-la”, disse Sabag Montiel, com uma voz pausada e fria em seu depoimento. Questionado sobre os motivos, listou friamente: “Porque ela é ladra, porque é assassina, porque levou a Argentina à inflação. Pessoalmente, me senti humilhado por passar de uma pessoa que tinha um bom padrão econômico para ser um vendedor de açúcar nas ruas.”

Não há muitas dúvidas sobre sua responsabilidade material, e a defesa tentará provar que não estavam em seus juízos quando planejaram o ataque. Os advogados da ex-presidente não estão totalmente convencidos pelo julgamento: há meses, eles vêm pedindo que também seja investigado se por trás do ataque houve autores intelectuais ligados à política.

Pelos tribunais federais passarão cerca de 300 testemunhas. A cifra é enorme. O atentado fracassado ocorreu no meio da multidão que, há quase dois anos, se reunia diariamente em frente à casa de Kirchner em Recoleta, um bairro nobre de Buenos Aires. Expressavam assim seu apoio à ex-presidente nos momentos finais de uma causa por corrupção pela qual ela seria condenada. Sabag Montiel foi capturado pelos seguidores da ex-presidente, e sua tentativa de magnicídio foi registrada pelas câmeras de televisão. Essas mesmas câmeras mostraram Brenda Uliarte se afastando do local disfarçadamente. A análise dos telefones celulares dos acusados rapidamente levou a Carrizo, o terceiro acusado. Carrizo era chefe do casal em um projeto de venda ambulante de açúcar. Em seu primeiro depoimento, ele disse não ter ideia do que seus funcionários estavam planejando, mas os chats logo demonstraram que o plano de magnicídio estava sendo preparado há pelo menos dois meses e com alguns intentos malsucedidos.

“As conversas fizeram parte dos argumentos apresentados pela acusação e pela promotoria para elevar o caso a julgamento. Os acusados escutavam na mesma sala forrada de madeira onde foi julgado o atentado terrorista que, em 1984, destruiu a mutual judaica Amia em Buenos Aires. Sabag Montiel, de barba longa, cabelo desalinhado e um casaco vermelho. Quando ficou cara a cara com os fotógrafos, ele mostrou um papel em que tinha escrito ‘me tienen secuestrado’. O responsável pelo disparo fracassado ficou sentado longe de seus advogados, sozinho, a cerca de cinco metros de Brenda Uliarte, sua ex-namorada.

Vestindo um casaco com padrões escoceses, Uliarte permaneceu petrificada durante a audiência, sem prestar atenção ao seu advogado. Ela se levantou em um intervalo, para ser algemada. Virou a cabeça e fixou o olhar perdido nos jornalistas que acompanhavam o julgamento atrás de um vidro de proteção. No caso de Carrizo, foi outra coisa: vestindo um paletó azul e uma camisa branca, ele falava o tempo todo com seu advogado e não parava quieto. Ele é acusado de ser cúmplice no atentado, uma espécie de instigador de pouca monta líder dos Copitos, como a imprensa os chamou por viver da venda de açúcar em praças e parques.

O julgamento terá um longo desfile de testemunhas. O ponto alto será a presença de Cristina Kirchner, prevista para após o inverno. Nesta quarta-feira, ela foi representada por seus advogados, que insistiram na necessidade de avançar na identificação dos autores intelectuais do magnicídio fracassado. “A juíza dividiu o caso em dois e preservou tudo o que poderia estar relacionado a uma linha política ou econômica por trás do atentado”, reclama Marcos Aldazabal, da acusação. “O que ficou de fora está relacionado a diferentes provas que surgiram ao longo desses quase dois anos que poderiam ligar pessoas do meio político. No primeiro dia de investigação, o telefone do principal acusado foi apagado em circunstâncias desconhecidas. Hoje temos três pessoas visivelmente envolvidas, mas não o contexto geral”, diz.

O telefone apagado é a raiz das suspeitas da acusação. As conversas divulgadas nesta quarta-feira mostram diálogos entre Blenda Uliarte e Nicolás Carrizo entre si e com terceiros, mas nada de Sabag Montiel, o responsável por puxar o gatilho. Subscreva-se à newsletter do EL PAÍS América e receba todas as informações chave sobre a atualidade da região.

Alex Barsa

Apaixonado por tecnologia, inovações e viagens. Compartilho minhas experiências, dicas e roteiros para ajudar na sua viagem. Junte-se a mim e prepare-se para se encantar com paisagens deslumbrantes, cultura vibrante e culinária deliciosa!