O universo Boca, como é sabido, gira muito mais rápido do que a velocidade da Terra. Em 365 dias, o Xeneize passou de jogar a final da Copa Libertadores para atravessar uma das piores crises futebolísticas das últimas décadas. Aquele gol de John Kennedy no tempo suplementar decretou o final do ciclo de Jorge Almirón e iniciou, em termos de resultados, o pior ano esportivo de toda a era de Juan Román Riquelme. Boca atingiu o fundo do poço na derrota por 1 a 0 contra o Lanús, acumulou 11 jogos sem vitórias como visitante e, faltando sete rodadas, enterrou grande parte de suas chances de disputar novamente o principal torneio continental. Três treinadores passaram, 50 jogos e mais de 45 jogadores. No meio disso tudo, Boca caiu nas semifinais da Copa da Liga contra o Estudiantes, nas oitavas da Sul-Americana contra o Cruzeiro e avançou para a semifinal da Copa Argentina contra o Vélez, o menos importante dos torneios que passaram a ser prioridade: relegado na tabela anual (sete pontos abaixo do último classificado), o Xeneize está obrigado a conquistar o troféu para garantir a vaga na Libertadores de 2025. Não conseguindo esse objetivo, Boca não jogaria a Copa pelo segundo ano consecutivo, algo que não acontece desde as temporadas de 2010 e 2011. Além disso, se a liga terminasse hoje, o Boca entraria novamente na Sul-Americana, estando a apenas um ponto de ficar de fora de tudo. A frustração dos jogadores do Boca: outra derrota como visitante, neste caso contra o Lanús. “Não gostei da equipe, não fizemos nada do planejado e perdemos o jogo. A situação não é boa e temos que nos responsabilizar”, assumiu Fernando Gago após a derrota por 1 a 0 na Fortaleza. Gago acumula duas derrotas e dois empates e seu Boca continua longe do desempenho desejado. Ele propôs quatro esquemas diferentes em igual número de jogos e terá apenas duas sessões de treinamento para preparar o jogo desta quarta-feira contra o Godoy Cruz, pela 21ª rodada da Liga Profesional. Carlos Aimar, em 1989, foi o último treinador do clube a não conseguir vitórias em suas quatro primeiras aparições (três delas contra o River), com dois empates e duas derrotas. Com o 0 a 1 no Sul, Gago superou as sequências de Jorge Benítez (2004), Claudio Borghi (2010) e Guillermo Barros Schelotto (2016), que conseguiram somar três pontos em seu quarto jogo dirigido. O recorde pertence a Mario Zanabria (1984), que ficou sete jogos sem vencer até a vitória por 5 a 0 sobre o Atlanta. Fora de casa, o Boca continua sem levantar cabeça. No Lanús, teve um primeiro tempo aceitável e foi totalmente superado no segundo, quando quase não criou chances. Entre os ciclos de Diego Martínez, Mariano Herrón e Fernando Gago, o Boca disputou 23 jogos como visitante e obteve apenas 28% dos pontos: venceu quatro, empatou oito e perdeu 11. Sua última vitória foi em 19 de maio deste ano, quando venceu o Central Córdoba por 4 a 2 em Santiago del Estero. Apenas Luis Advíncula jogou naquela noite no Madre de Ciudades e repetiu a atuação no último domingo no Néstor Díaz Pérez. É o quinto pior registro da história do Boca, com 11 jogos sem vitória fora de casa, muito perto dos piores registros: 12 jogos sem vitórias em 1987; 13 em 2009/2010; e 14 em 1948/1949 e 1979/1980. Embora jogue mal quase sempre, o Boca mostra seu pior lado quando sai da Bombonera. Na verdade, perdeu seu quarto jogo seguido como visitante (Racing, Belgrano, Tigre e Lanús), algo que não acontecia desde junho de 2013. Naquela ocasião, o Boca de Carlos Bianchi encadeou oito jogos sem vitória fora da Bombonera, desde a histórica derrota por 1 a 6 contra o San Martín de San Juan até o empate por 1 a 1 com o Godoy Cruz na última rodada, evitando terminar em último lugar. Riquelme era o capitão e Gago, solicitado pelo Virrey, se juntaria ao elenco para o segundo semestre do ano, no qual o Boca terminaria em sétimo lugar. Embora hoje seja Gago quem comanda a equipe (dirigiu apenas 8% dos jogos no ano), os problemas no Boca vêm de longa data, com elencos mal constituídos e treinadores e reforços que não estiveram à altura. O Boca não voltou a ser campeão desde a final perdida para o Fluminense e sua última consagração foi dez meses antes do encontro no Maracanã: a Supercopa Argentina contra o Patronato, em 1º de março de 2023. Já se passaram 614 dias desde a última volta olímpica, o intervalo mais longo desde os 1.058 dias que se passaram entre a Copa Argentina de 2012 e o Campeonato Argentino de 2015. Sem títulos e com 51% dos pontos obtidos, o ano de 2024 do Boca vem sendo o pior ano futebolístico na era de Juan Román Riquelme. Apenas uma hipotética consagração na Copa Argentina poderia maquiar uma temporada irregular e repleta de frustrações. Por mais que o presente esportivo exija soluções profundas.