Ele foi bicampeão com o Boca, uma frase de sua filha o fez repensar tudo e agora é cabeleireiro: “Nunca tinha pensado nisso”

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Não foi possível fazer nada. Com o boato, você pode manchar a reputação de alguém e nada acontece. Ricardo “Tito” Noir relembra, para o LA NACION, o momento mais traumático de sua carreira profissional. Era o ano de 2010. Ele não encontra explicação, nem se esforça para encontrar um culpado. Ele conhece as regras do futebol que o ajudaram a amadurecer, mas ainda assim não entende por que foi apontado em um caso que o envolveu com o goleiro Sebastián Peratta.

“Peratta falava muito do Rosario Central porque eles estavam na B… e ele os desafiava. Talvez tenham apontado para mim porque eu vinha do Boca e teria mais repercussão”, responde Noir sem rodeios sobre os rumores maliciosos que o ligaram, fora dos gramados, ao então goleiro do Newell’s.

O que começou como um boato, se transformou em uma “verdade” aceita pelos torcedores, segundo Noir. “Eu passei por momentos difíceis”, explica e continua: “Primeiro minha irmã ligou e me perguntou. Eu não entendia nada. Depois foi minha mãe, que sugeriu que eu voltasse para a cidade e disse: ‘O futebol é uma m…'”.

“Com Sebastián não tínhamos proximidade, eu me reunia com os mais jovens como (Lionel) Vangioni e (Mauricio) Sperdutti”, diz Noir, que deixou Rosario naquele mesmo ano de 2010, preocupado com os rumores infundados. Sobre sua passagem pelo Newell’s, ele destacou o trabalho dos dirigentes da época e também de Gerardo “Tata” Martino, que tentou convencê-lo a ficar, mas já não havia mais chance e a porta estava fechada para continuar no clube vermelho e preto.

A carreira de Noir continuou no Banfield – conquistou o acesso à Primeira Divisão em 2013 -, Racing – onde coincidiu com Diego Milito, Lautaro Martínez e o “Huevo” Acuña -, Huracán, Atlético Tucumán e San Martín de Tucumán. O ponto de virada de sua carreira foi em 2019, com a morte de seu pai Aníbal, com quem ele conversava depois de cada jogo e que o aconselhava para tirar o máximo proveito de suas habilidades.

Seus últimos passos no futebol foram pelo Club Atlético Palmaflor da Bolívia. Lá, em Cochabamba, Noir enfrentou mais um golpe que o levou a pendurar as chuteiras.

“Paizinho, estou cansada de comemorar meu aniversário com pessoas que não conheço. Eu sei que vivemos bem graças ao que você faz, mas estou farta”, foram as palavras de sua filha Geraldine, na época com 13 anos, que percebeu o sufoco de estar vagando por diferentes províncias e países seguindo a vida do jogador de futebol. “Nunca havia parado para pensar nisso, então eu disse a ela que minha carreira terminaria na Bolívia e iríamos para o povoado”, lembra, com nostalgia.

O término da carreira de um jogador de futebol tende a ser traumático, especialmente para aqueles que não conseguiram construir um futuro durante sua carreira. Por causa disso, Noir só lamenta seu primeiro agente, a quem chamou de “miserável” por não pagar o dinheiro que lhe era devido pela sua transferência.

Uma vez que a bola passou para um segundo plano, Noir trocou as chuteiras pelas tesouras. Após fazer um curso de barbeiro em Colón, a 30 quilômetros de sua casa, o ex-jogador montou uma barbearia em sua casa, decorada como um museu com camisetas de jogadores como Ronaldinho, Riquelme, e adicionou um móvel com um espelho para o seu novo trabalho.

“Não sabia o que fazer quando me aposentei. Fiz o curso de barbeiro e montei uma barbearia em casa”, diz e continua: “Corto o cabelo de amigos e conhecidos. Alguns riem porque agora os garotos me mostram um corte que viram na Internet para que eu faça e eu digo: ‘Hei, isso é complicado’. Tenho que me atualizar”, esclarece, entre risos, enquanto observa de relance uma partida da Liga Árabe.

Dentro de suas preferências, Noir destaca que o corte degradê é o mais solicitado. “Agora os jogadores cortam o cabelo uma vez por semana”, comenta sobre um mundo que o levou à fama e que, hoje, 16 anos após sua estreia profissional, ele observa sentado em uma cadeira, esperando um novo cliente entrar em sua barbearia.

Alex Barsa

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