Não foi possível fazer nada. Com o “diz-se”, você pode sujar a reputação de qualquer pessoa e nada acontece. Ricardo “Tito” Noir lembra, para LA NACIÓN, o momento mais traumático de sua carreira profissional. Era o ano de 2010. Ele não encontra explicação e não se esforça para encontrar um culpado. Conhece as regras do futebol que o ajudaram a se fortalecer, mas mesmo assim não entende por que foi apontado em um caso que o envolveu com o goleiro Sebastián Peratta. “Peratta falava muito sobre o Rosario Central, pois eles estavam na B… e os provocava. Talvez tenham me apontado porque eu vinha do Boca e isso teria mais repercussão”, responde Noir, sem rodeios sobre os rumores maliciosos que o ligaram, fora do campo, ao então goleiro do Newell’s. O que começou como um rumor, transformou-se em uma “verdade” apoiada pelos torcedores, segundo Noir. “Foi difícil”, explica e continua: “Primeiro minha irmã me ligou e me perguntou. Eu não entendia nada. Depois minha mãe ligou e me sugeriu voltar para o interior e disse: ‘O futebol é uma m…’. “Com Sebastián, não tínhamos proximidade, eu me juntava aos mais jovens como (Lionel) Vangioni e (Mauricio) Sperdutti”, afirma Noir, que deixou Rosario naquele mesmo ano, cheio de rumores infundados. Sobre sua estadia no Newell’s, ele destacou o trabalho dos dirigentes da época e também de Gerardo “Tata” Martino, que tentou convencê-lo a ficar, mas já não havia mais jeito e a porta estava fechada para continuar no time rubro-negro. Ricardo Noir fez sua estreia –com gol – no time principal do Boca em uma partida contra o Racing. Era 2008 e o nativo de Villa Elisa, Entre Ríos, começou a entender o que significava estar no mundo do Boca. “Naquela época não havia chefe de imprensa e era tudo mais desorganizado. Talvez dez jornalistas te ligassem por dia. Não havia filtro. Lembro que me perguntavam o tempo todo sobre Palermo e Riquelme, se nos dias antes dos jogos houve alguma discussão entre eles. Muitas coisas são ditas sobre o Boca que não são verdadeiras e eu entendo que eles têm que encher espaço nos programas. Hoje olho com um tom de diversão, mas às vezes exageram. Sempre matam Riquelme, entendo que deve ser por algo político, muitas coisas não se explicam”, destaca Noir. Com uma ligação direta com Riquelme, que o aconselhou em seus primeiros anos como profissional, Noir indicou ser “muito próximo” do ex-jogador. Inclusive, ele ri quando se fala de sua influência todo-poderosa no mundo do Boca: “Você acha que o Román vai armar o time para o técnico… jogariam todos os seus amigos e eu não acho que seja assim. Não entra na minha cabeça. Do Boca, ele pegou, em 41 jogos disputados, dois títulos: o Apertura 2008 e a Recopa Sul-Americana 2008. A carreira de Noir continuou no Banfield –onde conseguiu o acesso à Primeira em 2013-, no Racing –onde coincidiu com Diego Milito, Lautaro Martinez e o “Huevo” Acuña-, no Huracán, no Atlético Tucumán e no San Martín de Tucumán. A reviravolta em sua carreira ocorreu em 2019 com a morte de seu pai Aníbal, com quem conversava após cada partida e o aconselhava a tirar o máximo proveito de suas habilidades. Suas últimas estocadas no futebol foram no Club Atlético Palmaflor, na Bolívia. Lá, em Cochabamba, Noir recebeu outro impacto que o levou a pendurar as chuteiras. “Pai, estou cansada de celebrar meu aniversário com pessoas que eu não conheço. Eu sei que vivemos bem graças ao que você faz, mas já estou cheia”, foram as palavras de sua filha Geraldine, na época com 13 anos, que percebeu que passava o tempo vagando por diferentes províncias e países seguindo a vida do jogador de futebol. “Nunca havia parado para pensar nisso, então eu disse a ela que minha carreira terminava na Bolívia e nós voltaríamos para o interior”, recorda, nostálgico. A extensa carreira profissional de Tito Noir incluiu uma passagem pelo Banfield, onde conseguiu o acesso à Primeira Divisão. A aposentadoria para um jogador de futebol tende a ser traumática. Principalmente para aqueles que não conseguiram construir um futuro durante sua carreira. Por isso, Noir só reclama de seu primeiro agente, a quem chamou de “marginal” por não lhe pagar o dinheiro que lhe correspondia por sua transferência. “Quando eu tinha esse agente não conseguia nem comprar um terreno; agora, quando não o tive mais, consegui construir uma casa em Buenos Aires. É aí que você percebe que há pessoas que não prestam”, destaca, crítico em relação a parte do ambiente que cerca o esporte. Uma vez que a bola passou para um segundo plano, Noir a trocou por tesouras. Depois de fazer um curso de cabeleireiro em Colón, a 30 quilômetros de sua casa, o ex-jogador montou um salão em sua casa, que decorou como se fosse um museu com camisas de jogadores como Ronaldinho, Riquelme e acrescentou um móvel com um espelho para seu novo trabalho. “Não sabia o que fazer quando me aposentei. Fiz o curso de cabeleireiro e montei um salãozinho em casa”, ele expressa e, na mesma linha, continua: “Corto o cabelo de meus amigos e conhecidos. Um se diverte porque agora os meninos mostram um corte que viram na Internet para me fazer e eu digo a eles: ‘Hey, você está me dificultando as coisas’. Tenho que me manter atualizado”, esclarece, entre risos, enquanto observa de relance um jogo da Liga Árabe. Noir assegurou que um dos cortes mais solicitados como cabeleireiro é o degradê. Em suas preferências, Noir esclareceu que o corte estilo degradê é o mais solicitado. “Agora os jogadores cortam o cabelo uma vez por semana”, ele retruca sobre um mundo que o levou à fama e, hoje, a 16 anos de sua estreia profissional, ele está sentado em uma poltrona à espera de um novo cliente em sua barbearia.
Ele foi campeão com o Boca, uma frase de sua filha o fez repensar tudo e agora ele é cabeleireiro: “Nunca tinha pensado nisso”
- Post publicado:13 de novembro de 2024
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Alex Barsa
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