Ele saiu campeão com Boca, não há nada sobre ele na Internet e hoje ele se dedica às finanças: “É um clique que todo mundo tem que dar”

  • Tempo de leitura:6 minutos de leitura

Roberto Colautti se autodefine como uma pessoa de “perfil baixo”. Há pouco material de arquivo sobre ele na internet. Apenas alguns vídeos de gols no Boca, Maccabi Haifa e na seleção de Israel aparecem ao digitar seu sobrenome do outro lado da tela.

“Fotos da época em que jogava futebol? Desses eu não tenho nada”, esclareceu, de Madri, sua cidade de residência, à LA NACION. O último registro futebolístico de Colautti data do AEK Larnaca, em Chipre, onde jogou em 2015 e se aposentou profissionalmente na metade daquele ano. Na época, o nativo de Lozada, uma cidade na província de Córdoba, tinha 32 anos, uma idade, à primeira vista, prematura para encerrar a carreira.

Colautti surgiu no Boca e fez parte de dois títulos: o Torneio de Abertura 2003 e a Copa Intercontinental 2003, onde o Boca venceu o Milan. Sob a tutela de Carlos Bianchi, o atacante fez suas primeiras armas no clube de La Ribera. “Cresci no Boca. Levo o Boca no meu DNA. Ao crescer na pensão, tive treinadores de alto nível, com carreiras de destaque, e sonhava em estrear na Primeira. Tive a sorte de ter jogado em diferentes estádios ao longo da minha carreira, mas nada se compara à La Bombonera”, destacou Colautti.

Sem os minutos necessários para se destacar, o ex-jogador precisou de um impulso para ganhar confiança e partiu para o Lugano, na Suíça. “Foi a primeira vez que sai do país. Não foi a melhor experiência porque o presidente do Lugano se suicidou em um lago e, a partir daí, investigaram o clube, o gerenciaram e decretaram seu rebaixamento para a segunda divisão, além de cortes orçamentários”, exclamou sobre sua breve passagem pela Suíça. Ao retornar ao país, o Boca o emprestou novamente, desta vez ao Banfield, onde Colautti explicou que foi uma experiência “super enriquecedora” e o ajudou a ter regularidade na Primeira Divisão, o que permitiu a ele se destacar e chamar a atenção de outros times ao redor do mundo.

O Maccabi Haifa adquiriu os serviços de Roberto Colautti em 2004. Em Israel, um país que poderia parecer distante da realidade argentina, ele encontrou seu lugar no mundo. O jogador não só revitalizou sua carreira, mas também conheceu Alvit, hoje sua esposa. O contato com Alvit necessitou de dois intermediários: Patricio, um amigo de Colautti que tinha um bar em Israel, e um dicionário físico para se comunicar. Um mês após sua chegada, o jogador visitava seu compatriota, que o acompanhava para almoçar e jantar. “Meu amigo era o dono da cafeteria, atendia as mesas e falava hebraico perfeitamente. Eu ia almoçar e jantar até que um dia conheci Alvit. O único problema era que eu não falava uma palavra de hebraico ou inglês, então pedi a Patricio para convidá-la para jantar. Ela aceitou e, com um dicionário entre nós, começamos a nos comunicar”, lembrou Roberto, que hoje em dia fala fluentemente hebraico, inglês e alemão.

Durante os três primeiros anos que permaneceu em Israel, Colautti conseguiu o Maccabi Haifa comprar seu passe, naturalizou-se para jogar na seleção daquele país e… fugiu de uma guerra. “Estávamos treinando com o Maccabi Haifa e o capitão da equipe nos reuniu para dizer que a Guerra com o Líbano havia começado e cada um de nós deveria ir para casa em busca de um lugar seguro”, detalhou sobre o conflito bélico que ocorreu em 2006 e o obrigou, assim como sua esposa, a se mudar para Tel Aviv até novo aviso.

Seu percurso pela Europa incluiu uma estreia – com gol – na seleção de Israel e passagens pelo Borussia Mönchengladbach, Maccabi Tel Aviv e Anorthosis de Chipre, até a aposentadoria aos 32 anos. Roberto Colautti é o responsável na América do Sul por uma plataforma Fintech chamada Bit2Lend, com sede em Madri. Este rápido salto, fruto da curiosidade e das constantes formações, transformaram-no num especialista em finanças. Assim como no futebol, o ex-jogador subiu de patamar ao conhecer diversas pessoas que o ajudaram a adentrar em um mundo distante dos campos. “É uma transformação que se deve fazer. É preciso pensar além do futebol. No meu caso, sou curioso e consegui me reunir com pessoas que entendiam do assunto. Se tiver sorte de ter ao seu redor pessoas em quem possa confiar e, ainda por cima, são profissionais, excelente, mas nem sempre é o caso”, disse Colautti, que criou, juntamente com alguns sócios, uma plataforma Fintech para operar com criptomoedas. Segundo seu depoimento, a intenção é facilitar o fluxo de dinheiro entre a Argentina e a Europa, além de oferecer empréstimos “colaterais” com moeda digital.

Hoje em dia, do outro lado do balcão, Colautti indicou que, em alguns casos, os jogadores não têm as ferramentas necessárias para se desenvolverem. “Deve-se ter em conta que, dada a agitação pela qual passa um jogador de futebol, é difícil preparar-se academicamente. Além disso, no meu caso, o mercado não é o mesmo que há 20 ou 40 anos. Os jogadores dedicam toda a sua vida ao esporte e depois, quando terminam, se perguntam que caminho seguir”, afirmou.

Morando em Madri há sete anos, o ex-jogador reside com sua esposa e suas quatro filhas, de nacionalidade israelense. Sua última visita ao país foi em dezembro de 2024, quando se encontrou com parentes e até retornou à La Bombonera, o local onde tudo começou. Com o celular apenas para responder mensagens no WhatsApp e chamadas, Colautti rejeitou terminantemente sua participação nas redes sociais.

“Não, eu não tenho nada”, afirmou o ex-Boca e Banfield quando perguntado sobre sua presença no mundo tecnológico, onde muitos de seus colegas relembram seus gols e passagens pelos diferentes times. Aos dez anos de sua aposentadoria em solo cipriota, Colautti é mais um dos muitos jogadores que encontraram uma luz no fim do túnel e reinventaram suas vidas longe do fervor do mundo do futebol.

Alex Barsa

Apaixonado por tecnologia, inovações e viagens. Compartilho minhas experiências, dicas e roteiros para ajudar na sua viagem. Junte-se a mim e prepare-se para se encantar com paisagens deslumbrantes, cultura vibrante e culinária deliciosa!