Entre histórias e reencontros: Um bairro portenho celebrou a abertura de sua primeira praça

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Uma mulher com um vestido listrado agitava uma vareta de plástico na entrada da praça. Ela caminhava pelo caminho vermelho que cruzava o terreno de ponta a ponta, enquanto as bolhas que ela lançava flutuavam sobre a grama. Perto dos montes de borracha, um grupo de crianças corria em círculos. Ao lado, um casal mais velho tomava chimarrão sentado em um dos bancos. Nesse espaço, onde antes não havia nenhum lugar público de encontro, foi inaugurada no último sábado a Praça Villa Santa Rita. Localizada na Álvarez Jonte 3222, é o primeiro espaço verde do bairro e foi projetado para os mais de 30.000 moradores que vivem num raio de um quilômetro.

A área tem 1.725 metros quadrados e está dividida em setores para jogos, descanso, encontros, leitura e permanência. Possui um pátio de jogos de 113 m², uma área de descanso de 26 m² com bancos e sombra, um espaço de encontro de 55 m² com mesas debaixo de uma pérgola, mais de 800 m² de grama e 360 m² de canteiros. Também há estações de exercícios aeróbicos e sinalização com normas de uso, incluindo a entrada de animais de estimação com trela, a disposição de resíduos e os espaços permitidos para atividades físicas.

Durante o dia da inauguração, as famílias percorreram a praça enquanto as crianças participavam de diversas atividades. Uma delas foi o “Desafio de energia limpa”, onde cinco bicicletas fixas faziam avançar caminhões de lixo de brinquedo sobre uma pista horizontal. Cada pedalada movia um veículo. Nos lados, dois educadores explicavam que o jogo tinha como objetivo ensinar sobre o cuidado com o planeta, a separação de resíduos e a importância de manter a cidade limpa. As crianças pedalavam no “Desafio de energia limpa”, uma das atividades educativas itinerantes.

Numa outra parte do terreno, funcionava o “Reciclatón”, uma estação lúdica onde as crianças corriam dentro de um aro giratório, empurrando embalagens plásticas até um ponto final, enquanto um cronômetro registrava o percurso. A proposta simulava um circuito de reciclagem e visava ensinar, através do movimento, a importância de reduzir resíduos, reutilizar materiais e manter a cidade limpa. Educadores do programa acompanhavam a dinâmica e forneciam informações às famílias. Assim como o “Desafio de energia limpa”, essa atividade foi organizada pela Secretaria de Espaço Público e Higiene Urbana da prefeitura e faz parte de um circuito itinerante que visita várias praças da cidade.

Mabel Mussio, moradora do bairro, ficou no meio da praça olhando as crianças balançando nas balanças. “Você não sabe como era isso; um lixão. Às vezes, atravessávamos do outro lado da calçada para não ver como estava. Fico muito feliz que depois de tantos anos sonhando com uma praça, isso se torne realidade. A gente vê as crianças, cercadas de verde, correndo livres, e é impossível não se emocionar. É algo que esperei a vida toda e que pensei que não veria acontecer”, disse ao jornal.

A poucos metros dali, uma menina com uma estrela desenhada no rosto subia no escorregador. Seu pai a esperava embaixo com os braços abertos. O posto de maquiagem estava montado num canto do terreno: dois espelhos com luzes, pincéis, água, glitter, cotonetes. Uma mulher com seu filho no colo escolhia entre uma borboleta ou um raio. Nos lados, havia bancos de concreto, alto-falantes e pessoas observando.

Gabriel Bazán, avô de uma menina que brincava perto, sentou-se num dos bancos de concreto e observou enquanto ela balançava na balança. “Estou feliz. Ter um lugar onde posso ver minha neta se divertir longe do cimento. É um lugar de pertencimento. É necessário ter espaços verdes”, disse ao jornal. A poucos metros dali, famílias e moradores se aproximavam de uma mesa com livros espalhados sobre um pano azul. Ali funcionava a Feira Rio de Livros, uma iniciativa que oferecia mais de 1.600 títulos para trocar. “A feira foi criada pelos moradores, para promover a leitura e fortalecer os laços comunitários”, explicava um cartaz. “Isso não existia aqui antes. É algo novo e muito esperado”, dizia uma mulher que levava um romance e deixava uma enciclopédia.

O prefeito da cidade, Jorge Macri, participou da inauguração e percorreu a praça enquanto conversava com os moradores. “Com esse novo espaço verde, Villa Santa Rita deixa de ser o único bairro da cidade sem praça”, disse. E acrescentou: “Essa obra também faz parte do que estamos fazendo em toda a cidade: mais de 120 melhorias em parques e praças planejadas para 2025. Mais espaços verdes, melhores áreas de jogo, mais iluminação e mais segurança”.

Ignacio Baistrocchi, secretário de Espaço Público e Higiene Urbana, enfatizou que com essa obra “se quita uma dívida histórica com os moradores de Santa Rita”. E acrescentou: “É um desejo que atravessou gerações e que hoje, graças ao impulso dos moradores e ao trabalho da cidade, pode ser cumprido”.

Uma das moradoras que fez parte do grupo impulsionador lembrou ao jornal: “O primeiro registro dessa luta é de 1927, quando foi criada a sociedade de promoção do bairro. Desde então, se pede uma praça e nunca se conseguiu. Para nós, é uma grande festa que o bairro tenha seu próprio espaço verde. É uma conquista que mostra o que se pode alcançar quando a comunidade se organiza e não baixa os braços. Essa praça é muito mais do que um espaço: fala de comunidade, de amor pelo bairro, de gerações engajadas. Estamos muito felizes, mas sempre ressaltando que isso é apenas o começo”.

A história da reivindicação por uma praça na Villa Santa Rita passou por várias etapas e gerações. Nos anos 80, moradores do bairro impulsionaram pela primeira vez a ideia de criar um espaço verde. A proposta inicial era expropriar um terreno onde funcionava uma fábrica de cigarros, mas não avançou. Anos depois, foi avaliada a possibilidade de utilizar um terreno que havia sido uma quadra de tênis, mas também não prosperou. A reivindicação ganhou força novamente durante a pandemia, quando o valor do espaço público e o acesso ao ar livre se tornaram temas centrais. Foi então que surgiu o grupo vizinho “Uma praça para Villa Santa Rita”, que começou a se encontrar, buscar terrenos possíveis e apresentar o projeto às autoridades. Após várias gestões, em março de 2023 a Legislatura aprovou a expropriação do lote localizado na Álvarez Jonte 3222. A compra foi concretizada em dezembro do mesmo ano. Em julho de 2024 foi lançada a licitação da obra, à qual dez empresas se apresentaram. A adjudicação foi feita em novembro e os trabalhos começaram imediatamente. Em menos de cinco meses, o bairro viu erguer-se a primeira praça de sua história.

Um mural pintado numa das paredes medianeiras representa cenas relacionadas com a comunidade, a educação e o cuidado com o meio ambiente. No centro, um livro aberto dá origem a uma árvore. À esquerda, duas mãos adultas entregam uma planta a mãos mais pequenas. À direita, uma figura com jaleco branco está sentada, cercada de livros, um cachorro, dois gatos e material escolar. Borboletas, beija-flores e flores completam a paisagem. Acima, em letras grandes, lê-se “Villa Santa Rita”. Ao longo do dia, muitos moradores pararam para olhá-lo. Alguns o fotografaram. Outros apontaram para seus filhos.

A praça não teve cerimônia formal de abertura. Não houve palco nem corte de fita. Apenas a ocupação progressiva do local. Pessoas mais velhas com bengalas, crianças com mochilas, casais, mães com carrinhos, amigos do bairro. Alguns se sentaram nos bancos. Outros caminharam pelos caminhos. Muitos se encontraram por acaso. Outros tinham coordenado.

Ao final da tarde, as bolhas não flutuavam mais, mas os jogos ainda estavam em uso. Os bancos ainda estavam ocupados. Os livros ainda estavam trocando de mãos. As mochilas se acumulavam perto dos canteiros. Algumas crianças não queriam ir embora. As famílias se despediram prometendo voltar. A praça já estava aberta.

Alex Barsa

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