Foi o primeiro dia e Thiago Rojas, de 16 anos, estava ansioso. As coisas que ele sempre gostou, mas que não estavam tão presentes na escola, como ele gostaria, agora estavam mais próximas. Nesta tarde, ele começou seu treinamento no TUMO, o centro educacional extracurricular não formal e gratuito, projetado para adolescentes de 12 a 18 anos, lançado pelo Ministério da Educação da Cidade no Centro Metropolitano de Design, em Barracas. Lá, Thiago aprenderá programação, animação, design gráfico, música e robótica, entre outras disciplinas.
“Eu acho que vou me orientar principalmente para o design de jogos, é isso que eu quero fazer, mas com certeza vou aprender de tudo”, disse enquanto esperava nas escadas vermelhas o início deste primeiro dia. “Estou muito animado”, adicionou. Este adolescente – que mora em Turdera, Lomas de Zamora, e estuda em uma escola técnica em Retiro – é um dos quase 1000 estudantes secundaristas que estrearam nesta experiência hoje. A proposta visa que os jovens aprendam de forma criativa e inovadora habilidades que serão muito úteis no mercado de trabalho.
Havia timidez e certo desconhecimento; tudo parecia novo e diferente. Embora a primeira leva de estudantes tenha comparecido de manhã, à tarde, o sistema teve seu batismo de fogo, já que foi o turno que concentrou a maior demanda de vagas. Antes das 16h, a fila já dobrava a esquina da rua Algarrobo. A maioria deles foi acompanhado pelos pais; muitos, segundo relataram, não costumam se deslocar sozinhos ou não frequentam esta área da cidade. “Eu me desloco sozinho, mas lamento que ainda não tenha sido aberta a estação Hipólito Yrigoyen do trem Roca, que fica a uma quadra. Em vez disso, tive que vir de Constitución”, lamentou Rojas.
Na fila, havia timidez e certa incerteza. Tudo parecia novo e diferente. Por exemplo, uma vez que se registraram, foi explicado que, a partir desse momento, o sistema os habilitaria por reconhecimento facial. Uma vez lá dentro, eles foram organizados em grupos e cada um, com seu treinador ou coordenador, começou a conhecer os espaços, as salas de aula e como seria o funcionamento.
O TUMO é uma metodologia desenvolvida e patenteada na Armênia, e busca que os estudantes comecem a desenvolver habilidades que serão muito úteis no mercado de trabalho atual, conhecimentos que nem sempre são adquiridos no sistema educacional formal. No centro de Barracas não haverá notas ou avaliações, em vez disso, eles devem progredir nos projetos para serem promovidos para o próximo nível e construir assim seu próprio portfólio de projetos: uma pasta digital com diferentes iniciativas e desenvolvimentos em que trabalharam, que será sua melhor carta de apresentação na hora de procurar emprego, explicou Pedro Moneda, CEO da TUMO Buenos Aires.
Durante o primeiro mês, os alunos realizarão um “onboarding”, uma espécie de indução ao sistema, onde aprenderão em oito aulas (duas horas duas vezes por semana) os conceitos básicos do sistema, como acreditar os conhecimentos e as aprendizagens, e o que cada uma das oito disciplinas que podem escolher para começar a formar, detalhou Moneda. As disciplinas são: programação, robótica, design 3D, animação, design de vídeo, produção de música, produção de cinema e design gráfico. A partir daí, começarão o treinamento específico. O primeiro será por meio de autoaprendizado: usarão computadores fornecidos pelo Ministério da Educação, nos quais completarão etapas de um treinamento digital guiado, no qual os treinadores terão intervenções ativas e sob demanda dos alunos.
Esta etapa não tem um tempo definido. Nem em termos de aulas nem de ciclos. É uma etapa para incorporar noções elementares e igualar todos os alunos para estarem no mesmo nível ao passar para a formação específica, nas salas de aula com os professores.
De qualquer forma, estima-se que os primeiros alunos passarão para a próxima fase a partir de setembro. A partir de então, receberão formação direta com professores. As disciplinas mais escolhidas pelos adolescentes até agora foram programação e design de jogos, mas os professores estão confiantes de que, com o passar das aulas, os alunos se abrirão para outras. “A experiência internacional diz que cada aluno permanece cerca de dois anos e meio, aprendendo entre quatro e cinco disciplinas”, apontou Moneda. Por enquanto, inscritos são 60% do sexo masculino e 40% do feminino.
Por enquanto, os inscritos são 60% do sexo masculino e 40% do feminino, embora esperem que com o tempo os gêneros se equiparem. O 80% vem de escolas públicas. E a inscrição ainda está aberta, já que o sistema tem capacidade para formar até cerca de 6000 alunos simultaneamente. Aqueles que optarem por estudar de manhã terão vaga imediata e aqueles que optarem por à tarde terão que esperar alguns meses para começar, foi informado.
No turno da tarde são dois os horários: às 16h e às 18h. O centro permanece aberto até às 20h, pois são módulos de duas horas. Nesta tarde, muitos pais esperavam do outro lado da rua interna do Centro Metropolitano de Desenho, com expectativa e perguntas para seus filhos. Outros se instalaram no Blue Café, que reabriu nestes dias dentro do recinto. Para muitos, isso será uma espera longa, duas vezes por semana. Moneda disse que trabalharam para melhorar a conectividade e a segurança. Duas linhas de ônibus mudaram suas paradas para deixar os estudantes mais perto. Além disso, a iluminação foi aprimorada e uma estação policial foi colocada nas esquinas, para trazer maior tranquilidade. A reabertura da estação Hipólito Yrigoyen é um pedido de vários pais.
Além do treinamento com autoaprendizado e oficinas com professores, haverá uma terceira etapa que serão as capacitações intensivas, com figuras internacionais relevantes na indústria de cada uma das disciplinas, adiantou Moneda.