O PP de Alberto Núñez Feijóo apoia como algo “lógico” e “normal” o fato de a presidente da Comunidade de Madri, Isabel Díaz Ayuso, homenagear, receber e premiar o presidente argentino, Javier Milei, sem consultar o Governo central, em plena crise política, diplomática e institucional entre os dois países. Essa posição oficial foi expressa na sexta-feira pela secretária-geral e número dois do PP, Cuca Gamarra, que aproveitou para denunciar como “inaceitável” o fato de um membro do governo de Pedro Sánchez “insultar” Milei e de nenhum membro desse governo ter comparecido à posse de um presidente legitimamente eleito pela maioria dos argentinos. O PP de Feijóo relacionou essa posição como uma reação à “constante deslealdade” e ocultamento de ações do governo em relação à política externa.
A direção nacional do PP não está confortável com muitas atuações unilaterais e sem consulta da presidente de Madri, Isabel Díaz Ayuso, em nível nacional, como é o caso agora de sua oposição a qualquer pacto para renovar o Conselho Geral do Poder Judiciário, e também suas intromissões na política internacional, como no caso da recepção a Javier Milei em competição com as homenagens e convites que o presidente argentino recebeu do Vox na recente campanha europeia. A cúpula do PP de Feijóo, no entanto, evita entrar em confronto direto com Ayuso sobre o assunto da visita de Milei a Madri sem um convite formal do Governo.
Fontes oficiais da direção nacional do PP destacaram que seu critério é receber “com igual respeito a Gustavo Petro e Javier Milei”, em referência à anterior visita a Madri, com convite oficial, do atual presidente da Colômbia, a quem Ayuso não tratou da mesma forma que Milei. Os populares enfatizaram que é melhor “respeitar os líderes internacionais do que chamá-los de drogados”, em alusão ao ataque que Milei sofreu do ministro dos Transportes e ao fato de tratarem todos com respeito em relação a um governo que complica as relações diplomáticas do país insultando presidentes que pensam diferente.
Cuca Gamarra, número dois do PP, compareceu na sexta-feira no Senado para anunciar a formação de uma comissão de investigação sobre as manipulações políticas em favor do PSOE no CIS de José Félix Tezanos, mas respondeu a várias perguntas sobre a crise com a Argentina. Gamarra insistiu na ideia de que o PP espera “normalidade nas relações internacionais” e reiterou que seria “lógico” receber Milei “nas mesmas condições” que outros líderes, e “ilógico” nenhum ministro do governo de Sánchez ter comparecido à posse de Milei.
Gamarra esclareceu que ninguém do governo argentino solicitou uma reunião entre Milei e Feijóo para justificar a falta de um encontro oficial entre o presidente do PP e o argentino, e evitou comentar a recepção de Ayuso a Milei. A direção do PP enfatizou várias vezes a importância de buscar “normalidade e cordialidade” entre os dois países, acima de seus governos.
O que mais incomodou a cúpula do PP foi a crítica do Governo de que os populares não respeitam o mandato de não interferência em política externa de outras administrações, conforme estabelecido na lei de Ação Exterior. Fontes do PP especializadas em política internacional destacaram que o governo de Sánchez é “desleal” com a oposição ao não compartilhar ou informar sobre questões internacionais, ao usar a política externa para fins partidistas e ao dar reviravoltas radicais, como no conflito histórico sobre o Saara Ocidental. As mesmas fontes chamaram o governo de Sánchez de “hipócrita” por se indignar agora com Milei e Ayuso quando recentemente “passearam por Madrid com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que não é exatamente um grande democrata”. Além disso, setores do PP reconhecem que Milei não é um exemplo político a ser seguido, mas limitam as intenções de Ayuso nesse caso a “aparecer na vitrine” e confrontar Sánchez.
