A mudança de goleiro de última hora. Sua postura na disputa de pênaltis. Os problemas de comunicação com os jogadores. A decisão de não elaborar uma lista de batedores e deixar os jogadores decidirem. Suas declarações pós-jogo afirmando que “no futebol sempre ou geralmente se perde” e sugerindo que a entrada de Leandro Brey no lugar de Agustín Marchesin, aos sete minutos do acréscimo, era algo combinado, quando as câmeras de TV mostraram o contrário. A expressão séria de Juan Román Riquelme na tribuna e o coro de “que se vayan todos” da torcida do Boca na Bombonera, que sinalizou um rompimento com jogadores, técnico e dirigentes. Não era preciso ser erudito para perceber que Fernando Gago tinha os dias contados como técnico do Boca. A eliminação fatídica para Alianza Lima foi a gota d’água que fez transbordar um copo cheio e que poderia derramar por completo se o treinador apresentasse sua renúncia após a derrota para o time peruano. No entanto, após uma série de reuniões entre Riquelme, os membros do Conselho de Futebol e o próprio técnico do Boca, a diretoria decidiu dar-lhe mais uma chance no banco xeneize e confirmá-lo no cargo para o jogo desta sexta-feira contra o Rosario Central, mais uma vez na Bombonera. No entanto, sua continuidade dependerá não apenas dos resultados, mas também do desempenho da equipe. “Não há margem para erro”, foi a mensagem transmitida pelo Conselho. Será possível resistir dessa maneira? Marcelo Delgado é um dos membros do Conselho de Futebol do Boca, que se reuniu nesta terça-feira com Gago após concordar com uma mensagem do presidente, Román Riquelme. Foram apenas 22 jogos que deixaram Gago à beira do precipício. Pintita conquistou 11 vitórias, seis empates e cinco derrotas, um respeitável 59% de eficácia manchado pelas eliminações na Copa Argentina (derrota por 4-3 para o Vélez) e na Fase 2 da Libertadores. O time não apareceu e os maus resultados podem acelerar a saída de um treinador que utilizou 30 jogadores e dez formações diferentes ao longo de 2025. “Será jogo a jogo”, foi a frase mais repetida nesta quarta-feira em Ezeiza após a conversa de Gago com os membros do Conselho de Futebol. Riquelme também estava no centro de treinamento, mas não teria participado da reunião. O presidente do Boca observou o jogo de seu camarote e deixou a Bombonera de madrugada, quando apenas os funcionários de segurança do estádio permaneciam lá. Se Gago renunciasse na coletiva de imprensa, Riquelme estava disposto a aceitar. Mas o treinador declarou ter “100% de força para continuar” e a decisão final foi adiada para esta quarta-feira, após o treino da tarde. Gago, que conhece o mundo Boca, está sentindo a pressão do cargo de treinador, mas após a eliminação para Alianza Lima ele garantiu que tem “forças” para seguir. Gago liderou o treino normalmente e convocou os jogadores para voltarem a treinar nesta quinta-feira, quando anunciará a lista de concentrados para o jogo com o Rosario Central. Após o ensaio, Gago se reuniu com o Conselho e mostrou-se convencido de poder reverter a situação, contanto que tenha o apoio da diretoria. Há questões do Gago treinador que não se encaixam no círculo de Riquelme. Entre elas, a mania do treinador de rotacionar constantemente os jogadores (algo que possivelmente acabará sem competições internacionais no horizonte) e questões relacionadas ao manejo do grupo. Por exemplo: a maneira como Gago se dirige aos jogadores (a Román não gostou nada da bronca em Zeballos na derrota por 1 a 0 no Peru) e a forma como os jogadores resolveram a substituição de Brey por Marchesin e a ordem em que bateram os pênaltis. A transmissão mostrou o momento em que Milton Giménez, Kevin Zenón e Alan Velasco não conseguiam concordar sobre quem deveria executar o quinto pênalti. “Ele nos deixou loucos para trazer um goleiro e quando a situação apertou colocou Brey, e ele dizia que não estava pronto”, reclamaram do Conselho. A diretoria não tem dúvidas de que foi Marchesin quem sugeriu a mudança e consideram que se Gago não concordava ele deveria ter mantido o ex-jogador do Lanús apesar do pedido do goleiro. Nas últimas horas, a diretoria conversou com os jogadores-chave e detectou certo desgaste na relação com o treinador. Alguns jogadores não estão satisfeitos com os métodos do treinador e manifestaram, por exemplo, que ele é muito autorreferencial ao dar instruções – especialmente sobre sua passagem como jogador do Real Madrid – e que essas situações não são bem vistas em um grupo com poucos liderados e muitos líderes. Enquanto a situação de Gago era definida, o clube tentou adiar para sábado o jogo contra o Rosario Central e ganhar mais um dia de trabalho antes de uma possível saída do técnico. Além disso, Mariano Herrón, o principal candidato a substituí-lo – pelo menos de forma interina -, estava em Santa Fé, onde a equipe reserva do Boca enfrentaria nesta quinta-feira a do Unión. O próprio Boca havia solicitado à Liga para antecipar para sexta-feira o jogo com o Central, prevendo que a equipe jogaria na quarta-feira seguinte a ida da Fase 3 contra o vencedor de Deportes Iquique e Independiente Santa Fe, de Medellín. A reação dos torcedores ao treinador será outro fator a ser considerado na hora de tomar uma decisão. Em questão de horas, Gago perdeu o apoio de Riquelme e do Conselho, dos jogadores e o apoio mais importante: o da torcida. O treinador havia sido reprovado nos jogos anteriores e será necessário ver como o público reage a essa ousada decisão de Riquelme de mantê-lo no cargo por mais algum tempo. Após o confronto com o Rosario, virão duas semanas complicadas (Central Córdoba em 7/3, em Santiago del Estero, e Defensa y Justicia em casa, em 16/3) e após essas duas partidas haverá uma pausa de 15 dias devido às Eliminatórias. A ideia de Riquelme e companhia é que Gago chegue vivo à pausa da data FIFA e aproveite essas duas semanas sem futebol para resolver os próximos passos. No entanto, se não vencer nesta sexta-feira, é praticamente certo que Gago não continuará. Enquanto isso, a diretoria já começou a avaliar opções de possíveis substitutos. Gabriel Milito, Gabriel Heinze e Gerardo Martino são três nomes que agradam ao Conselho e que também estão sem trabalho. A prioridade agora é voltar a vencer em casa. E tentar apagar um incêndio que ameaça consumir tudo.
Fernando Gago seguirá no Boca, pelo menos por um jogo: Román Riquelme lhe dá outra chance.
- Post publicado:27 de fevereiro de 2025
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Alex Barsa
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