“Há produtos que não existem em outra parte do mundo. A jornada dos irmãos Petersen para revelar o DNA de uma cozinha muito singular”

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A geografia do Chile é um capricho da natureza. Uma linha estreita que se desdobra entre a cordilheira e o oceano, um país de contrastes onde, em questão de horas, é possível passar do deserto escaldante ao frio extremo dos fiordes. Ali, nesse cenário tão vasto quanto compacto, os irmãos Roberto e Christian Petersen embarcaram em uma nova jornada, uma viagem que é, ao mesmo tempo, uma descoberta e uma confirmação: a gastronomia é o mapa de um território, sua linguagem mais primitiva.

Os Petersen no Chile, o novo programa do canal elGourmet – lançado na segunda-feira, 3 de fevereiro no elGourmet -, é uma deriva calculada por essa paisagem desmesurada. Desde o bulício urbano de Santiago até o remoto Puerto Natales, os irmãos percorrem o país com a mesma curiosidade meticulosa com a qual exploraram a Argentina e o México em temporadas anteriores. Mas o Chile, com sua geografia “louca” – como define Roberto – apresenta a eles um desafio diferente: sua culinária é um reflexo de um país que se espelha no mar e na montanha. “É incrível como em questão de horas você pode mudar completamente de ambiente. Você passa do mar para a montanha sem perceber”, diz Roberto com entusiasmo.

Em San Pedro de Atacama, o deserto se converte em um laboratório gastronômico onde os ingredientes parecem desafiar a lógica. Ali, sob um sol implacável e cercados por uma imensidão árida, os Petersen descobrem a rika rika, uma erva que brota no meio do nada e que, ao ser cozida com guanaco e batatas da região, se transforma em um prato de matizes inesperados. Eles também se deparam com a farinha tostada, uma relíquia da infância chilena que sobrevive na memória coletiva e nas cozinhas familiares. “É impressionante ver como ingredientes que não costumamos usar ou nem mesmo conhecer podem fazer parte de pratos tão tradicionais”, comenta Roberto. Há ali uma fascinação pela preparação do guanaco, um prato incomum que lhes foi apresentado por um chef local no meio do deserto. “Nos surpreendeu muito, porque, embora seja um animal que associamos à região andina, nunca tínhamos tido a oportunidade de experimentá-lo assim, com os sabores de Atacama”, acrescenta.

Mais ao sul, em Puerto Natales, a gastronomia é uma questão de sobrevivência e luxo ao mesmo tempo. O caranguejo das enseadas chilenas, tesouro dos fiordes, chega às mãos dos irmãos no preciso momento em que é descarregado dos barcos. “Tivemos a oportunidade de pegar dois com nossas próprias mãos e levá-los caminhando até um hotel incrível, onde os entregamos a Hernán Basso, o chef do local”, conta Roberto. Eles o levam para a cozinha e o transformam em um guisado que, mais do que uma receita, é uma celebração da imediatez do mar. O mesmo ocorre com o cordeiro magalhânico, criado em uma paisagem onde o vento é uma presença constante e a carne adquire uma textura e um sabor únicos. “Foi um dos melhores cordeiros que comi na vida, cozido por um gaúcho local que tinha uma técnica incrível”, recorda com admiração. Nessa mesma estância, foram recebidos com uma calorosa hospitalidade difícil de esquecer. “Chegamos em uma lancha após uma viagem de mais de uma hora e, assim que colocamos o pé no píer, já tinham a mesa pronta, com cobertores para o frio e uma chaleira com café quente. Foi uma recepção maravilhosa”, relata.

Mas além dos ingredientes, dos mercados e das técnicas de cozinha, há algo que os Petersen encontram em cada destino: a hospitalidade. A comida é um gesto de boas-vindas. Em uma lancha que os leva até uma estância perdida entre as ilhas, são recebidos por um gaúcho com cordeiro assado. Em um restaurante ao ar livre em Atacama, uma cozinheira os aguarda desde a manhã com um ensopado fumegante. “A gentileza das pessoas é algo que me impactou. Nos recebiam de braços abertos, nos ofereciam comida, nos contavam suas histórias. É a parte mais bonita dessas viagens”, confessa Roberto. Também recordam com carinho sua passagem pela Pulperia Santa Elvira, um restaurante em Santiago onde experimentaram um creme de abóbora com farinha tostada. “A proprietária nos explicou que essa farinha é algo que os chilenos costumavam tomar quando crianças antes de ir para a escola. É um sabor que para eles tem um peso emocional enorme”, conta.

Em Frutillar, um clube alemão lhes lembra a herança dos imigrantes no país, com uma costela de porco defumada e um chucrute que os transporta para sua própria infância. “Esse prato me fez viajar no tempo. Comíamos isso com meu irmão quando éramos crianças, por causa de nossa herança alemã”, diz com nostalgia.

Em Santiago, os Petersen também exploraram a cena gastronômica moderna, visitando rooftops e mercados urbanos. “Fomos ao prédio mais alto da cidade, onde desfrutamos de uns drinques incríveis com uma vista espetacular”, conta Roberto. Também visitaram a Antigua Fuente, uma lanchonete emblemática com décadas de história. “A quantidade de pessoas que passa por ali é impressionante. Pedimos um sanduíche de porco e nos surpreendeu o tamanho, era gigante!”, acrescenta.

Nos Petersen no Chile, a gastronomia é o pretexto, mas a viagem é a história. Em cada parada há uma descoberta, em cada prato uma tradição que resiste. Quando a produção guarda as câmeras e a noite cai sobre o deserto, os irmãos levantam os olhos e veem um céu estrelado, tão claro que permite distinguir os satélites. “Não consigo te explicar como era aquele céu completamente estrelado. Ficamos todos atônitos, sem palavras”, recorda Roberto. A viagem, pensam, é também isso: um instante de admiração, um lampejo fugaz que fica na memória, como um sabor irrepetível.

Alex Barsa

Apaixonado por tecnologia, inovações e viagens. Compartilho minhas experiências, dicas e roteiros para ajudar na sua viagem. Junte-se a mim e prepare-se para se encantar com paisagens deslumbrantes, cultura vibrante e culinária deliciosa!