O sol se põe sobre a Avenida 9 de Julio e a umidade envolve cada passo. Na entrada do Obelisco, do lado exterior das grades, um grupo de quatro pessoas espera sua vez de subir. Eles se abanam com os ingressos e conversam entre risadas, enquanto olham para cima, onde a ponta branca do monumento se destaca no céu. “Somos da Colômbia, viemos de férias e vimos que hoje o mirante estaria aberto. Não podíamos perder isso”, conta Juliana Restrepo à LA NACION. “A gente vê em fotos, em filmes, mas estar aqui e saber que é possível subir é diferente. É como ficar no coração da cidade”.
Ao redor, o movimento é constante, embora sem aglomerações. Os visitantes chegam de acordo com o horário escolhido e param perto das grades, de onde veem aqueles que descem pela pequena porta lateral. Cada grupo espera pacientemente o momento de entrada. “Eu sou daqui, mas tinha curiosidade”, diz Martín, morador do bairro porteño de Chacarita. “É uma maneira diferente de conhecer Buenos Aires, de olhá-la com outros olhos. De baixo, a gente anda por ela todos os dias, mas de cima deve ser outra coisa”.
O acesso custa $18.000 para residentes argentinos e $36.000 para visitantes estrangeiros. As entradas podem ser adquiridas na entrada do monumento ou através do site oficial, embora o sistema online ainda não esteja habilitado. A atração funciona todos os dias, das 9h às 17h, e cada grupo pode permanecer cerca de 20 minutos no interior.
Entre aqueles que esperam, a mistura de curiosidade e entusiasmo é visível. “Sempre quis ver como era por dentro”, diz Silvia Gutiérrez, que chegou com sua filha adolescente. “Nunca pensei que pudesse subir. É algo histórico, e além disso está tudo tão bem cuidado que emociona”. Atrás delas, um casal de turistas americanos tenta registrar o momento com uma câmera. “Queríamos fazer isso assim que chegamos. É uma forma de começar a conhecer a cidade a partir de seu símbolo mais famoso”, explica Michael Turner enquanto mostra o ingresso de entrada.
A experiência dura cerca de 20 minutos, mas a expectativa gerada se estende muito além. “Nos contaram que dá para ver o rio se o dia estiver claro. É algo que ninguém imagina quando passa por aqui”, acrescenta Juliana, a turista colombiana, ao sair. “É bom poder levar essa lembrança”. Atrás de seu grupo, outra família se prepara para entrar enquanto o pessoal organiza a entrada.
Pela primeira vez, o monumento mais emblemático de Buenos Aires não só pode ser visto: também pode ser habitado. O que durante décadas foi um ponto de encontro ou um símbolo distante agora se torna uma janela. “É muito curto, mas vale a pena”, diz Silvia Gutiérrez antes de sair. “É como subir um pouquinho até o céu de Buenos Aires”.
Nas calçadas próximas, pedestres param para olhar. Alguns tiram fotos, outros filmam com o celular a entrada e saída dos visitantes. Vendedores ambulantes de café aproveitam a sombra das árvores. “Há movimento, há turistas, há vida”, observa Francisco, o mendocino. “O Obelisco sempre foi um símbolo, mas agora também é uma experiência”.
De cima, a cidade é vista em toda a sua extensão: os carros minúsculos, as avenidas como linhas retas, os prédios e o horizonte apenas velado pela névoa. Quase nove décadas após sua inauguração, o Obelisco volta a ser notícia. O monumento que acompanhou protestos, comemorações e vigílias, que foi iluminado de todas as cores e testemunhou a história argentina, agora abre seu interior ao público permanentemente.