A presença de Javier Milei nas redes sociais costuma ser uma mistura de perfis anônimos, autoproclamados gurus de criptomoedas, slogans econômicos ultraliberais, insultos à “esquerda”, supostas receitas de autoajuda política e admiração de seus aliados pelo mundo. O presidente da Argentina embarcou na semana passada em sua nona viagem internacional em pouco mais de seis meses no poder. Ao retornar à Espanha, onde foi condecorado pela presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, a visita se tornou um ritual catártico para a ultradireita e a direita populista de ambos os lados do Atlântico.
Ayuso aproveitou ao máximo a visita, desafiando o governo espanhol em uma jogada e enviando uma mensagem aos líderes do Vox. “A Argentina ressoa hoje como nunca. Que nossa relação com esta nação irmã nunca seja rompida. Que a liberdade mude a vida de milhões de argentinos; em Madrid eles têm sua casa. Parabéns, Javier Milei”, escreveu em X. A liberdade, mote de campanha da líder popular e ideal reduzido a uma consigna pelo economista argentino, foi, como sempre, o centro de quase todos os discursos. Após as críticas recebidas por apoiar as invectivas do presidente portenho, Ayuso insistiu: “Esses eram a verdadeira elite, e são os que nos ameaçam simplesmente porque mantemos relações institucionais aqui com povos irmãos”.
A viagem de Milei à Espanha, que seguiu para Alemanha e República Checa, já estava programada há semanas, embora não houvesse uma agenda oficial bilateral. O motivo era a entrega de um reconhecimento do Instituto Juan de Mariana. Na recepção, ele foi aclamado com hosanas. A esfera de agitadores e comunicadores ultra também se regozijou com a visita, incluindo Vito Quiles, chefe de imprensa do eurodeputado ultradireitista Alvise Pérez. Um vídeo nas redes sociais registra o abraço entre Quiles e Milei, com declarações que se encaixam perfeitamente no script de todo político populista.
Novamente, a liberdade. Esse foi o embate cultural de Milei desde o início. Apropriar-se da palavra para dar-lhe outro significado. Francisco Martín Aguirre, delegado do governo na Comunidade de Madrid, resumiu tudo: “Medalha da Comunidade de Madrid para quem diz que ‘impostos são roubo’ e que ‘Justiça Social é uma abominação’, entre outras pérolas insuportáveis. Esse reconhecimento desleal e irresponsável à insolidariedade diz tudo sobre quem o concede. Madrid é muito mais”.
