O presidente argentino, Javier Milei, enfrentou a realidade esta semana. Após rumores, decidiu finalmente substituir seu chefe de gabinete de ministros, Nicolás Posse, amigo pessoal de Milei desde os tempos em que trabalharam juntos no setor privado. No entanto, suas habilidades como empresário se mostraram insuficientes para coordenar um governo. Milei, que está há quase seis meses no cargo, ainda não conseguiu aprovar nenhuma lei, algo inédito desde o retorno à democracia em 1983.
O presidente acredita que a política não está à altura dele e prefere focar em pregar suas ideias ultraliberais pelo mundo, enquanto deixa a gestão da crise econômica e social para sua irmã, Karina Milei, e para Posse, que agora foi destituído do cargo. Com sua lei emperrada no Senado, Milei finalmente cedeu ao que tanto dizia desprezar: a classe política.
O líder inquestionável de La Libertad Avanza perdeu meio ano de governo convencido de que apenas o apoio popular seria suficiente para desmantelar as estruturas existentes. No entanto, negligenciou o fato de que a Argentina, apesar de suas crises recorrentes, é uma democracia com instituições prontas para se defender. A escolha de Guillermo Francos como novo chefe de gabinete evidencia a rendição de Milei diante da realidade: não basta insultar pelas redes sociais para governar um país.
Guillermo Francos, homem da velha política com ideias liberais, terá o desafio de trazer a política para um governo que não acredita nela. A crise econômica na Argentina se agravou desde que o novo governo assumiu em dezembro, e a paciência dos cidadãos não é infinita. A pobreza cresceu, a inflação está alta e a produção industrial caiu. A situação é tão grave que apenas um grande acordo político, baseado no diálogo e no respeito entre os partidos, terá alguma chance de sucesso. Depois de um semestre de insultos presidenciais, parece que chegou a hora da política na Argentina. O tempo dirá se não é tarde demais.