O presidente do Brasil, principal parceiro comercial da Argentina, está sendo atacado por Javier Milei: o presidente de extrema direita renovou na sexta-feira os ataques ao seu homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, que havia exigido que ele pedisse desculpas por insultos anteriores. “As coisas que eu disse são verdadeiras. Quais são os problemas? Que eu disse que ele era corrupto? Ele não foi preso por corrupção? Que eu disse que era comunista? Ele não é? Desde quando precisamos pedir perdão por dizer a verdade?”, afirmou Milei poucos dias antes da Cúpula do Mercosul, onde ambos se enfrentarão. Além disso, o argentino questionou novamente os chefes de estado da Espanha, Pedro Sánchez, e da Colômbia, Gustavo Petro.
Brasil e Argentina mantêm uma aliança estratégica e são o coração do Mercosul. A economia brasileira representa 15% do comércio exterior da Argentina, tornando-se seu maior parceiro. Por sua vez, a Argentina é o terceiro parceiro do Brasil, contribuindo com 5% de seus negócios com o exterior, segundo dados oficiais. Apesar desse vínculo estreito e do fato de que Milei está na Casa Rosada há quase sete meses, os presidentes dos dois países nunca dialogaram.
“Ainda não falei com o presidente da Argentina porque acredito que [antes] ele tem que se desculpar com o Brasil e comigo, ele disse muitas bobagens, só quero que ele se desculpe”, afirmou Lula na quarta-feira passada. No entanto, ele acrescentou: “A Argentina é um país muito importante para o Brasil, e o Brasil é muito importante para a Argentina. Não será um presidente da República que vai semear discórdia entre Brasil e Argentina. O povo argentino e o povo brasileiro são maiores do que os presidentes”.
Milei não aceitou essa trégua implícita. Na sexta-feira, exultante após a aprovação no Congresso de suas leis para desregulamentar a economia e enxugar o Estado, intensificou seus ataques a Lula. “A verdade é que é uma discussão tão pequena. Parece uma discussão de crianças pré-adolescentes. O mesmo mecanismo de Petro, de Sánchez”, disse sobre o pedido de desculpas feito pelo presidente brasileiro. “Você acha que o Lula não fez coisas semelhantes? Petro e Lula fizeram coisas semelhantes, se envolvendo ativamente em nossa campanha”, acrescentou durante uma entrevista televisiva com o canal La Nación +.
Em seguida, Milei defendeu como “verdadeiras” suas qualificações anteriores de Lula como “corrupto” e “comunista”. Ele se recusou a pedir desculpas “por dizer a verdade”. “Estamos tão doentes de correção política que não podemos dizer a verdade à esquerda?”, questionou. E continuou: “Os que mentiram exigem que se peça desculpas por ter dito a verdade, vamos lá. Precisamos nos elevar acima dessas ninharias porque os interesses dos argentinos e brasileiros são mais importantes do que o ego inflado de algum esquerdista”, concluiu.
A tensão entre os dois chefes de estado começou no ano passado, durante a campanha eleitoral. Foi então que Milei classificou Lula como “comunista corrupto”. O brasileiro, por sua vez, pediu votos para o peronista Sergio Massa, o candidato derrotado por Milei. Depois, uma vez eleito presidente, o político de extrema direita convidou Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, para a cerimônia de posse em 10 de dezembro. Lula da Silva desistiu de participar da cerimônia e enviou seu chanceler, Mauro Vieira. Milei agora acusa Lula de ter impulsionado a “campanha negativa” de Massa contra ele.
A relação bilateral se complicou ainda mais nas últimas semanas porque dezenas de bolsonaristas, condenados ou investigados por participar da tentativa de golpe em 2023, fugiram para a Argentina em busca de refúgio, desrespeitando as medidas cautelares impostas pelo Judiciário.
Em contraste com sua agressividade contra Lula, Milei tentou se reconciliar com o Papa Francisco, a quem também havia insultado durante a campanha eleitoral. Ele admitiu que foi um erro chamá-lo de “representante do maligno na terra” e atribuiu isso a interpretações divergentes da doutrina religiosa.
“Afinal, reconheceu que isto não justificava seus adjetivos do ano passado.