O destino místico do Brasil que poucos conhecem e se tornou favorito para retiros

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A Comienzos do século XX, graças a pequenas plantações de café e trigo realizadas em uma propriedade chamada Fazenda Veadeiros – daí o nome do atual parque – essa imensidão inexplorada emergiu como uma nova maravilha por sua enorme riqueza natural. Paradigmaticamente, esse potencial econômico se tornaria sua maior ameaça devido ao avanço da agroindústria, que ocorreu durante as últimas décadas.

Com o desejo de proteger essa natureza exuberante da Chapada, foi criado o Parque Nacional de Chapada dos Veadeiros, originalmente chamado de Parque de Tocantins. Foi uma iniciativa do ex-presidente Juscelino Kubitschek, de ideologia desenvolvimentista e curiosamente, único primeiro mandatário de origem cigana. A ideia do parque coincidiu com outra proposta transformadora de Kubitschek: fundar Brasília, uma cidade virtualmente “inventada” no meio da selva no interior do país (longe das costas), para torná-la a nova capital federal do Brasil, algo que seria concretizado em 1960. O estilo modernista de Brasília, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, contrasta com a natureza impetuosa que espreita em suas bordas: Brasília fica a cerca de 231 quilômetros da Chapada. De lá, por uma estrada muito bem delimitada, a Go-118 que liga a capital ao Alto Paraíso de Goiás, chega-se ao parque.

Aproximadamente duas horas são necessárias para sair da geometria de Brasília e adentrar em seu oposto: um cosmos natural de formas incontroláveis. Por toda a geografia irregular, cortada por trilhas rodeadas de árvores de troncos retorcidos e arbustos rentes ao solo, com gigantescas pedras preciosas que em determinados trechos se tornam extensas planícies flutuantes, para então cair como lâminas, cercando profundos leitos de água, estende-se essa mesa ou “chapada” de mais de 1,8 bilhões de anos, a mais alta do Cerrado, a savana com maior biodiversidade do mundo.

Este espaço, onde habita cinco por cento dos animais e plantas de todo o planeta, tornou-se nos últimos anos o segredo melhor guardado de um turismo especializado para aventureiros e místicos.

A busca por harmonia espiritual e turismo sustentável conquista novos adeptos. Há alguns anos, a Chapada concentra retiros espirituais de todos os tipos, bem como atrai “rastreadores de OVNIs”, pessoas que se reúnem em noites estreladas aguardando algum sinal do céu, após mergulharem em uma das centenas de cachoeiras (piscinas naturais alimentadas por quedas d’água) de águas incríveis.

Felipe Carloni, fundador da Into Trip, conta que desde o início sua agência se propôs a fazer um turismo introspectivo, combinando a abordagem sensorial da natureza e do corpo sutil e interior: “Aqui, na Chapada, o misticismo brota literalmente do solo, feito de quartzo branco. Em muitas trilhas, o chão estala e brilha ao caminhar sobre alguns desses cristais que outrora despertavam a ambição dos buscadores de pedras preciosas. Agora essas pedras têm outro valor: sabe-se que os quartzo transparentes protegem contra más energias, além de trazer paz e segurança emocional. O quartzo é usado para equilibrar os chakras e promover um fluxo harmonioso de energia por todo o corpo. Realizamos retiros meditativos para revitalizar o corpo sensorial, combinando-os com caminhadas pela selva, tocando a madeira das árvores para nos conectarmos com a sua seiva”.

O magnetismo dessas terras tem sido por milênios refúgio de diversas espécies. E ainda o é. Quando o sol começa a se pôr e pequenas nuvens vagueiam como espectros sobre a densidade tropical, os animais que habitam o parque – cerca de cinquenta em risco de extinção – deslocam-se sorrateiramente para preservar-se de olhares e presenças intrusas. Para protegê-los, recomenda-se aos visitantes que percorrem este Patrimônio Natural da Humanidade que respeitem seu habitat e imitem sua discrição, evitando, por exemplo, invadir o local com gritos ou diálogos altos.

Caminhar em meio ao silêncio ou à agitação e algazarra dos pássaros faz parte do charme. Não apenas pássaros acompanham os visitantes, também podem-se ouvir movimentos inquietantes nos arbustos; pode ser lobos, ou uma variedade de térmitas e tamanduás, pumas ou antas que “vagueiam no Parque, mas raramente aparecem”, tranquilizam os guias. Aqueles, em contrapartida, que não hesitam em se exibir são os macacos, com a clara intenção de obter alguma comida.

Das 312 espécies de aves identificadas na Chapada, pode-se ter a sorte de se deparar com emas, gaviões, condores reais, tucanos e papagaios em alguns trechos das trilhas de trekking de altitude.

O acesso ao parque está localizado ao lado da aldeia de São Jorge, no município de Alto Paraíso de Goiás, a 35 km de distância da cidade de Alto Paraíso. O acesso é por uma estrada parcialmente asfaltada. Recomenda-se entrar com o acompanhamento de guias credenciados.

O estoicismo das rochas milenares da Chapada é neutralizado por correntes de água que fluem das alturas como pinceladas e inspiram os artistas locais. O Vale da Lua é um dos pontos de visita imperdíveis. Localizado em uma propriedade privada perto do parque nacional, o acesso é feito após percorrer uma trilha ao longo da borda do Cânion de Raizama.

O Vale da Lua é uma formação rochosa única, onde as pedras claras foram talhadas ao longo dos milênios pelas águas do rio São Miguel, formando corredeiras, poços e caldeiras (depressões no solo devido a colapsos vulcânicos) criando um vale de crateras e elevações que parecem de outro planeta.

A espinha dorsal da parte central e norte do parque é o rio Preto. As dramáticas quedas d’água têm uma qualidade diferencial. Há quedas de cento e vinte metros de altura e algumas acima de oitenta. As cachoeiras, algumas mais quentes do que outras, banhadas por quedas d’água naturais são uma das atrações turísticas mais fascinantes.

Um conselho a ter em mente antes de decidir viajar para a região é definir a estação para fazê-lo. É essencial saber que a época de chuvas se estende de outubro a abril e a época seca de maio a setembro. Nos meses chuvosos, as quedas d’água têm mais água, são mais vistosas e faz mais calor para desfrutar das cachoeiras. Também é bom saber que se chover demais (de novembro a janeiro), há lugares, como as Loquinhas, que não podem ser visitados. As estradas de terra ficam então mais complicadas.

Os conhecedores afirmam que a melhor época para ir à Chapada são os primeiros meses secos (março, junho e julho): as paisagens continuam verdes e as quedas d’água costumam ser intensas, consequência da temporada de chuvas.

No caminho de volta do Vale da Lua até a cidade de Alto Paraíso, encontram-se outras atrações, como o Jardim de Maytrea, a postal mais famosa da região por sua beleza rara. É considerado um dos espaços mais místicos da Chapada. Há quem afirme ter visto um Portal Energético que leva a outras dimensões de tempo e espaço.

Dhyan é um ponto de meditação, localizado na pequena vila de Moinho, em Alto Paraíso. Imerso no verde da selva tropical, é um lugar propício para o encontro silencioso consigo mesmo, sem interferências externas ou celulares, para alcançar uma transformação profunda, em comunhão com a natureza.

Bhaskar, um dos fundadores de Dhyan, foi discípulo de Osho e Sri Amma Bhagavan; ele menciona algumas das temáticas abordadas em seus retiros. Um deles é chamado de Liberdade Incondicional. Trata do reconhecimento das prisões psicológicas a que nos submetemos e à busca por saídas criativas. “Concentramo-nos em um exercício de contemplação interna profunda, buscamos estar conscientes das opiniões, julgamentos e emoções que interferem em nossas experiências. O objetivo é estar atentos aos constantes movimentos da mente que definem, analisam, organizam a realidade, evitando que qualquer fato ocorra livremente, sem impor conclusões prévias, sem atribuir adjetivos ou nomes”.

Irina, instrutora de yoga, afirma que a sorte da Chapada mudou na década de 80, quando uma fotografia da Agência Espacial dos Estados Unidos mostrou que a região está apoiada em uma gigantesca placa subterrânea de cristal de quartzo. A essa revelação, junta-se o fato de que Alto Paraíso, coincide na mesma latitude com outro grande espaço místico: as ruínas de Machu Picchu.

Para concluir este itinerário energizante, a proposta é percorrer 90 quilômetros de Alto Paraíso a Cavalcante para conhecer o maior e mais antigo município da região norte da Chapada dos Veadeiros. Em Cavalcante, combina-se a beleza das águas mais claras da Chapada e sua história. Lá, a 27 quilômetros da cidade principal, é possível visitar a comunidade dos Kalunga, criada há mais de 300 anos por pessoas que não aceitavam o regime escravista da época e conseguiram escapar. Na língua Banto, de origem africana, Kalunga significa lugar sagrado, de proteção.

Com uma forte tradição na agricultura, os Kalunga confiam no conhecimento ancestral para realizar o plantio: seguem o ritmo natural, não usam pesticidas e praticam agricultura de subsistência em pequenos campos com menos de um hectare. Além disso, elaboram pratos à base dos vegetais orgânicos que produzem, como guisados tradicionais feitos à base de arroz, diversas verduras e mandioca, feitos em forno de barro.

Depois é preciso ir até a cachoeira de Santa Bárbara, a mais bela, com uma queda de 35 metros de altura, abraçada por rochas como colunas clássicas que parecem sustentar o céu que compete com as águas cálidas e turquesas onde se quer mergulhar ou se deixar embalar por uma ondulação serena, eterna.

Alex Barsa

Apaixonado por tecnologia, inovações e viagens. Compartilho minhas experiências, dicas e roteiros para ajudar na sua viagem. Junte-se a mim e prepare-se para se encantar com paisagens deslumbrantes, cultura vibrante e culinária deliciosa!