O povo que renasceu das cinzas e exporta cerejas para o mundo inteiro

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Em agosto de 1991, as cinzas chegaram à cidade e muitas famílias a abandonaram. Às 11 horas da noite de 8 de agosto de 1991, sentimos algo caindo. Pensamos que era chuva, mas saímos e não era… Então ouvimos explosões, porque o vento trazia o que expulsava”, recorda Jorge Seguel, morador e ex-vereador de Los Antiguos, sobre a erupção do vulcão que está a 114 quilômetros da cidade. “Não eram apenas cinzas, mas uma espécie de pedra-pomes triturada. O mais grosso caía mais perto, o mais fino chegou a Puerto San Julián, sobre o Atlântico”, comenta enquanto oferece cerejas em sua fazenda, onde as produz com sucesso. Los Antiguos foi sepultada pelas cinzas.

“Na manhã seguinte, levantamos cobertos por uma camada de material cinzento. Horrível! Às três da tarde chegou outra nuvem e assim ficamos durante quatro dias. Acumularam-se 17 centímetros de um material indescritível. Já não estava mais na prefeitura, mas me ofereci para ajudar e criamos uma comissão de emergência. Em três meses aramos todas as fazendas de Los Antiguos. Naquele ano não houve frutas e no seguinte apenas um pouco”, conta enquanto caminhamos por sua fazenda, entre cortinas de álamos bem juntinhos e perfeitos. Acrescenta que as cinzas eram inertes; foram estudadas e comprovou-se que não adicionaram nem subtraíram do solo.

Levantada junto ao lago Buenos Aires e à cordilheira dos Andes, Los Antiguos está a poucos passos do Chile, ao norte de Santa Cruz. Pode-se chegar de carro do aeroporto de Comodoro Rivadavia, o mais próximo, apesar de estar do outro lado, sobre o Oceano Atlântico. E então pegar a RN 3 até Caleta Olivia, depois a RP 12 até Pico Truncado e entrar pela RP 43, depois de fazer um trecho da RN 40. As cerejas de Los Antiguos são vendidas em todo o mundo e têm denominação de origem.

Com 4.600 habitantes, Los Antiguos tem uma rua central com um canteiro central de pinheiros e bandeiras rasgadas pelo vento, prefeitura e delegacia. Existem três mirantes bem distintos: Del Valle, o mais bonito e ventoso, com vista para as fazendas mais novas; Uendeunk, que significa “espírito bom”, em tehuelche, sobre o centro e ao lado da pousada Uendeunk, onde nos hospedamos; e Del Lago, no final da costa (que tem um monumento ao salmão), em uma praia onde se pescam trutas arco-íris e salmão do lago Buenos Aires, que é binacional. Do lado chileno é chamado de General Carrera e, com 1.850 km², é o maior de toda a Patagônia.

O embrião da cidade remonta à estância La Ascensión, que foi loteada na década de 1920. Desde o início foi uma colônia agrícola. Nasceu como forrageira e nos anos 80 virou cereja, que é a mais austral cultivada no mundo; portanto, a última a chegar ao mercado. A chegada do asfalto, há 20 anos, impulsionou o crescimento do negócio. Foi um golpe de sorte, depois daquele fatídico 1991, quando Los Antiguos ficou coberta pelas cinzas do vulcão chileno Hudson. Los Antiguos está a poucos minutos da fronteira com o Chile.

Motor produtivo da cidade, a cereja tem seu monumento na entrada da cidade. Existem barraquinhas que as vendem a granel na rua; além disso, é possível encontrar cerejas em uma pizza em Viel Glück, um lugar muito bom para comer na cidade. E várias fazendas modelo, como 6 Hermanas e La Querencia. Além de uma cooperativa, El Oasis, que Jorge Seguel montou e reúne os pequenos produtores de Los Antiguos. Na temporada, as cerejas de Los Antiguos estão por toda a cidade.

Nascido e criado no vale, Seguel tem 75 anos e é neto de um “sírio-libanês ou palestino, talvez”, chamado Ahmed Hassan Ahude, mas foi rebatizado de Jorge Seguel no porto de Buenos Aires. “Se perguntar pela fazenda do turco, te mandam para cá”, conta o homônimo daquele pioneiro que, na década de 1940, estabeleceu um hotel e um negócio de secos e molhados. Anos mais tarde, o pai de Seguel montou esta fazenda modesta que viu seu filho crescer, até que, movido pela necessidade econômica, aos 13 anos, foi trabalhar “no que desse”. Voltou nos anos 70, já transformado em pedreiro, e militou no peronismo. “Era muito idealista”, resume Seguel, que foi vereador da cidade. E oferece mais cerejas enormes e deliciosas, juntamente com morangos trazidos por um vizinho.

Conta que o ano de 1982 foi um ano decisivo: casou-se com Diana, sua companheira, e iniciou-se nas cerejas. “O precursor foi Sigman, um tabelião de Río Gallegos. Eu vi o potencial desde o início e as trabalhamos na fazenda até hoje, com meu irmão Ángel. Em 1988, montei a Cooperativa El Oasis, que foi fundamental. Era necessário coordenar embalagem e transporte”, relata Seguel e destaca o impulso dado por um empréstimo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) na década de 1990. Orgulhoso, conta que, juntamente com outras várias fazendas da região, exportam cerejas para a Espanha, Estônia, Emirados Árabes e Estados Unidos. Além disso, eles acabam de alcançar um marco. O Governo Nacional aprovou a denominação de origem desta fruta fina como “Cerezas de Los Antiguos- Patagônia”. Conquista fundamental para continuar valorizando-as.

Hosteria Tierra de los Antiguos. Situada em um local privilegiado, os 16 quartos têm vista para o lago Buenos Aires, muitos com varanda. O atendimento é caloroso e resolutivo. Bela decoração e espaços comuns funcionais. A partir de $110.000 a duplo com café da manhã. RP 43 s/n. T: (2974) 26-7808. IG: @tierradelosantiguosHosteria Mirador Uendeunk. Inaugurado pós-pandemia, recebe em 28 quartos. Há restaurante que abre à noite. A partir de R$70.000 o duplo com café da manhã. Mirador Uendeunk s/n. T: (2974) 17-0906. IG: @hosteria.mirador.uendeunk Hotel Uendeunk em Los Antiguos.

Os quartos do Hotel Tierra de los Antiguos são confortáveis.

Viel Glück. Destacam-se pelas hambúrgueres e pela cerveja artesanal, mas também têm pizzas muito boas de massa mãe – inclusive com cerejas – e pastéis fritos. Com tradição como cervejaria, são uma grande novidade em gastronomia. De segunda a quinta-feira das 19h às 24h; às sextas das 19h às 1h; sábado, das 16h às 1h; e domingo, das 16h às 24h. Av. San Martin Sur 96. T: (2974) 36-0719. IG: @vielgluck.laBuena Vista Parrilla. Salão amplo e assador à vista. Cortes clássicos muito bons. Consulte pelo cordeiro. As sobremesas são fartas. Todos os dias, das 12h às 24h. Héroes de Malvinas 368. T: (2974) 29-2081. IG: @buenavista.parrillaOficina de Turismo de Los Antiguos. Orientam eficazmente sobre atividades e prestadores. Todos os dias, das 8h às 20h. Lago Buenos Aires 59. T: (2976) 21-2055. IG: @losantiguosturismoChelenco Tours. Empresa líder em excursões pela região e arredores. Fundada e dirigida por Federico Djeordjian, que está atento aos gostos e necessidades dos visitantes. Coordena saídas para as Capillas de Mármol (no Chile), Parque Patagônia e a Cueva de las Manos, entre outros circuitos. Eles se destacam na RP 41, com almoço ou chá na estância El Álamo e um excelente piquenique de Mónica Cura. Av. 11 de Julio Este 584. T: (2975) 20-4598. IG: @chelencotoursChacra La Querencia. Fazenda modelo, agroecológica e pioneira na região, oferece visitas guiadas com lanche e sala de vendas de produtos Rubus, que são excelentes. Horários variáveis e com reserva. $3.000 a entrada; menores de 6 anos, grátis. Maca Tobiano y Emilio Avilez. T: (2974) 19-7603. IG: @laquerencia.chacraChacra 6 Hermanas. Líderes em exportação de cerejas, é um empreendimento familiar com sala de vendas. Ideal para comprar frutas finas de alta qualidade. Das 9h às 21h. Durante a colheita, visitas guiadas gratuitas. Zona de fazendas. T: (2976) 24-1452. IG: @chacra6hermanas.la

Alex Barsa

Apaixonado por tecnologia, inovações e viagens. Compartilho minhas experiências, dicas e roteiros para ajudar na sua viagem. Junte-se a mim e prepare-se para se encantar com paisagens deslumbrantes, cultura vibrante e culinária deliciosa!