A cúpula envidraçada do Pavilhão do Centenário se destaca atrás dos andaimes e da tela que cobrem grande parte de sua fachada. Na parte superior da cúpula, a esfera volta a ser visível depois que as esculturas femininas que a cercam foram reinstaladas. Desde a esquina de Bullrich e Cerviño, o edifício aparece cercado por estruturas metálicas, passarelas e chapas que delimitam o perímetro da obra. A cena atual é a de um monumento em plena restauração, encapsulado após décadas de abandono e deterioração.
O anúncio do leilão do terreno de quase 42.000 metros quadrados onde funciona o centro comercial Portal Palermo, com as filiais do Jumbo e Easy, voltou a colocar o pavilhão em destaque. A Agência de Administração de Bens do Estado informou que o leilão ocorrerá em 6 de outubro com o objetivo de otimizar o uso dos ativos públicos e gerar receitas fiscais para fortalecer as contas nacionais. O valor base estabelecido é de 109.200 milhões de pesos, equivalentes a mais de 81 milhões de dólares, de acordo com a avaliação realizada em agosto pelo Tribunal de Avaliações da Nação. A operação faz parte de um plano mais amplo de venda de imóveis do Estado considerados dispensáveis.
No entanto, o Pavilhão do Centenário, construído em 1910 para as comemorações da Revolução de Maio e declarado Monumento Histórico Nacional em 2010, não faz parte do terreno que será vendido. Tanto a AABE quanto a Comissão Nacional de Monumentos, Lugares e Bens Históricos confirmaram isso, estabelecendo diretrizes específicas de preservação para protegê-lo. O Exército Argentino, em diálogo com a imprensa, afirmou: “Está sendo trabalhado em um projeto que prevê a instalação de um centro de exposições do Exército, um espaço de comunicação que reflita a identidade institucional”.
A história recente do edifício mostra claramente o contraste entre o presente e o passado imediato. Durante anos, a fachada permaneceu deteriorada, coberta de umidade e com vegetação crescendo em suas bordas. No interior, a falta de manutenção e o vandalismo deixaram marcas profundas.
Em 13 de março de 2024, a imprensa pôde entrar no pavilhão e encontrou um cenário de abandono: paredes cobertas de pichações, restos de lixo acumulados nos cantos, pisos vencidos e a estrutura envidraçada danificada. O local, concebido como uma das joias arquitetônicas das celebrações do Centenário, havia se transformado em um casco deteriorado. Foi somente após a decisão da Suprema Corte em 2022 que a empresa concessionária, Cencosud, foi obrigada a iniciar as obras de recuperação que havia adiado por quase três décadas.
Seis meses após aquela primeira visita, em setembro de 2024, a aparência do pavilhão havia mudado consideravelmente. A fachada estava cercada por andaimes e fechada com chapas metálicas, coberta por redes de proteção que ocultavam parcialmente as paredes. O edifício não mostrava mais a imagem de abandono, mas sim a de uma obra em andamento. Naquele momento, os levantamentos históricos e os estudos estruturais haviam sido concluídos e a restauração entrara em sua segunda etapa, focada na adaptação patrimonial. Durante aquela visita, os arquitetos responsáveis explicaram as dificuldades que enfrentavam.
Em janeiro deste ano, as esculturas femininas do artista Julio Ricciardi retornaram a ocupar seu lugar ao redor da esfera da cúpula. A reposição desses elementos icônicos marcou um marco no processo de recuperação, que busca devolver ao pavilhão sua aparência original. O Exército, consultado novamente, assegurou: “O edifício permanecerá localizado dentro do terreno sob jurisdição do Exército, que assumirá a responsabilidade por sua conservação, manutenção e gestão funcional”.
O valor histórico do Pavilhão do Centenário é inseparável de suas origens. Foi projetado pelo arquiteto Virginio Colombo para a Exposição Internacional Ferroviária e de Transportes de 1910, organizada no contexto das comemorações dos 100 anos da Revolução de Maio. Era uma construção moderna para a época, que combinava ferro e vidro e recebeu uma medalha de ouro por sua qualidade arquitetônica. Dos mais de 30 pavilhões erguidos naquela ocasião, foi o único que permaneceu de pé.
O vínculo com a instituição militar foi constante ao longo do século XX. Após a exposição, o Exército voltou a ocupar o terreno e em 1927 começou a construção de novos quartéis que conviveram com o pavilhão, preservado por ter sido premiado em 1910. Sobre esse valor simbólico, a força afirmou: “O Exército Argentino, devido ao seu protagonismo nos primórdios de nossa Pátria e ao longo de seus 215 anos de existência, atribui um valor histórico e patrimonial muito alto. Indubitavelmente, este monumento representa materialmente a importância e transcendência que os festejos do 1º Centenário da Revolução de Maio significaram coincidindo com o 1º Centenário do Exército”.
Hoje, um ano e meio após a primeira visita, o edifício continua coberto por andaimes e protegido por redes e chapas, enquanto uma equipe de arquitetos, engenheiros, historiadores e conservadores avança na adequação estrutural e na valorização patrimonial. A legislação vigente estabelece que, uma vez concretizado o leilão do terreno adjacente, 65% da área deverá ser destinada a espaços verdes e de uso público, enquanto os 35% restantes poderão ser utilizados para desenvolvimentos urbanos mistos. O pavilhão, excluído da venda, terá que se integrar a esse novo ambiente. “Os projetos propostos para o Pavilhão foram concebidos com uma flexibilidade programática e conceitual que busca facilitar seu relacionamento com futuras intervenções no entorno”, explicaram fontes militares.
O destino final do prédio ainda não foi oficialmente definido. O Exército adiantou: “Estão sendo consideradas várias opções, principalmente para exposições de cunho histórico e cultural abertas ao público, tanto permanentes quanto temporárias”. Dessa forma, o projeto de torná-lo um espaço aberto à comunidade começa a ser delineado, embora sua concretização dependerá do avanço da restauração e da coordenação com os órgãos competentes.
Em relação ao leilão, a força reiterou que o pavilhão continuará sob sua jurisdição: “O edifício permanecerá localizado dentro do terreno sob jurisdição do Exército, que assumirá a responsabilidade por sua conservação, manutenção e gestão funcional”.
Da Cencosud, a empresa concessionária, também forneceu informações: “A restauração do Pavilhão do Centenário é uma responsabilidade que assumimos desde o início das obras, com o compromisso de devolver à cidade e ao país um monumento de enorme valor arquitetônico, histórico e cultural. Esta obra está em andamento conforme planejado e será concluída até o final. Uma vez finalizada, a definição do uso do Monumento dependerá do Ministério da Defesa”.
Sobre o estado da obra, a empresa acrescentou: “O projeto avança de forma consistente e conforme o planejado. A restauração consiste em duas fases, atualmente estamos na segunda fase e será realizada até o final”. Segundo explicaram, a primeira etapa incluiu o mapeamento histórico e documental, a limpeza e recondicionamento interno, a prospecção arqueológica e a instalação de andaimes e passarelas. “A segunda, chamada ‘Obra de Restauração’, está em andamento com a adaptação estrutural integral e a valorização patrimonial do edifício, com atenção especial às fachadas, coberturas, ornamentos e detalhes originais. Este processo está sendo desenvolvido em articulação com a Comissão Nacional de Monumentos e Bens Históricos, o Ministério da Defesa e o Exército Argentino”, destacaram.