Existem alguns personagens carismáticos e miseráveis que atraem nossa atenção mesmo que não queiramos. Por isso, é preferível que eles sejam abundantes na ficção do que fora dela.

Eliseo está de volta, o zelador mais conhecido de Buenos Aires, que manipulou socialmente o prédio em que trabalhava, cobrou comissões e virou proprietário. Agora, como um novo empresário que usa métodos questionáveis. Um homem que subiu na vida às custas dos outros. Um empreendedor, por assim dizer.

Alguns defendem que a ficção deve ser exemplar. No entanto, não acredito que uma obra precise condenar ou castigar seus anti-heróis ou vilões. Mesmo assim, dada a análise minuciosa da ficção nos dias de hoje, talvez seja importante mencionar isso.

Eu não torço por Eliseo como torcia por Dexter, Tony Soprano ou Walter White. Ao contrário, estou ansioso para vê-lo capturado. Mas não posso deixar de admirar a interpretação extraordinária de Guillermo Francella. Embora tenha me surpreendido ouvir suas declarações, onde ele afirma que seu personagem é empático.

Eliseo é um personagem fictício, no entanto, a produtora Gloriamundi, que co-produz a série, comprou dois prédios no meu bairro. Segundo o Sindicato de Inquilinas, eles utilizaram táticas agressivas para forçar os moradores a deixar seus lares. A ironia é evidente. Eliseo sem portaria. Qual veio primeiro, o ovo ou a galinha?

Frequentemente nos perguntamos como devemos interpretar a ficção, como se nossa visão fosse fundamental para decifrá-la, redimi-la ou condená-la. Raramente pensamos em como ela nos enxerga. Em “El encargado”, parece que a série nos observa com os mesmos olhos de Eliseo. Sorri por fora, mas por dentro pensa: “Que bando de idiotas”. O desfecho dirá.

(Texto original foi modificado para ser publicado no WordPress)