O restaurante sem glúten de El Calafate que é frequentado por turistas e moradores locais.

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A Zaina completou 18 anos no dia 24 de junho com uma grande fogueira de São João. Irma Saldía, a alma mater do lugar, aproveitou o aniversário para celebrar a recuperação do restaurante que fundou em 2006, mas que operou apenas até 2013, quando decidiu alugá-lo.

Nesta nova fase, ela renovou o jardim, poliu os pisos e mesas, decorou com fotos, cartas e documentos de sua família pioneira, e principalmente, deu uma nova cara ao menu que nesta temporada estreia sua versão 100% sem glúten executada pelo chef Guillermo Vergara.

Na Zaina há tártare e rillettes de guanaco, cordeiro, truta, massas e outras delícias patagônicas no único restaurante com uma proposta semelhante na província. Irma já vem pesquisando produtos sem glúten há alguns anos. De fato, patenteou o bolo Westerlund, uma espécie de bolo galês feito com farinha de arroz, maizena e fécula de mandioca. Ela deu o sobrenome de sua mãe Ester, que criou lá ao lado de Juan José “el Negro” Saldía, suas quatro filhas: Marta, Luisa, Ana e Irma.

A estrutura do salão que hoje recebe os comensais também tem sua história. Era um galpão que a família Pombo possuía em um terreno a cem metros dali, onde hoje está o hotel Quijote. Lá foi criada a zaina chamada Índia, uma égua de corrida que Irma recorda com carinho. Quando os Iacaruso, donos do hotel, quiseram ampliar, os Pombo mudaram o galpão usando troncos para movê-lo inteiro, como se fosse um trenó.

O salão é decorado com várias fotos históricas, dos tempos em que os Westerlund e os Saldía chegaram à região, no início do século passado. Em 1968, compraram o parador de La Leona. Na época, ainda não havia a ponte que cruzava o rio e lá funcionava a balsa. O hotel era utilizado pelos arrieiros que levavam suas ovelhas e eram surpreendidos à noite. O serviço da balsa operou até 1973/1974.

Ester ficou viúva em 1992 e ficou à frente do negócio com suas filhas mais novas, que tinham a proibição de se apaixonar pelos passageiros (que em geral não eram, segundo sua mãe, bons candidatos). De fato, havia um quarto que chamavam de “dos bêbados”, onde Ester levava os que caíam bêbados e, segundo a lenda, os amarrava na cama. E se algum chegava “sob ares”, ela os coagia a entregar “o brinquedo”; guardava a arma e só a devolvia quando estivessem prontos para partir.

Quando Ester envelheceu, Ana Saldía, que havia completado a universidade, assumiu a liderança de La Leona, resgatando grande parte da história familiar praticamente sozinha. Felizmente, nessa época, a maioria dos passageiros eram turistas estrangeiros bastante “comportados”.

Com o tempo, Irma se apaixonou por Javier, um cliente da primeira fase da Zaina que alugou o restaurante para celebrar seus 40 anos. Sua história teve um final feliz: ambos vivem em El Calafate com sua filha Antonia, que aprendeu a andar nos pisos de pinho da Zaina.

Muitas cartas, uma página do jornal La Verdad de Puerto San Julián de 1936, e até o sinal do Crush (com seus tiros inclusos) que ilustra essa nota vêm de La Leona e da fazenda dos avós dos Saldía.

A história é cíclica, e a Zaina celebra isso. Sem glúten, mas com muito sabor.

Alex Barsa

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