Gambrinus sempre foi um lugar convocante. Um clássico que se ganha seu lugar ao longo do tempo, sem anúncios chamativos ou campanhas de marketing. É como um sulco invisível que deixa o hábito na alma de uma cidade. O lugar ao qual se volta, o que conheceu na infância, onde os pais o levavam e para onde agora leva seus filhos. O que conserva seu aroma, seus garçons e seus tempos. Onde não é preciso olhar o cardápio porque eles já sabem o que você vai pedir. Onde você não se senta sozinho: você se senta com todas as suas versões passadas.
Gambrinus é isso para Bahía Blanca. Abriu suas portas em 2 de maio de 1890 e nunca mais as fechou. Foi mudando, é claro. Mudou de proprietários, de cardápio, de clientela. Mas manteve sua essência. Hoje, quase um século e meio depois, com algumas mudanças de endereço, ainda está em pé na Arribeños 174, desde a década de 30, como um farol discreto no meio do caos. Lá dentro, tudo acontece devagar.
Javier Ortega, terceira geração de sua família à frente do bar, sabe disso. Seu avô, Silvano Ortega, era um padeiro espanhol que se tornou um dos homens que moldaram a história do Gambrinus. Javier cresceu no bar, trabalhando desde os 15 anos. Conhece o negócio como ninguém e mantém a tradição que seu avô começou há décadas.
Em Gambrinus, há algo que resiste ao tempo e ao esquecimento. É uma vontade, um trabalho, uma convicção de manter viva a história do local. Todos são bem-vindos, desde os artistas famosos até os anônimos que se tornam parte do cenário emocional do lugar. O ethos do Gambrinus é simples: manter a essência, resistir a todas as mudanças e continuar sendo o mesmo que sempre foi.
Gambrinus é mais do que um simples bar. É um guardião de histórias profundas e humanas, um arquivo vivo de memórias e emoções. Por isso, talvez tenha se tornado um clássico sem querer. Apenas sendo o que é. Um lugar essencial na identidade de Bahía Blanca.