A sombra do Obelisco projetava-se sobre o asfalto e as calçadas onde, em um dia normal, no centro de Buenos Aires, haveria uma agitação vertiginosa de ônibus, táxis, carros particulares e pedestres. Parecia um domingo ou um feriado um pouco mais movimentado, mas não, era um dia útil marcado pela segunda greve geral desde que Javier Milei governa a Argentina. O protesto foi convocado para esta quinta-feira pelas principais centrais sindicais do país, identificadas com o peronismo e a esquerda, em repúdio à reforma trabalhista, ao desmonte do Estado e ao ajuste promovido pelo presidente ultradireitista. Os sindicatos comemoraram o impacto da greve em nível nacional e os porta-vozes do governo tentaram minimizá-lo, em um dia em que, aguardando dados oficiais, sustentaram versões discrepantes sobre a adesão à medida de força.
A oposição às medidas de Milei mantém unidas, apesar de suas diferenças históricas, as três grandes federações de trabalhadores do país, a Confederação Geral do Trabalho (CGT) e os dois ramos da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA), as organizações que convocaram a greve “em defesa da democracia, dos direitos trabalhistas e do salário digno”.
O peso da greve foi sentido, principalmente, no transporte e na administração pública. Trens e metrô não funcionaram. A maioria dos voos nacionais e internacionais foi cancelada ou reprogramada. Os ônibus urbanos e interurbanos circularam parcialmente em alguns casos, em outros não circularam.
A Cidade de Buenos Aires amanheceu fria e silenciosa, com um nível de atividade oscilante ao longo do dia. Muitos estabelecimentos comerciais permaneceram fechados, os bancos operaram apenas online, escolas funcionaram, mas os sindicatos de professores participaram da greve, e bares e restaurantes no centro da Capital estavam semivazios. Na região dos tribunais, a presença de juízes contrastava com a falta de funcionários e litigantes. A CGT celebrou a adesão à greve e seus dirigentes destacaram o sucesso da convocatória. No entanto, o governo optou por denegrir os sindicalistas e subestimar o alcance da greve.
Em suma, a greve afetou a rotina da cidade, com diversas categorias profissionais aderindo ao protesto e o governo minimizando o impacto da medida de força.