Quatro jogadoras de futebol argentinas renunciam à seleção porque não recebem nem a comida.

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A seleção feminina argentina, campeã do mundo em sua versão masculina, está sofrendo uma perda significativa de jogadoras. Quatro atletas, Lorena Benítez (25 anos), Julieta Cruz (27), Eliana Stábile (30) e Laurina Oliveros (30) – as três primeiras integrantes do elenco que participou da Copa do Mundo na Nova Zelândia e Austrália em 2023 -, renunciaram em sequência à equipe nacional durante esta semana. Isso expôs a face dupla da Associação de Futebol Argentino (AFA): ela multiplica os contratos milionários a partir de seu título no Catar em 2022, mas é apontada por não pagar diárias nem almoços às suas jogadoras.

Uma das figuras históricas da Albiceleste, Estefanía Banini, que já se aposentou da equipe nacional mas jogou no Atlético de Madrid na última temporada, apoiou a decisão de suas ex-companheiras e resumiu em dois conceitos: “maus tratos” e “muitas diferenças”.

Se o futebol feminino se tornou sinônimo de lutas que vão além do campo de jogo, como as bandeiras levantadas por Jenni Hermoso na Espanha, Megan Rapinoe nos Estados Unidos e Marta no Brasil, na Argentina não é exceção. As compatriotas de Lionel Messi nunca calaram seus protestos às autoridades, seja no âmbito local – o torneio foi semi-profissionalizado em 2019, mas atualmente apenas um clube, o Boca Juniors, fez contratos profissionais para todas as jogadoras de seu elenco- e no cenário internacional, com observações constantes ao trabalho diário na seleção.

“Estamos carregando muitas coisas ao longo desses anos representando nosso país. Muitas companheiras se foram pelas mesmas razões, por sentir tristeza e não alegria toda vez que precisam estar lá”, contextualizou Benítez, uma das quatro jogadoras que renunciaram – todas do Boca Juniors -, em relação a decisões semelhantes que suas companheiras tomaram nos últimos anos.

Para os Jogos Pan-Americanos de Lima em 2019, por exemplo, Florencia Bonsegundo recusou a convocação após o treinador Carlos Borrello ter afastado várias referências, incluindo Banini, Belén Potassa, Ruth Bravo e Gabriel Gartón, que haviam expressado sua insatisfação com o treinador. “Já são 180.000 jogadoras retiradas da seleção”, publicou recentemente a ex-jogadora Macarena Sánchez, uma figura fundamental para a profissionalização do futebol feminino na Argentina, que ainda vive entre avanços e pendências constantes.

“Foi uma decisão pessoal, por vários motivos muito tristes que venho enfrentando com a seleção”, postou Benítez na segunda-feira, que afirmou que a AFA não forneceu “café da manhã nem almoço” para as jogadoras da seleção feminina nos treinamentos da semana passada. Na verdade, explicou, as jogadoras receberam “um sanduíche de presunto e queijo e uma banana”. Diante da reclamação sobre um cardápio tão distante da nutrição adequada para atletas de alto rendimento, a resposta dos dirigentes da AFA, segundo Benítez, incluiu uma das frases marcantes do presidente Javier Milei: “Não há dinheiro.”

Benítez acrescentou: “Outro motivo foi saber que as diárias que normalmente recebemos para a data FIFA não seriam pagas, já que os jogos serão disputados em Buenos Aires (nos jogos contra a Costa Rica, nesta sexta-feira e na próxima segunda-feira). Mas às nossas famílias cobrarão 5.000 pesos pela entrada no estádio (cerca de cinco dólares). E assim por diante, muitas coisas que passamos. Decidi não continuar fazendo parte do retrocesso”.

Cruz, defensora, falou sobre humilhação em sua postagem de despedida: “Chega um momento em que as injustiças o cansam, é cansativo não ser valorizada, não ser ouvida e, pior ainda, ser humilhada. Espero que as gerações futuras não passem por isso e possam finalmente desfrutar da Seleção. Desejo tudo de bom a elas”. Stábile seguiu a mesma linha: “Já cansadas há muito tempo da falta de interesse pelo futebol feminino. Só queremos ser valorizadas.”

Diante da enxurrada de renúncias, Banini, uma voz autorizada, disse ao jornal esportivo “Olé” de Madrid: “Sinto tristeza porque estamos revivendo o que vivemos há alguns anos. Há pessoas que ainda não entendem que não estamos renunciando à seleção, estamos renunciando aos maus tratos, a muitas diferenças. Não estamos pedindo o mesmo que os jogadores masculinos. Na Copa do Mundo (Nova Zelândia-Austrália 2023) fomos quase um mês e não fomos pagas. Fomos lá de graça.”

Alex Barsa

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