Todos os cenários que envolvem os clássicos apareceram no Nuevo Gasómetro: gols, polêmicas, mudanças de rumo no desenvolvimento e no resultado, múltiplas situações frente aos arcos… E um alívio gigante para o San Lorenzo, uma vitória que premiou o esforço e a busca incansável do Ciclón. Um afago para a fé de seu capitão Braida, autor de gols, assim como para o jovem Peralta, que descobriu a luz para impulsionar o Ciclón ao topo da Zona B do torneio de Abertura. Uma vitória agônica por 3-2 para quebrar o feitiço de dez anos sem vencer o Racing em sua própria casa, uma equipe que vinha envolvida em celebrações pela conquista da Recopa Sul-Americana.
O jogo começou com a mesma jogada, mas com dois resultados diferentes: escanteio de Reali, a cabeçada do colombiano Romaña, o rebote de Cambeses e a definição para a abertura do placar por Braida; o mesmo cobrador na bola parada, o antecipação de Cuello – movimento idêntico ao que realizou contra o defensor azulgrana – e o goleiro que frustrou o segundo gol. O Ciclón foi um furacão na primeira meia hora do primeiro tempo, uma equipe que propôs e não esperou, que arrasou com intensidade um rival que apresentava uma formação alternativa. Com seis chances de perigo, o Ciclón mostrou concentração para ocupar os espaços, inteligência para estar adiantado na jogada e ambição por essa vitória que o colocaria no topo, ao lado do Rosario Central, aguardando o término do jogo do Independiente, que empata com o Banfield.
Racing é uma equipe com uma aura singular nos tempos atuais, que estava prestes a ser derrotada, mas que encontrou na primeira situação perigosa que criou a chave do gol para mudar o cenário: um erro de Ezequiel Herrera, o espaço explorado para criar uma jogada coletiva que teve precisão para movimentar a bola e uma finalização espetacular de Mura. E essa ação alterou o resto do jogo: o San Lorenzo, que dominava, ficou atordoado e passou a ser dominado. Ficou cheio de dúvidas e a torcida escondeu o sorriso para mostrar murmúrios e reclamações diante de uma equipe astuta que cheira sangue, ataca e é impiedosa, independentemente dos intérpretes.
Os tropeços contra o Tigre e o Argentinos reduziram a margem de erro do Racing e outro deslize significava continuar fora do corte dos oito primeiros da zona. A aposta em uma equipe alternativa quase saiu como o esperado. Cambeses foi envolto na aura de Arias e respondeu, Balboa resolveu com a eficácia de Maravilla Martínez e a Academia reverteu o placar para alimentar suas esperanças. Mas o clássico carecia de emoções, como um possível pênalti – de Romaña sobre Zaracho – que nem o árbitro nem o VAR consideraram.
Para o Ciclón, o retorno ao Nuevo Gasómetro e o reencontro com o público após derrota no clássico contra o Huracán era uma demonstração de confiança. A equipe mantém o crédito apesar desse tropeço que sempre dói, apesar da diferença no histórico. A obrigação de manter o invencibilidade no Bajo Flores era uma ferramenta que costuma fortalecer as equipes de Russo: foi o argumento com o qual ensaiou uma arrancada valiosa com o Central, garantiu uma classificação agônica e mais tarde se consagrou na Copa da Liga de 2023. O relógio seguia avançando e a missão estava se evaporando, além de carregar um peso: uma derrota para o Racing o deixaria com um saldo negativo nos clássicos do torneio – empatou com o River – mas ressaltou o espírito de uma equipe que enfrenta complexidades fora de campo, entre dívidas e agitações políticas.