Passamos pelo hall do Aeroporto Internacional de Hewanorra, e Carmelita, a pessoa que deveria nos buscar, não está lá. São nove horas da noite e está chovendo. A terminal aérea fica em Vieux Fort, uma cidade no extremo sul desta ilha de 43 km de comprimento e 22 km de largura. Nosso alojamento está no noroeste –a outra ponta–, em Rodney Bay. A viagem até lá, de quase duas horas, tem um preço fixo: 90 dólares. Quatro taxistas percebem nossa preocupação e se aproximam para perguntar o que está acontecendo, para onde estamos indo, de onde viemos. Com relutância, murmuramos o destino e esclarecemos que estamos esperando alguém.
Não temos internet nos telefones para ler o e-mail de confirmação da transferência. Um dos taxistas, Alvin, percebe e compartilha seu wifi comigo. Não há novo e-mail. Não tenho o telefone de Carmelita. Os minutos passam e não há mais ninguém no hall, exceto nós com as malas, os taxistas e a umidade da chuva tropical. Não sabemos o que fazer. Alvin me pergunta o nome da pessoa que deveria nos buscar.
Em St. Lucia (pronuncia-se sent lusha), vivem 170.000 pessoas e, por coincidência, Alvin conhece Carmelita. Mas ele só tem o telefone dela no trabalho, onde não a encontra; então ele corre até o carro sob a chuva, procura no guia telefônico e consegue localizá-la em casa. Alvin coloca o viva-voz: Carmelita chora, se desculpa; acabara de sofrer uma queda severa, não tinha como nos avisar. Ela então pede a Alvin que nos leve, que ela pagará a viagem e que pede mil desculpas. Alvin se revela um guia turístico simpático e competente no trajeto noturno de sul a norte pela única estrada principal que dá a volta inteira na ilha. Ele também mostra interesse pela política argentina; ele sabe sobre nossa atualidade e sobre a guerra das Malvinas.
Enquanto atravessamos uma floresta chuvosa, ele conta que durante 150 anos a ilha sofreu 14 ocupações: foi sete vezes francesa e sete vezes britânica, por isso era chamada de Helena das Índias. E que os britânicos a conquistaram definitivamente em 1814; mas apesar do idioma oficial ser o inglês e de se dirigirem pelo lado esquerdo, a influência francesa é muito forte: as antigas vilas de Soufriere e Gros Islet são pontos turísticos, e além disso, todos falam patois, a língua crioula. Ao passar por Castries, a capital, ele se enche de orgulho. “Temos dois prêmios Nobel: o poeta Derek Walcott ganhou o de Literatura em 1992, e William Arthur Lewis, o de Economia, em 1979”.
Mais adiante, ele acrescenta que o açúcar, a banana e o turismo são as principais fontes de renda em St. Lucia. Ao chegarmos ao destino, ele diz que temos muita sorte, que chegamos bem a tempo para o Dia Creole, que é comemorado uma vez por ano nas áreas “francesas” e principalmente em Gros Islet, muito perto de Rodney Bay. “Não percam, é no domingo, vão cedo, cuidado com as câmeras fotográficas”, ele nos alerta. Logo descobriremos que os nativos de St. Lucia são todos como Alvin.
O recepcionista de um hotel, o aluguel de guarda-sóis na praia, o chef de um restaurante, as rainhas da festa creole, o pescador. Todos se aproximam, se apresentam, perguntam seu nome, olham nos olhos, sabem coisas sobre a Argentina, se envolvem. Parece que o interesse em fornecer informações suculentas sobre sua ilha não é mais do que satisfazer uma necessidade inata de comunicação. A recepção em St. Lucia, a ilha escolhida pela Travel&Leisure como um dos 20 melhores lugares do mundo para passar o Natal, não foi pura sorte.
Fomos sortudas ao escolher ficar em Rodney Bay, na parte norte da costa caribenha: tem a praia mais bonita, é um polo gastronômico-hoteleiro, local de compras e centro da vida noturna. Sua popular Reduit Beach consiste em três quilômetros de areia fina e mar translúcido, em uma bela baía enquadra..