se complica: um elenco dividido, dirigentes que questionam o treinador e um futuro incerto pelas eleições.

  • Tempo de leitura:6 minutos de leitura

Ouvir
Justamente o dia em que Racing tinha para anunciar uma boa notícia, tremeu ao ritmo de uma crise, como há muito tempo não acontecia. Durante uma conferência de imprensa em que foi informado o retorno ao clube de Luciano Vietto –30 anos, artilheiro do Mundial de Clubes 2022, com passagens por Villarreal, Valencia e Atlético de Madrid– o presidente Víctor Blanco contou que teve “uma reunião especial com Costas porque não tivemos um bom resultado”. A frase de Blanco, somada ao ruído midiático gerado pelas declarações do goleiro Gabriel Arias após a derrota em Tucumán e a resposta via Instagram de Roger Martínez, acabou por instalar um clima ruim que durou quase 48 horas. No dia 5 de abril de 2014, há mais de uma década, casualmente foi Vietto quem marcou o gol para que o Racing vencesse por 1 a 0 o Vélez em Liniers depois de 12 anos. O Fortín era líder do torneio. A Academia, dirigida por Merlo, tentava se afastar de um possível rebaixamento que começava a se aproximar no horizonte. O então jovem definiu aos 46 minutos do segundo tempo, após uma assistência de calcanhar de Luciano Aued, ainda resistido naquela época. Pelo contexto, um grupo de sócios tomou esse gol de Vietto como o pontapé inicial para fundar #Racingpositivo, uma corrente que buscava mudar certo paradigma autodestrutivo do clube, que parecia ter um ímã para os infortúnios. Aquela iniciativa que acabou sendo reconhecida como arquiteta do título de 2014 e a subsequente estabilidade econômica, diretiva e esportiva da Academia, teve uma semente prévia: o gol de Vietto, na noite do calcanhar de Aued.

Racing apresentou oficialmente Luciano Vietto
Justamente no retorno do cordobês, Racing voltou a viver dias de autodestruição. Apesar de manter as contas em ordem e competir internacionalmente há uma década, o maior orgulho de Blanco em sua gestão é que “Racing não aparece mais na mídia por problemas ou dívidas”. Isso não aconteceu nas últimas 48 horas. Após a derrota por 1 a 0 para o Atlético Tucumán, o goleiro Gabriel Arias disse: “Eles foram mais intensos e correram mais do que nós. Não podemos depender da paciência. Deixamos passar chances, então é muito difícil conquistar coisas”. Costas seguiu na mesma linha: “Perdemos aquela vontade e intensidade de ir atrás da bola de qualquer maneira, como se fosse a última”. Roger Martínez respondeu ao goleiro pelas redes sociais, que viajou para o Chile para se juntar à La Roja: “Confio em cada um dos meus companheiros que sempre dão tudo por esta camiseta e por este time. O grupo é muito mais do que cada um. Vamos, Racing”. Quando tudo era ilusão: o retorno de Gustavo Costas, aqui com Víctor Blanco, presidente da Academia.

Desde que o campeonato foi reiniciado após a pausa pela Copa América, Racing acumulou três vitórias (Godoy Cruz, Unión, Newell’s), dois empates (Huracán, Independiente) e três derrotas (Sarmiento, Gimnasia e Atlético Tucumán). Esses números não parecem suficientes para gerar uma crise, apesar das várias oportunidades desperdiçadas de assumir a ponta e de não ter conseguido vencer o clássico contra o Independiente, apesar de jogar mais de uma hora com um homem a mais. O que aconteceu entre terça e quarta-feira é a crônica de uma crise anunciada, que tem a ver com a desconfiança entre o presidente Blanco e o técnico Costas. Fernando Gago renunciou ao cargo de treinador da Academia em 30 de setembro. O candidato natural, pelos nomes disponíveis, era o homem que foi capitão da equipe nas décadas de 1980 e 1990. O presidente não se convenceu. Apesar de buscar outras opções, que até incluíram um interino com Sebastián Grazzini e Ezequiel Videla, Costas realizou seu sonho de voltar a ser o treinador do Racing. O clássico deixou um saldo negativo: o Racing, com um jogador a mais por quase toda a partida, não conseguiu vencer o Independiente.

Essa convivência forçada esteve prestes a ruir. Mas o treinador sente que está a cinco passos de se tornar campeão com o Racing em um torneio internacional, algo que o clube não consegue desde 1988, e não vai abrir mão dessa ilusão. Do lado dirigente, Blanco não foi convencido a pedir a um símbolo do clube que desse um passo para o lado. Alguns dirigentes consideravam que era hora de fazer uma jogada semelhante à que o River fez com a saída de Martín Demichelis e a chegada de Marcelo Gallardo, o que renovou o clima para ir em busca da Copa Libertadores. O nome forte que poderia suceder Costas nunca apareceu. Eduardo Coudet está na Espanha, aguardando uma oferta, e não pretende voltar à Argentina. A opção B que alguns dirigentes sugeriram era a de Antonio Mohamed, que foi campeão com o Independiente na Sul-Americana. Passado o meio-dia, Blanco e Costas voltaram à posição de convivência que sustentavam até domingo. E assim será, pelo menos, até a série de quartas de final contra o Athletico Paranaense. Um desafio para o qual Vietto não estará presente, pois após ser apresentado viajou para a Espanha para acompanhar o nascimento de seu filho, com data marcada para o final do mês.

Diego Milito anunciou que se candidatará nas eleições de final de ano na Academia.

Estas 48 horas de tensão foram talvez o primeiro sinal da temperatura eleitoral que começa a subir na metade celeste e branca de Avellaneda. O anúncio de Diego Milito de que será candidato na eleição de final de ano é talvez o maior desafio político nestes onze anos de condução para Blanco, que havia alcançado a centralidade das decisões no Racing.

Alex Barsa

Apaixonado por tecnologia, inovações e viagens. Compartilho minhas experiências, dicas e roteiros para ajudar na sua viagem. Junte-se a mim e prepare-se para se encantar com paisagens deslumbrantes, cultura vibrante e culinária deliciosa!