Um homem encontrou uma caixa abandonada na rua ao lado de um contêiner e descobriu quase 200 fotos em preto e branco de séculos passados em seu interior. Corpos fracos, cabanas fumegantes, crianças descalças, trabalhadores à sombra das árvores. Um século atrás, alguém se deu ao trabalho de fotografar a vida dura e selvagem da região de Santiago del Estero; um século depois, outro individuo as resgata do lixo e as valoriza. No sul da Patagônia, um bisneto descobre um álbum de família com registros inéditos da construção da ferrovia. De Suíça, uma família conserva os negativos originais de um dos primeiros fotógrafos argentinos. Em Bariloche, uma antiga casa de madeira guarda a memória de um explorador silencioso que mapeava a região quando a cordilheira era um mistério.

Essas são apenas algumas das joias que reluzem no Arquivo Visual Argentino, um projeto liderado pelo escritor e historiador Juan Pablo Baliña. Uma iniciativa nascida no Instagram que já acumula mais de 10 mil fotografias. Um arquivo coletivo, disperso, colaborativo, que busca resgatar o que muitas vezes acaba incinerado, úmido, quebrado ou esquecido entre os escombros.

Baliña conta que durante anos trabalhou para arquivos da Argentina e do exterior, e que ficava com muito material que não era seu, mas sim de todos. Ele percebeu então que o maior fundo documental da Argentina não está em museus ou bibliotecas, mas sim nas casas. Nos álbuns de família. Em caixas em cima do armário.

O Arquivo Visual Argentino propõe uma nova maneira de pensar o passado: menos vertical, menos acadêmica, mais afetiva. Aqui não se trata de narrar a história de cima para baixo, mas de habitá-la por dentro. E nessa reconstrução, o que prevalece está longe da nostalgia e mais perto de uma fé inesperada: a certeza de que vale a pena lembrar, porque lembrar também é cuidar.