Uma “mancha de hidrocarbonetos” perto do glaciar Perito Moreno alerta a Argentina.

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O glaciar Perito Moreno é uma das joias naturais da Argentina. Com seus 250 quilômetros quadrados de gelo branco e azul cristalino, atraiu mais de 700.000 pessoas em 2023 para o Parque Nacional Los Glaciares, no extremo sul do continente sul-americano. Os visitantes podem admirar de frente a imponente parede de gelo de 60 metros de altura. Além disso, é possível contratar um passeio para ver o glaciar mais famoso da Argentina desde a água e até mesmo caminhar sobre ele. O impacto do turismo em um ecossistema tão protegido sempre foi motivo de preocupação, mas a ameaça causada por uma mancha de mais de 15 quilômetros nas águas do lago que banha o glaciar tem alertado os moradores, guias turísticos e autoridades.

O lago Argentino é o maior da Patagônia argentina e suas águas são cristalinas e profundas. A primeira sinal de alarme foi dada por um guarda-parque em 11 de abril. Ele alertou que no braço Rico havia um reflexo anômalo na água que parecia indicar a presença de algum tipo de resíduo. Um dos guias locais que também viu descreveu para o jornal Clarín como “uma mancha de hidrocarbonetos, provavelmente algum derramamento causado pelas embarcações que cruzam o lago”.

Naquela área está o cais da empresa de turismo Hielo y Aventura e em frente, o hotel Los Notros, em obras de remodelação. Apesar do risco de contaminação, as autoridades demoraram uma semana para reagir. A primeira inspeção visual foi ordenada em 19 de abril e foi feita em condições meteorológicas tão adversas que foi incompleta. Dez dias depois, em 22 de abril, uma segunda sinal de alarme foi dada: dois guarda-parques que estavam como turistas na área “viram que do motor de popa de uma embarcação saía fuligem”, indicaram a partir de Parques Nacionales.

Nesse momento, a Prefeitura Naval – responsável pela segurança nos rios, lagos e águas costeiras da Argentina – foi avisada e obrigou a empresa a deixar o barco amarrado. Após levantar um ato de infração, uma denúncia criminal foi apresentada para que a justiça investigue se cometeu crime ambiental.

A resposta lenta aumentou o impacto do vazamento. Também fez com que os guias da província patagônica de Santa Cruz, onde está localizado o Glaciar Perito Moreno, pedissem explicações à direção do parque. “Vimos fotos e vídeos de guias e turistas da embarcação Alacalufe, de propriedade da Hielo y Aventura, despejando um líquido negro nas águas do Lago Argentino – Brazo Rico”, denunciaram duas associações de guias em uma carta. “Manchas desse líquido, com mais de 15 quilômetros, podem ser vistas em fotos de satélite flutuando do Glaciar Perito Moreno à deriva em direção ao Brazo Sur”, alertaram. Os guias criticaram que o barco não foi imediatamente parado após o primeiro aviso e que continuou em funcionamento por vários dias, sem parar de derramar o líquido no lago.

Uma semana após o envio do pedido de esclarecimentos, os guias ainda não receberam resposta. Ficam pendentes questões como qual foi o elemento contaminante despejado pela embarcação, por que ocorreu, que protocolos existem para evitar derramamentos acidentais e que medidas serão tomadas para reparar qualquer dano ambiental causado.

A principal hipótese das autoridades é que se trata de algum resíduo do motor, embora não descartem que possa ser resíduos de outro tipo. Os resultados das análises da água, que serão conhecidos nos próximos dias, serão determinantes para esclarecer o ocorrido.

A empresa denunciada, Hielo y Aventura, não retornou as ligações nem os e-mails do EL PAÍS para dar sua versão.

Parques Nacionales acredita que o dano ambiental causado é menor – “Vamos esclarecer que não foi um derramamento de petróleo, não há animais banhados em petróleo nem costas manchadas” – mas entendem a grande repercussão do ocorrido devido à importância do Perito Moreno como Patrimônio Mundial da Unesco e à “exposição midiática que tem” dada a grande afluência de turistas.

Este glaciar, o mais famoso dos 49 que compõem o campo de gelo sul, já havia sido motivo de preocupação alguns meses antes, quando os cientistas avisaram que sua massa estava começando a mostrar sinais de recuo. Desde 2020 até o final do ano passado, ele perdeu 700 metros de gelo.

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Alex Barsa

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